A
Trajetória Evolutiva do Espírito
Djalma
Motta Argollo
O
Destino dado ao Cadáver
Muitos
temos o habito de afirmar que o cadáver dos nossos mortos são meras
"roupas sem valor", não
importando,
portanto, o destino que sê-lhes venha a dar. Infelizmente o assunto
não é tão simples assim.
Os
animais irracionais não têm a menor preocupação com o cadáver
dos seus iguais. Simplesmente os abandonam ao relento para que se
decomponha, ou sirva de alimento para outros, quando eles mesmos não
o devoram.
Quando
o homem mal se diferenciava dos seus irmãos da floresta, no que
tange a razão, agia, sem qualquer sombra de duvida, da mesma forma.
o que veio a mudar o comportamento do primitivo foi, naturalmente, a
"descoberta do Espírito", consequência da "primeira
RM" do Pleistoceno. O corpo
passou a ser entendido como instrumento da alma, merecendo, portanto,
toda reverencia e carinho, quando esta se liberava.
Alguns
grupos desenvolveram a ideia que cadáver guardaria as virtudes do
morto, surgindo assim o canibalismo ritual. A descoberta de
sepulturas pré-históricas onde os crânios tinham o buraco
occipital alargado, sugerem que o foram para que o cérebro fosse
retirado, servindo de "alimento mágico", pelo qual
se absorvíamos valores e conhecimentos do defunto. Os inimigos
aprisionados e mortos tinham seus corpos devorados, como ainda era
costume entre os nosso índios no século XVI, pela mesma razão,
adquirindo os que deles se alimentavam a bravura e coragem que
houvessem demonstrado em vida.
Quando
os despojos físicos começaram a ser sepultados, as formas de fazê-lo apresentam grandes variações. Alguns esqueletos mostravam
sinais de que foram privados da carne previamente, pois os ossos
passaram por um processo de manipulação, sendo pintados e arrumados
de forma padronizada. Outros foram enterrados com os membros
amarrados e, algumas vezes, de ponta cabeça, dando a entender que se
procurava evitar que o morto voltasse para prejudicar os vivos.
Umgrande
numero de sepulcros pré-históricos contem armas e alimentos, numa
clara demonstração de que o grupo social do qual o defunto fez
parte tinha conhecimento de que a vida no Além tem cara características
semelhantes a do nosso plano.
O
costume de se preparar o cadáver atingiu o Máximo de
sofisticação no Egito, quando passou a ser embalsamado, para que o
Espírito continuasse "vivo", e pudesse retornar a
existência, numa ressurreição futura. Igualmente, as sepulturas
egípcias guardam alimento, roupas, joias, moveis, utensílios
variados, jogos, armas, comidas figuras de barro representando
servos, para servirem ao desencarnado. Os Citas eram mais radicais.
Enterravam reis e aristocratas com seus pertences e os próprios
animais e servos, os quais eram sacrificados e fixados com estacas,
formando um cortejo imponente, enquanto lúgubre.
Os
persas optaram por expor seus defuntos no alto de torres, para que
fossem devorados pelos abutres e outras aves carnívoras. Já os
hebreus preferiam sepultar os mortos, depois de lhe dar em um
tratamento com perfumes e unguentos, envolvendo-os em lençóis de
linho e, ao tempo de Jesus, com moedas de ínfimo valor postas sobre
os olhos. O sepultamento se fazia no solo ou em sepulcros escavados
nas rochas ou construídos para esse fim.
Os
romanos utilizavam, indistintamente,a cremação e o sepultamento. No
primeiro caso, dava-se as cinzas o destino que a família quisesse,
no segundo, utilizavam-se cemitérios, às vezes subterrâneos,
conhecidos como Catacumbas, ou mausoléus construídos a beira das
estradas.
Muitos
habitantes da Índia até hoje dão preferência, também, a
incineração dos seus mortos e, no caso de algumas das varias seitas
que ali medram, se o morto é casado, a mulher é obrigada a ser
queimada junto com o esposo, só que, neste caso, viva. Os Chefes de
Estado hindus, desde Gandhi, veem envidando esforços para erradicar
esse costume infeliz.
Nos
dias atuais, coexistem diversas das formas citadas de sepultamento,
inclusive das mais primitivas. No Ocidente, o sepultamento é uma
forma normal de inumação, embora exista um grande número de
pessoas que praticam e desejam a cremação dos defuntos,
principalmente nos Estados Unidos da América.
Vejamos,
a luz do que temos discutido até agora quanto a desencarnação,
quais os reflexos da maneira de sepultar o cadáver sobre o Espírito
que esta retornando à Pátria Espiritual.
Repercussão
do Tratamento dado ao Cadáver sobre o Espírito
As
leis brasileiras, como de resto as vigentes no hemisfério ocidental,
estabelecem que o enterro dos restos mortais só pode acontecer após
a morte ser atestada por um médico, com suas causas devidamente
constatadas. Se houver suspeita quanto a "normalidade" da
morte, departamentos especializados da policia, os Institutos Médicos
legais em nosso caso, são chamados a se pronunciar, pelo exame
fisiológico e químico do cadáver em geral, e de suas vísceras e
órgão internos, em particular, para estabelecimento da "causa
mortis".
