O Arrebol Espírita

quarta-feira, 26 de março de 2014

O DESTINO DADO AO CADÁVER



A Trajetória Evolutiva do Espírito
Djalma Motta Argollo

O Destino dado ao Cadáver


Muitos temos o habito de afirmar que o cadáver dos nossos mortos são meras "roupas sem valor", não
importando, portanto, o destino que sê-lhes venha a dar. Infelizmente o assunto não é tão simples assim.
Os animais irracionais não têm a menor preocupação com o cadáver dos seus iguais. Simplesmente os abandonam ao relento para que se decomponha, ou sirva de alimento para outros, quando eles mesmos não o devoram.
Quando o homem mal se diferenciava dos seus irmãos da floresta, no que tange a razão, agia, sem qualquer sombra de duvida, da mesma forma. o que veio a mudar o comportamento do primitivo foi, naturalmente, a "descoberta do Espírito", consequência da "primeira RM" do Pleistoceno. O corpo passou a ser entendido como instrumento da alma, merecendo, portanto, toda reverencia e carinho, quando esta se liberava.
Alguns grupos desenvolveram a ideia que cadáver guardaria as virtudes do morto, surgindo assim o canibalismo ritual. A descoberta de sepulturas pré-históricas onde os crânios tinham o buraco occipital alargado, sugerem que o foram para que o cérebro fosse retirado, servindo de "alimento mágico", pelo qual se absorvíamos valores e conhecimentos do defunto. Os inimigos aprisionados e mortos tinham seus corpos devorados, como ainda era costume entre os nosso índios no século XVI, pela mesma razão, adquirindo os que deles se alimentavam a bravura e coragem que houvessem demonstrado em vida.
Quando os despojos físicos começaram a ser sepultados, as formas de fazê-lo apresentam grandes variações. Alguns esqueletos mostravam sinais de que foram privados da carne previamente, pois os ossos passaram por um processo de manipulação, sendo pintados e arrumados de forma padronizada. Outros foram enterrados com os membros amarrados e, algumas vezes, de ponta cabeça, dando a entender que se procurava evitar que o morto voltasse para prejudicar os vivos.
Umgrande numero de sepulcros pré-históricos contem armas e alimentos, numa clara demonstração de que o grupo social do qual o defunto fez parte tinha conhecimento de que a vida no Além tem cara características semelhantes a do nosso plano.
O costume de se preparar o cadáver atingiu o Máximo de sofisticação no Egito, quando passou a ser embalsamado, para que o Espírito continuasse "vivo", e pudesse retornar a existência, numa ressurreição futura. Igualmente, as sepulturas egípcias guardam alimento, roupas, joias, moveis, utensílios variados, jogos, armas, comidas figuras de barro representando servos, para servirem ao desencarnado. Os Citas eram mais radicais. Enterravam reis e aristocratas com seus pertences e os próprios animais e servos, os quais eram sacrificados e fixados com estacas, formando um cortejo imponente, enquanto lúgubre.
Os persas optaram por expor seus defuntos no alto de torres, para que fossem devorados pelos abutres e outras aves carnívoras. Já os hebreus preferiam sepultar os mortos, depois de lhe dar em um tratamento com perfumes e unguentos, envolvendo-os em lençóis de linho e, ao tempo de Jesus, com moedas de ínfimo valor postas sobre os olhos. O sepultamento se fazia no solo ou em sepulcros escavados nas rochas ou construídos para esse fim.
Os romanos utilizavam, indistintamente,a cremação e o sepultamento. No primeiro caso, dava-se as cinzas o destino que a família quisesse, no segundo, utilizavam-se cemitérios, às vezes subterrâneos, conhecidos como Catacumbas, ou mausoléus construídos a beira das estradas.
Muitos habitantes da Índia até hoje dão preferência, também, a incineração dos seus mortos e, no caso de algumas das varias seitas que ali medram, se o morto é casado, a mulher é obrigada a ser queimada junto com o esposo, só que, neste caso, viva. Os Chefes de Estado hindus, desde Gandhi, veem envidando esforços para erradicar esse costume infeliz.
Nos dias atuais, coexistem diversas das formas citadas de sepultamento, inclusive das mais primitivas. No Ocidente, o sepultamento é uma forma normal de inumação, embora exista um grande número de pessoas que praticam e desejam a cremação dos defuntos, principalmente nos Estados Unidos da América.
Vejamos, a luz do que temos discutido até agora quanto a desencarnação, quais os reflexos da maneira de sepultar o cadáver sobre o Espírito que esta retornando à Pátria Espiritual.