Outro
ponto, e que, de modo geral, fica estabelecido o mínimo de vinte e
quatro horas entre o horário da morte e o sepultamento.
Como
vimos mais acima, o Espírito não se desliga imediatamente do corpo,
mas sofre um processo de separação lenta e gradual dos liames
energéticos que unem o perispírito a todas as células do
organismo. Dai, os problemas enfrentados pelo desencarne no
período do "velório", pela irresponsabilidade, fruto da
ignorância, de parentes e amigos.
Por
não saber o que significa a morte, a maioria dos que estão em
"processo de desencarnação" imaginam estar sendo vitima
de terrível pesadelo. Isto já foi bastante ilustrado em casos
citados acima.
Aferram-se
ao desejo de retomar o corpo a todo transe, aumentando o mal-estar
que já estão sofrendo, dificultando o desligamento dos laços
fluídicos que os vinculam aos despojos. Por causa disto, bem como,
pela percepção do que acontece no ambiente, as manipulações
impostas ao corpo são "sentidas" como se ainda estivessem
encarnados.
Nas
situações em que o defunto e levado a passar por autopsia,
imagine-se o horror e o sofrimento por ver o corpo ser retalhado de
todas as formas, enquanto o Espírito se sente vivo, imaginando estar
sendo vitima de um terrível engano. A "certeza ilusória"
de que o corpo e o verdadeiro "eu", expresso até na forma
de falar: "Eu tenho uma alma", é responsável por
situações como esta. Quanto mais introjetado o sentimento errôneo
de que é o corpo, maior dificuldade tem a alma em processo de
desencarnação de reconhecer sua situação real.
As
colocações acima nos levam a tecer algumas considerações a
respeito dos transplantes. A doação de órgãos são feitas por
vontade expressa do indivíduo antes de morrer, ou após sua morte,
pelos parentes mais próximos. O ato de doar o cadáver para que suas
partes possam ser utilizadas por outras pessoas, com a finalidade de
melhorar a qualidade de vida, ou prolonga-la, é, sem qualquer sombra
de duvida, uma atitude de desprendimento. Todavia, se a doação
parte do suposto de que "morreu, acabou", pode se
transformar em fonte de sofrimento para o doador. Como no caso da
autópsia, o Espírito despreparado face à realidade imortalista,
vê-se repentinamente, sendo cortado, e seus órgãos retirados, para
serem implantados em outrem. Como a retirada é feita quando se dá a
"morte clinica", a separação entre corpo e perispírito
não aconteceu, ainda, em plenitude, e o Espírito em estado de
ignorância começa a imaginar que o estão "matando" e
vive os horrores de ser "retalhado em vida", numa tortura
inominável. O argumento de que o "ato caridoso da doação"
faz com que o doador receba um tratamento especial dos Espíritos
Superiores, para que não venha a passar pelos sofrimentos expostos,
é altamente relativo. O problema não é de "boa intenção",
mas da estrutura psicológica e condição moral do doador. Vimos que
Otilia Gonçalves, apesar de espírita praticante, não pode ser
atendida pela mentora espiritual, enquanto não ofereceu condições
psíquicas para tanto. Imagine-se alguém que esteja bem distante das
praticas espiritualizantes ... Portanto, que cada um medite bastante
no que vai fazer, quando se predispuser a doar seus órgãos e,
principalmente, os que não lhe
pertencem ...
Atualmente,
no Brasil, cresce o número daqueles que preferem, quando da morte, a
cremação.
Emmanuel,
com seu costumeiro bom- senso, aconselha que se espere um mínimo de
setenta e duas horas para que a queima do cadáver seja efetivada.
Naturalmente, o sábio mentor deve se basear em alguma estatística
levantada pelos órgãos competentes de sua moradia espiritual. Esses
estudos devem indicar que a media dos desencarnantes consegue se
libertar do corpo nesse período de tempo. Isto, porem, não
significa que a totalidade siga esse padrão. Os que não se
enquadrem na categoria, como por exemplo os que morrem em desastre ou
por suicídio, sofrerão as agruras de se sentirem queimados vivos,
situação terrível, que poderia ter sido evitada.
O
enterro comum também e motivo de inúmeros problemas, todavia,
faculta que os Espíritos tenham um tempo normal para que os laços
perispirituais se desatem de forma natural.
Mas,
a ajuda mais eficaz que um desencarnante poderá receber, seja qual
seja o destino que sê-lhe de ao cadáver, é a do esclarecimento
sobre o significado do "morrer''' e, durante a desencarnação, envolvê-lo em vibrações de prece e amor, que permitirão aos
Espíritos bons encontrarem facilidades para socorrer e amparar o que
retorna ao mundo espiritual.
(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)