Repercussão do Tratamento dado ao Cadáver sobre o Espírito

As leis brasileiras, como de resto as vigentes no hemisfério ocidental, estabelecem que o enterro dos restos mortais só pode acontecer após a morte ser atestada por um médico, com suas causas devidamente constatadas. Se houver suspeita quanto a "normalidade" da morte, departamentos especializados da policia, os Institutos Médicos legais em nosso caso, são chamados a se pronunciar, pelo exame fisiológico e químico do cadáver em geral, e de suas vísceras e órgão internos, em particular, para estabelecimento da "causa mortis".
Outro ponto, e que, de modo geral, fica estabelecido o mínimo de vinte e quatro horas entre o horário da morte e o sepultamento.
Como vimos mais acima, o Espírito não se desliga imediatamente do corpo, mas sofre um processo de separação lenta e gradual dos liames energéticos que unem o perispírito a todas as células do organismo. Dai, os problemas enfrentados pelo desencarne no período do "velório", pela irresponsabilidade, fruto da ignorância, de parentes e amigos.
Por não saber o que significa a morte, a maioria dos que estão em "processo de desencarnação" imaginam estar sendo vitima de terrível pesadelo. Isto já foi bastante ilustrado em casos citados acima.
Aferram-se ao desejo de retomar o corpo a todo transe, aumentando o mal-estar que já estão sofrendo, dificultando o desligamento dos laços fluídicos que os vinculam aos despojos. Por causa disto, bem como, pela percepção do que acontece no ambiente, as manipulações impostas ao corpo são "sentidas" como se ainda estivessem encarnados.
Nas situações em que o defunto e levado a passar por autopsia, imagine-se o horror e o sofrimento por ver o corpo ser retalhado de todas as formas, enquanto o Espírito se sente vivo, imaginando estar sendo vitima de um terrível engano. A "certeza ilusória" de que o corpo e o verdadeiro "eu", expresso até na forma de falar: "Eu tenho uma alma", é responsável por situações como esta. Quanto mais introjetado o sentimento errôneo de que é o corpo, maior dificuldade tem a alma em processo de desencarnação de reconhecer sua situação real.
As colocações acima nos levam a tecer algumas considerações a respeito dos transplantes. A doação de órgãos são feitas por vontade expressa do indivíduo antes de morrer, ou após sua morte, pelos parentes mais próximos. O ato de doar o cadáver para que suas partes possam ser utilizadas por outras pessoas, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida, ou prolonga-la, é, sem qualquer sombra de duvida, uma atitude de desprendimento. Todavia, se a doação parte do suposto de que "morreu, acabou", pode se transformar em fonte de sofrimento para o doador. Como no caso da autópsia, o Espírito despreparado face à realidade imortalista, vê-se repentinamente, sendo cortado, e seus órgãos retirados, para serem implantados em outrem. Como a retirada é feita quando se dá a "morte clinica", a separação entre corpo e perispírito não aconteceu, ainda, em plenitude, e o Espírito em estado de ignorância começa a imaginar que o estão "matando" e vive os horrores de ser "retalhado em vida", numa tortura inominável. O argumento de que o "ato caridoso da doação" faz com que o doador receba um tratamento especial dos Espíritos Superiores, para que não venha a passar pelos sofrimentos expostos, é altamente relativo. O problema não é de "boa intenção", mas da estrutura psicológica e condição moral do doador. Vimos que Otilia Gonçalves, apesar de espírita praticante, não pode ser atendida pela mentora espiritual, enquanto não ofereceu condições psíquicas para tanto. Imagine-se alguém que esteja bem distante das praticas espiritualizantes ... Portanto, que cada um medite bastante no que vai fazer, quando se predispuser a doar seus órgãos e, principalmente, os que não lhe pertencem ...
Atualmente, no Brasil, cresce o número daqueles que preferem, quando da morte, a cremação.
Emmanuel, com seu costumeiro bom- senso, aconselha que se espere um mínimo de setenta e duas horas para que a queima do cadáver seja efetivada. Naturalmente, o sábio mentor deve se basear em alguma estatística levantada pelos órgãos competentes de sua moradia espiritual. Esses estudos devem indicar que a media dos desencarnantes consegue se libertar do corpo nesse período de tempo. Isto, porem, não significa que a totalidade siga esse padrão. Os que não se enquadrem na categoria, como por exemplo os que morrem em desastre ou por suicídio, sofrerão as agruras de se sentirem queimados vivos, situação terrível, que poderia ter sido evitada.
O enterro comum também e motivo de inúmeros problemas, todavia, faculta que os Espíritos tenham um tempo normal para que os laços perispirituais se desatem de forma natural.
Mas, a ajuda mais eficaz que um desencarnante poderá receber, seja qual seja o destino que sê-lhe de ao cadáver, é a do esclarecimento sobre o significado do "morrer''' e, durante a desencarnação, envolvê-lo em vibrações de prece e amor, que permitirão aos Espíritos bons encontrarem facilidades para socorrer e amparar o que retorna ao mundo espiritual.



MORRER


CONCEITO - A problemática da morte é decorrência do desequilíbrio biológico e físico-químico essenciais à manutenção da vida. Fenômeno da transformação, mediante o qual se modificam as estruturas constitutivas dos corpos que sofrem ação da natureza química, física e microbiana determinante dos processos cadavéricos e abióticos, a morte é o veículo condutor encarregado de transferir a mecânica da vida de uma para outra vibração. No homem representa a libertação dos implementos orgânicos, facultando ao espírito, responsável pela aglutinação das moléculas constitutivas dos órgãos, a livre ação fora d a constrição restritiva do seu campo magnético.
Morrer, entretanto, não é consumir-se. Da mesma forma que a matéria se desorganiza sob um aspecto
para reassociar-se em outras manifestações, o espírito se ausenta de uma condição - a de encarnado -, para retornar à situação primeira de sua existência - despido do corpo material.
A vida carnal é decorrência da existência do princípio espiritual e a vida poderia existir no espírito sem
que houvesse aquela. Morrer ou desencarnar, porém, nem sempre pode ser considerado como libertar
-se. A perda do casulo celular somente liberta o espírito que estruturou o seu comportamento, quando no corpo, sem a dependência enlouquecedora deste. Os que se imantaram aos vigorosos condicionamentos materiais, utilizando a vestimenta física como veículo apenas para vaso de luxúria ou egoísmo, qual instrumento de gozo incessante ou do orgulho, na expressão de castelo de força e de paixões, ante a desencarnação prosseguem vinculados aos vapores entorpecentes das emanações cadavéricas em lamentável e demorado estado de perturbação, sitiados pelas visões torpes da destruição dos tecidos, sofrendo a voragem dos vibriões famélicos, enlouquecidos entre as paredes estreitas da paisagem sepulcral.
A vida começa a perecer desde o momento em que se agregam as células para a mecânica do viver.
Vida e morte, pois, são termos da mesma equação do existir.
Não morre aquele que aspira ao amor e sonha com o Ideal da Beleza, entregue ao cultivo da virtude, no exercício da retidão. Não se acaba aquele que se entrega à vida, pois que mediante cíclicas mudanças do tono vibratório o espírito se translada de corpo a corpo, de estágio a estágio evolutivo até alcançar a plenitude da vida na vitória estonteante da Imortalidade.
Enquanto os processos a bióticos são substituídos por novas atividades bioquímicas, o cadáver passando à fase da desintegração - autólise e putrefação -, o espírito que se educou para os labores de libertação encontra - se indene à participação do desconcertante fenômeno de transformação celular, não ocorrendo o mesmo com aqueles que transformaram o corpo em reduto de prazer ou catre de paixões de qualquer natureza.

***
Espírito: Joana de Ângelis
Médium: Divaldo Pereira Franco


O HOMEM NOVO


O Homem Novo
Jose Herculano Pires

Situação dos Espíritos perante a dissecação de seus cadáveres

Curioso episódio relatado pelo prof. Paul Gibier - Pancadas invisíveis contra o anatomista e um médium - Experiência mediúnica numa sala de anatomia.

Qual a situação dos espíritos que veem os seus corpos dissecados nas salas de anatomia? Anualmente, em certas escolas superiores, celebram - se cerimônias religiosas especiais, por intenção desses espíritos. Agora mesmo, os jornais noticiaram a celebração da chamada “Missa do Cadáver”, na Faculdade de Farmácia da Universidade de São Paulo. Poderia o Espiritismo dizer-nos alguma coisa a respeito do assunto, que naturalmente interessa a todos os espiritualistas?
O Livro dos Espíritos”, obra básica da doutrina, informa-nos quanto às mais variadas situações espirituais do homem, após a morte. No capítulo sexto da segunda parte do livro, Kardec inseriu, como item quarto, um Ensaio teórico sobre a sensação nos espíritos”. Que esclarece bem o problema. O espírito consciente do seu estado, mas ainda preso às sensações materiais, ligado ao corpo, é atingido pelo que fazem ao cadáver, embora não sinta mais as dores físicas da dissecação. Muitas vezes se revolta, se encoleriza. Por isso mesmo, antes dos trabalhos dessa natureza, professores e alunos deviam reunir-se em prece, em favor dos espíritos que ainda estiverem ligados aos corpos que vão ser dissecados.
As cerimônias religiosas posteriores são homenagens, quase sempre simbólicas, enquanto as preces e vibrações mentais anteriores constituiriam ajuda eficiente. Sabemos muito bem que isto ainda não é possível, no ambiente materialista em que vivemos. Sabemos também que muitos professores e alunos darão de ombro ao que estamos dizendo, por considerarem a nossa atitude puramente supersticiosa, sem nenhum fundamento cientifico. Entretanto assim não pensam os grandes cientistas que se interessaram pelas experiências espíritas.
E alguns deles, como o prof. Paul Gibier, ex-internos dos hospitais de Paris, ajudante naturalista do Museu de Historia Natural, Oficial de Academia, podem fornecer-nos dados curiosos a respeito desse problema.
No seu ensaio de “fisiologia transcendente”, ou “ensaio sobre a ciência futura”, como ele mesmo o chamou, conta-nos o prof. Gibier o que lhe aconteceu, numa experiência psíquica realizada em sala de anatomia. O livro em que aparece esse relato tem o título de “Análise das Coisas”, lançado em tradução portuguesa pela Livraria da Federação Espírita Brasileira. Um dos mais lúcidos e belos
trabalhos, de ordem científica, sobre o Espiritismo, já publicados no mundo.
O prof. Gibier realiza sessões, quase diariamente, à noite, para observações sobre “a força anímica”, numa sala de laboratório próxima aos anfiteatros de dissecação da Escola Prática da Faculdade de Medicina de Paris.
Pouco antes da noite de uma das sessões, realizara estudos de cirurgia num cadáver, no laboratório. Durante os trabalhos, que deviam produzir fenômenos de materialização e efeitos físicos, conseguiu-se pouco. O médium se queixava de más influências, que tentavam dominá-lo. Ao se retirarem, -conta o prof. Gibier, - “em caminho, da rua Lhomond para a rua Claude Bernard, fomos repentinamente agredidos por uma saraivada de pancadas, que ouvíamos e sentíamos muito bem,e que alcançavam principalmente o médium”.
Uma semana depois, reuniram-se novamente, o prof. Gibier e seus amigos, com o médium, na mesma sala.
Mal entraram ali, começaram os fenômenos físicos, de natureza violenta. E logo depois o médium era
tomado” por um espírito vingativo, que tentou agredir o experimentador. Ainda inexperiente, o prof. Gibier chegou a travar luta com o médium. Quando se lembrou, porém, das instruções de uma pessoa “muito em dia com essas coisas”, tomou atitude diferente. Através de vibrações favoráveis e de passes, conseguiu que a entidade se retirasse, deixando o médium. Tratava-se do espírito do cadáver dissecado, que desejava vingar-se do que considerava uma profanação.
Esse exemplo, que nos é dado por um médico, um sábio, um investigador consciencioso e leal, mostra que não estamos falando de duendes ou fantasmas, e sim de princípios vitais, que não podem ser esquecidos por professores e alunos de medicina. Deixemos que o próprio. Gibier explique o que há de natural, de positivo, e não de imaginário ou supersticioso, neste problema. “A vida, tal como a observamos, - diz o mestre, - mostra -se no ponto de convergência de três princípios. Ou, se preferirdes: o Espírito animizou a Energia e organizou a Matéria, para fazer agir uma sobre a outra e dar vida ao ser.”
Em outras palavras, nos termos da doutrina espírita: o Espírito animiza o Perispírito, ou Corpo Espiritual, e este organiza o Corpo ou organismo material. Ao dissecar um cadáver, estamos lidando com uma parte do Ser, que, longe de se encontrar extinto, permanece em todo o seu poder energético e espiritual. Podemos fazê-lo em benefício da ciência, mas não devemos esquecer o respeito que nos merece a criatura espiritual a ele ligado.


***
Fonte:  Luiz Pessoa Guimarães – Vade Mecum Espírita
http://www.vademecumespirita.com.br

sexta-feira, 21 de março de 2014

ATO DE GRATIDÃO

Ato de Gratidão

A minha gratidão franca e profunda
É tudo o que te oferto, alma querida,
No doce regozijo que me inunda,
Por todo o amparo que me deste à vida.

Notaste a provação em meus caminhos
E estendeste-me as mãos ternas e generosas,
Como quem faz do chavascal de espinhos
Um tapete de rosas.

Nada olvidaste para o meu alento...
Seguindo a minha dor de cada dia,
Trouxeste, com grandeza, à penúria que enfrento,
Proteção e agasalho, assistência e alegria.

Enxugaste-me o pranto da tristeza,
Em tua própria fé que me avigora,
Recordando em minh’alma a luz acesa,
Quando a sombra se esvai ao contato da aurora.

Fizeste mais... Quiseste, junto a mim,
O júbilo constante em presença dourada,
Com carícias de fonte e encantos de jardim
Para quem me partilhe as fadigas da estrada.

A fim de renovar-me o pensamento imerso
No turbilhão de fel que tanta vez me alcança,
Falaste-me de amor, ante as Leis do Universo,
Elevando-me o ser às bênçãos da esperança.

Por tudo te agradeço, alma formosa e amiga,
Nos empeços e pedras que transponho,
Encontro em ti o apoio que me abriga,
A bondade em resposta às ânsias de meu sonho...

Mas acima de tudo, a ti me entrego,
Na extrema gratidão, por onde vou,
Porque entendes as lutas que carrego
E aceitaste-me a vida como eu sou.


***
Espírito: Maria Dolores
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminhos do Amor



APARÊNCIAS


Não julgues, nem recrimines
Irmãos que vês em festança,
Às vezes, quem grita e dança,
No auge da exaltação,
Tem no peito atormentado
Um vaso de fogo lento,
Argila de sofrimento
Em forma de coração.

Esse homem que se agita,
Em gestos de embriagado,
É um amigo abandonado
Pela esposa que o não quer...
Possui filhinhos chorosos,
Rogando a materna estima,
É um palhaço que lastima
A deserção da mulher.

Aquela jovem que passa,
Gingando, descontraída,
É quase pobre suicida
Pelas angústias que traz,
Quis ser livre sem trabalho,
Mas correu e caiu fundo,
Nos desencantos do mundo,
Entre os quais sofre sem paz.

Outro transporta consigo
Amarga doença oculta;
Em outro, o que mais avulta
É a roupagem de esplendor;
No entanto, o que mais sente
Nas explosões de alegria,
É a solidão que irradia
A triste fome de amor.

Nunca reproves. Respeita.
Eu também nos tempos idos,
Cantei, guardando gemidos,
Lamentando os erros meus!...
Às vezes, quem grita e ginga,
Tangendo guisos por fora,
Por dentro é alguém que chora
Buscando a bênção de Deus.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminhos

REENCARNAÇÃO


Portanto, se a tua mão ou o teu pé te escandalizar, corta-o e atira-o para longe de ti; melhor te é entrar na vida, coxo ou aleijado, do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.” – Jesus. (Mateus, 18:8.)
Unicamente a reencarnação esclarece as questões do ser, do sofrimento e do destino. Em muitas ocasiões, falou-nos Jesus de seus belos e sábios princípios.
Esta passagem de Mateus é sumamente expressiva.
É indispensável considerar que o Mestre se dirigia a uma sociedade estagnada, quase morta.
No concerto das lições divinas que recebe, o cristão, a rigor, apenas conhece, de fato, um gênero de morte, a que sobrevém à consciência culpada pelo desvio da Lei; e os contemporâneos do Cristo, na maioria, eram criaturas sem atividade espiritual edificante, de alma endurecida e coração paralítico. A expressão “melhor te é entrar na vida” representa solução fundamental. Acaso, não eram os ouvintes pessoas humanas? Referia-se, porém, o Senhor à existência contínua, à vida de sempre, dentro da qual todo espírito despertará para a sua gloriosa destinação de eternidade.
Na elevada simbologia de suas palavras, apresenta-nos Jesus o motivo determinante dos renascimentos dolorosos, em que observamos aleijados, cegos e paralíticos de berço, que pedem semelhantes provas como períodos de refazimento e regeneração indispensáveis à felicidade porvindoura.
Quanto à imagem do “fogo eterno”, inserta nas letras evangélicas, é recurso muito adequado à lição, porque, enquanto não se dispuser a criatura a viver com o Cristo, será impelida a fazê-lo, através de mil meios diferentes; se a rebeldia perdurar por infinidade de séculos, os processos purificadores permanecerão igualmente como o fogo material, que existirá na Terra enquanto seu concurso perdurar no tempo, como utilidade indispensável à vida física.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Verdade e Vida


O CRISTÃO E O MUNDO

Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.” – Jesus. (Marcos, 4:28.)
Ninguém julgue fácil a aquisição de um título referente à elevação espiritual. O Mestre recorreu sabiamente aos símbolos vivos da Natureza, favorecendo-nos a compreensão.
A erva está longe da espiga, como a espiga permanece distanciada dos grãos maduros.
Nesse capítulo, o mais forte adversário da alma que deseja seguir o Salvador, é o próprio mundo.
Quando o homem comum descansa nas vulgaridades e inutilidades da existência terrestre, ninguém lhe examina os passos. Suas atitudes não interessam a quem quer que seja. Todavia, em lhe surgindo no coração a erva tenra da fé retificadora, sua vida passa a constituir objeto de curiosidade para a multidão. Milhares de olhos, que o não viram quando desviado na ignorância e na indiferença, seguem-lhe, agora, os gestos mínimos com acentuada vigilância. O pobre aspirante ao título de discípulo do Senhor ainda não passa de folhagem promissora e já lhe reclamam espigas das obras celestes; conserva-se ainda longe da primeira penugem das asas espirituais e já se lhe exigem vôos supremos sobre as misérias humanas.
Muitos aprendizes desanimam e voltam para o lodo, onde os companheiros não os vejam.
Esquece-se o mundo de que essas almas ansiosas ainda se acham nas primeiras esperanças e, por isso mesmo, em disputas mais ásperas por rebentar o casulo das paixões inferiores na aspiração de subir; dentro da velha ignorância, que lhe é característica, a multidão só entende o homem na animalidade em que se compraz ou, então, se o companheiro pretende elevar-se, lhe exige, de pronto, credenciais positivas do céu, olvidando que ninguém pode trair o tempo ou enganar o espírito de seqüência da Natureza. Resta ao cristão cultivar seus propósitos sublimes e ouvir o Mestre: Primeiro a erva, depois a espiga e, por último, o grão cheio na espiga.


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Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Verdade e Vida



EM TORNO DO SEXO


Pergunta - O Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher, numa nova existência, e vice-versa?
Resposta - Sim, pois são os mesmos os Espíritos que animam os homens e as mulheres. Item nº 201 de "O livro dos espíritos". Ante os problemas do sexo, é forçoso lembrar que toda criatura traz os seus temas particulares, com referência ao assunto.
Atendendo à soma das qualidades adquiridas, na fieira das próprias reencarnações, o Espírito se revela, no Plano Físico, pelas tendências que registra nos recessos do ser, tipificando-se na condição de homem ou de mulher, conforme as tarefas que lhe cabe realizar. Além disso a individualidade, muitas vezes, independentemente dos sinais morfológicos, encerra em si extensa problemática, em se tratando de vinculações e inclinações de caráter múltiplo. Cada pessoa se distingue por determinadas peculiaridades no mundo emotivo. O sexo se define, desse modo, por atributo não apenas respeitável, mas profundamente santo da Natureza, exigindo educação e controle.
Através dele dimanam forças criativas, às quais devemos, na Terra, o instituto da reencarnação, o templo do lar, as bênçãos da família, as alegrias revitalizadoras do afeto e o tesouro inapreciável dos estímulos espirituais. Desarrazoado subtrair-lhe as manifestações aos seres humanos, a pretexto de elevação compulsória, de vez que as sugestões da erótica se entranham na estrutura da alma, ao mesmo tempo que seria absurdo deslocá-lo de sua posição venerável, a fim de arremessá-lo ao campo da aventura menos digna, com a desculpa de se lhe garantir a libertação. Sexo é espírito e vida, a serviço da felicidade e da harmonia do Universo. Conseguintemente, reclama responsabilidade e discernimento, onde e quando se expresse. Por isso mesmo, nossos irmãos e nossas irmãs precisam e devem saber o que fazem com as energias genésicas, observando como, com quem e para que se utilizam de semelhantes recursos, entendendo-se que todos os compromissos na vida sexual estão igualmente subordinados à Lei de Causa e Efeito; e, segundo esse exato princípio, de tudo o que dermos a outrem, no mundo afetivo, outrem também nos dará.

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Livro: Vida e Sexo
Médium: Chico Xavier
Espírito: Emmanuel


NAMORO


Pergunta - Além da simpatia geral, oriunda da semelhança que entre eles exista, votam-se os Espíritos recíprocas afeições particulares?
Resposta - Do mesmo modo que os homens, sendo, porém, que mais forte é o laço que prende os Espíritos uns aos outros, quando carentes de corpo material, porque então esse laço não se acha exposto às vicissitudes das paixões. Item no. 291, de "O Livro dos Espíritos". A integração de duas criaturas para a comunhão sexual começa habitualmente pelo período de namoro que se traduz por suave encantamento. Dois seres descobrem um no outro, de maneira imprevista, motivos e apelos para a entrega recíproca e daí se desenvolve o processo de atração. O assunto consubstanciaria o que seria lícito nomear como sendo um "doce mistério" se não faceássemos nele as realidades da reencarnação e da afinidade.
Inteligências que traçaram entre si a realização de empresas afetivas ainda no Mundo Espiritual, criaturas que já partilharam experiências no campo sexual em estâncias passadas, corações que se acumpliciaram em delinquência passional, noutras eras, ou almas inesperadamente harmonizadas na complementação magnética, diariamente compartilham as emoções de semelhantes encontros, em todos os lugares da Terra.
Positivada a simpatia mútua, é chegado o momento do raciocínio.
Acontece, porém, que diminuta é, ainda, no Planeta, a percentagem de pessoas, em qualquer idade física, habilitadas a pensar em termos de autoanálise, quando o instinto sexual se mais derrama do ser.
Estudiosos do mundo, perquirindo a questão apenas no "lado físico", dirão talvez tão-somente que a libido entrou em atividade com o seu poderoso domínio e, obviamente, ninguém discordará, em tese, da afirmativa, atentos que devemos estar à importância do impulso criativo do sexo, no mundo psíquico, para a garantia e perpetuação da vida no Planeta. É imperioso anotar, entretanto, em muitos lances da caminhada evolutiva do Espírito, a influência exercida pelas inteligências desencarnadas no jogo afetivo. Referimo-nos aos parceiros das existências passadas, ou, mais claramente, aos Espíritos que se corporificarão no futuro lar, cuja atuação, em muitos casos, pesa no ânimo dos namorados, inclinando afeições pacificamente raciocinadas para casamentos súbitos ou compromissos na paternidade e na maternidade, namorados esses que então se matriculam na escola de laboriosas responsabilidades. Isso porque a doação de si mesmos à comunhão sexual, em regime de prazer sem ponderação, não os exonera dos vínculos cármicos para com os seres que trazem à luz do mundo, em cuja floração, aliás, se é verdade que recolherão trabalho e sacrifício, obterão também valiosa colheita de experiência e ensinamento para o futuro, se compreenderem que a vida paga em amor todos aqueles que lhe recebem com amor as justas exigências para a execução dos seus objetivos essenciais.

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Do Livro: Vida e Sexo
Psicografado por: Chico Xavier
Ditado pelo Espírito: Emmanuel


sexta-feira, 14 de março de 2014

A FANTASMA



NUNCA MAIS VOLTOU


No campo, em velha casa inglesa, periodicamente começou a aparecer uma jovem
materializada.
No último domingo de cada mês, era vista por todos, com indisfarçável assombro. E porque na região escasseasse o conhecimento espírita, os inquilinos lá não paravam.
O pequeno solar vivia constantemente fechado.
Acontece, no entanto, que uma família de Londres se transferiu para o pequeno burgo e passou a ocupá-la.
- “O lugar é assombrado” – diziam todos os vizinhos.
O velho chefe da casa, porém, marinheiro recentemente aposentado, possuía vasto cabedal de conhecimentos mediúnicos e não se deu por achado.
Com efeito, no dia indicado, a entidade surgia em determinado aposento, demorando-se largo tempo diante de antiga penteadeira.
Os dois rapazelhos, filhos do casal, assustaram-se, a princípio, mas o progenitor, após preparar-se por um mês de oração e leitura edificante, deliberou falar com o fantasma.
Quando a jovem se corporificou, plena de beleza, o ex-marujo entrou reverente no quarto e saudou-a, em nome do Cristo.
A moça retribuiu, confortada, e ele perguntou por que motivo se dispunha, assim tão bela, a visitar sítio tão solitário e sem qualquer atração.
A menina-mulher explicou, em linguagem fidalga, que ali vivera no século XVI e que lhe aprazia recordar, quando possível, a existência feliz que desfrutara junto dos pais, acrescentando que a aristocrática penteadeira fora presente do noivo que perecera no mar. Sentia imenso consolo ao contemplá-la, porque ainda não lhe fora permitido reunir-se, para sempre, ao escolhido do coração.
Respeitoso, o dono da casa procurou esclarecê-la, comunicando-lhe, sem rebuços, que ela não mais pertencia ao mundo dos chamados vivos, travando-se entre os dois curioso entendimento.
- Como vê, minha irmã, você não mais se encontra encarnada na Terra.
- Sei perfeitamente tudo isso – falou a jovem, sorrindo. – Tenho minhas atividades e sonhos no Plano Espiritual e estou consciente de minha responsabilidade.
- Deve então afastar-se daqui.
- Oh! oh! por quê?
E batendo na cana do braço esquerdo, disse o interlocutor, mais franco:
- Porque nós aqui somos homens.
A moça exibiu imensa agonia moral no semblante, e indagou:
- Quer dizer, então, que o senhor é alguém que se veste de carne, carregando vísceras cheias de sangue, com cheiro de animais abatidos e de vegetais mortos? O senhor expele gases que fazem lembrar o sepulcro? Quando tosse derrama líquidos grossos a que chamam saliva e catarro? Quando trabalha expele através dos poros uma água salgada de nome suor que recorda o ambiente dos peixes apodrecidos no mar?
O ex-marujo, surpreendido, pôde apenas confirmar:
- Sim, sim...
A bela entidade materializada fitou-o com evidente horror e gritou:
- Que medo! Socorro, ó Deus dos Céus! Livrai-me do fantasma terrestre!...
E dizem que nunca mais voltou.



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Espírito: Hilário Silva
Médium: Chico Xavier
Livro: Almas em Desfile

O DISFARCE


A velha Jordelina Torres recebera do fazendeiro Paulo Mota as piores humilhações da
vida.
A princípio, quando mais moço, perseguira-a com propostas menos dignas a que resistira valentemente.
O homem teimoso, contudo, para vingar-se, crivara-lhe o esposo, então empregado da
fazenda, com tantas tarefas de sacrifício, que o pobre veio a desencarnar de maneira
inesperada e violenta.
Desde então, o adversário gratuito apertou o cerco.
Seduziu-lhe ambas as filhas, ao preço de ouro, lançando-as à existência em que a mulher bebe fel com o nome de “vida fácil” e em seguida, não contente, tomou-lhe a casinha esburacada, banindo-a do sítio.
Jordelina, analfabeta, buscou a cidade grande, encorajada na fé, e fez-se cozinheira na
residência de um médico, junto de quem teve a felicidade de encontrar uma família do coração.
Os anos rolaram e, certo dia, já grisalha, Jordelina Torres foi solicitada a comparecer no leito de morte do fazendeiro.
O portador comunicou-lhe que Paulo Mota, muito doente, se fizera religioso e queria vê-la, antes de partir para o túmulo.
Quem sabe se o poderoso sitiante tencionava pedir-lhe perdão ou aquinhoá-la com algum bem?
Jordelina realmente não desejava rever o desafeto, mas, vencida pelos argumentos da
casa afetuosa a que servia, pôs-se de viagem para a fazenda.
Lá chegando, contudo, encontrou a surpresa.
Paulo Mota estava morto, desde a véspera.
E, deitada no féretro, mostrava curiosa apresentação, pois pedira à filha que o vestissem como Jesus no dia do Calvário.
O cadáver estava em posição solene, envergando grande roupão branco, cana humilde
entre as mãos, coroa de espinhos na cabeça, pés descalços.
Tudo simples, sem uma flor.
O fazendeiro dissera que desejava chegar ao outro mundo com a pobreza e a simplicidade do Divino Mestre.
Jordelina Torres chegou, respeitosa, e fitou o morto, compungidamente.
Orava, serena, quando foi abordada por D. Mariana Mota, a filha do fazendeiro, que lhe falou:
Dona Jordelina, lamento que a senhora não tenha chegado antes... Papai estava muito interessado em que a senhora o perdoasse por alguma falta de outros tempos...
Não tenho nada contra ele – disse a velha humilde –, pois também sou pecadora,
necessitada do perdão de Deus.
Encorajada por uma resposta assim tão doce, a jovem senhora indicou o morto, cuja
figuração efetivamente lembrava o Sublime Crucificado, e falou à recém-chegada :
A senhora não acha que papai está bem como está?
Foi então que Jordelina explicou, sem afetação:
Sim, minha filha, Nhô Paulo está muito bem disfarçado, mas ele agora está seguindo para o lugar onde é bem conhecido.


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Espírito: Hilário Silva
Médium: Chico Xavier
Livro: Almas em Desfile


EVITANDO O CRIME



Era o Dr. Aristides Spínola distinto diretor da Federação Espírita Brasileira, no Rio,
quando foi procurado por um amigo do Méier, que lhe comunicou a desesperadora
situação no lar.
Tinha esposa e quatro filhas a se voltarem contra ele, em difícil obsessão.
Duas filhas solteiras rixavam com as duas casadas, e os genros, inimigos entre si,
injuriavam-no, publicamente, cada qual querendo senhorear a casa. E, no que era mais triste, a esposa ficara moralmente ao lado de um deles, criando-lhe posição insustentável.
A cada momento, era instado a discutir.
Sentia-se tentado a matar um dos genros, mas começara a ler algo da Doutrina Espírita e sentia-se necessitado de orientação.
Não desejava perder a migalha de luz que a fé lhe acendera n´alma.
O Dr. Spínola, que era muito humilde e sereno, aconselhou :
Evite a discussão.
E se eu for insultado? – indagou o consulente.
Conte até sessenta, sem responder.
Mas, se a provocação continuar?
Busque mudar de assunto.
Se for inútil?
Saia de casa.
É possível, no entanto, que mo impeçam – tornou o amigo, sinceramente interessado em tratar de todas as minúcias.
Se isso acontecer, procure isolar-se num quarto, a chave.
E se abrirem o aposento à força?
Nesse caso, telefone imediatamente para o Pronto-socorro e espere a ambulância na
porta.
E quando a ambulância chegar?
Entre nela e recolha-se ao hospital – disse o Dr. Espinola – ; isto é melhor que entrar na faixa do crime, comprometendo-se por muitas reencarnações.
O cavalheiro despediu-se mais tranqüilo; no entanto, rogou ao prestimoso orientador para que o visitasse, por espírito de caridade, no dia seguinte, a fim de ajudá-lo a conversar com a esposa, que parecia francamente obsedada.
Na manhã seguinte o Dr. Spínola encaminhou-se para o endereço de que se munira;
entretanto, ao chegar à porta, deu com uma ambulância que deixava a casa, tilintando,
ruidosamente, a pedir caminho...

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Espírito: Hilário Silva
Médium: Chico Xavier
Livro: Almas em Desfile



(a)   RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

CAROLINA E AGENOR


Não posso mais! Estou resolvida!
Não diga isso. Fique mais calma. Somos espíritas e...
Não, Agenor! Não quero mais filhos. Nem esse e nem a possibilidade de outros. Estou decidida.
Se houvesse realmente necessidade... Mas você está forte, robusta... Isso é meiamorte.
Pense bem. Olhe o “deixai vir a mim os pequeninos!...”
Não. É muita gente que faz isso, por que não posso fazer? Vou agora ao hospital tratar de meu caso... Estou resolvida.
Assim falando, Carolina ralhou com os três filhos pequenos e deixou a casa, nervosa,
acompanhada de Agenor.
II
Quero falar com o doutor. Ele está?
Minha senhora, ele está operando agora.
Não deve demorar muito, Nisso, um senhor ao lado pergunta:
Quem está ele operando? É uma senhora loura?
E o porteiro, respeitoso, respondeu em voz baixa :
Não, meu senhor. É uma senhora que acaba de chegar perdendo muito sangue. É
alguma coisa de aborto. Está passando muito mal.
Agenor olhou significativamente para Carolina...
III
A senhora loura é sua parenta? – pergunta Carolina, ao vizinho da poltrona.
Sim. É minha tia.
De que se vai operar?
Ela, minha senhora, desde que perdeu o último filho, está perturbada. Vão fazer uma operação na cabeça dela, para ver se melhora o gênio.
Agenor voltou a olhar expressivamente para Carolina...
IV
Eis que passam dois homens em avental branco, e Carolina, atenta ao movimento em
torno, na expectativa de falar ao facultativo, ouviu, de relance :
As cifras estatísticas de câncer uterino são avultadas – disse um.
E aqui, na região, a incidência é grande": –pergunta o outro.
-- Muitíssimo. Basta ver que a enfermaria feminina, sempre está com três a quatro
casos...
Agenor, ainda uma vez, olhou incisivamente para Carolina...
V
Carolina levanta-se, resoluta.
Agenor segue.
Vão transpondo a porta principal da casa de saúde, quando o solicito porteiro inquire:
Não vai esperar, minha senhora?
Não, meu amigo. O doutor está demorando.
Preciso cuidar das crianças. Obrigada. Até logo.
Então, Calu, em que ficamos? – pergunta
Agenor, ao descer a rampa do hospital.
E Carolina responde :
Não, Agenor, dos males o menor. Fico assim mesmo...


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Espírito: Hilário Silva
Médium: Chico Xavier
Livro: Almas em Desfile