O Arrebol Espírita

terça-feira, 23 de abril de 2019

UMA “MADALENA” EM MEU CAMINHO




Encontrava-me sentado, sozinho, em um bar, tomando uma cervejinha, na rua general Osório, próximo a Praça dos Três Poderes, em João Pessoa (PB), quando uma mulher, de seus trinta e cinco anos, aproximou-se de mim oferecendo seus serviços:

- Vamos fazer um programinha?
- Não, minha querida, muito obrigado!
- Vamos! Vou fazer um precinho legal pra você. _insistiu
- Desculpe a franqueza, mas mesmo que me cobrasse apenas um centavo, ainda assim, não estaria interessado.

- Por que, você não gosta de mulheres?
- É justamente por gostar de mulheres que não sinto prazer em compra-las, como se fossem mercadorias; para usa-las como se fosse um objeto. Para que sinta prazer com uma mulher, mesmo num simples beijo, é preciso que seja algo espontâneo, que aja sentimentos ou pelo menos uma vontade mútua.
- Que romântico! Como é o seu nome?
- Ronaldo!
- O meu é Carla! Posso sentar ao seu lado?
- Me dê a honra!..
- Você acha que o quê faço é errado Ronaldo?

- Quem sou eu, que caminho como você, na sombra da própria ignorância, para dizer o que é o “certo” e o “errado”?! Por ora, tudo o que nos cabe compreender é que o certo e o errado são relativos. O que é certo ou errado para mim pode não ser o certo ou errado para você e vice e versa.
- Como assim? O que é certo não é certo? E o que é errado não é errado?
- Sim! O que é certo é certo e o que é errado é errado, mas o que falo é do quadro de nossas ações que sempre trás consigo razões diferentes. Por exemplo: digamos que eu seja uma mulher, nascida no berço da fartura, acolhida por uma família estruturada e abastarda, que me concedera todos os recursos para que fosse uma advogada, médica, empresária ou qualquer outra coisa, mas que tenha optado por ser garota de programa. Temos aí, como razão, a OPÇÃO. Por outro lado, também a título de exemplo, você nasceu no berço da miséria, sem uma família estruturada e sem os recursos necessários para que pudesse ser uma advogada, médica, empresária ou qualquer outra coisa, e por isso você tornou-se uma garota de programa. O que temos aqui, como razão, é a CONDIÇÃO. Por isso que o certo e o errado para nós devem ser relativos, porque Deus é infinitamente justo e bom. 

E é por esse entendimento que Paulo Coelho escreveu: “Uma coisa e você achar que o seu caminho é o certo, outra, bem diferente, é achar que o seu caminho é o único; cada um sabe de sua dor e renúncia”.
- Mas eu não poderia ser uma doméstica, vendedora ambulante ou qualquer outra coisa, sem ser prostituta?

- Não se deixe levar pelo leviano moralismo! Para ser uma doméstica é preciso conhecer as prendas domésticas, que somente um lar e uma família estruturada pode ensinar. E para ser um vendedor é preciso ser desinibido, comunicativo e possuir outras prerrogativas que também somente a educação e a disciplina podem nos ensinar. E isso vale para tudo! Você só é uma prostituta pelo que aprendeu, como poderia ser também apenas uma pedinte. Não se cobre tanto!
- Caramba! Você falou tudo sobre mim! Você falou de Paulo Coelho, você também é um bruxo?
- Sou alguém buscando deixar de ser soberba para ser mais humilde Carla. Buscando não julgar e condenar, mas compreender e aceitar. Apenas isso! E é também por essa busca e pelo tanto que tenho aprendido que posso te garantir que muitas mulheres que exerceram o ofício da prostituição na terra, foram recebidas no céu como santas. 

- Como assim? Por que?...
- Porque se comprometeram com o bem; porque amaram Carla! Foram honestas com seus clientes. Não abusaram de suas embriagues e nem exploraram suas fraquezas, como muitas fazem. Também, porque auxiliaram os necessitados. Abrigaram desamparados, alimentaram famintos, assistiram doentes, adotaram órfãos e, apesar de tudo, formaram filhos dignos e até foram capazes de formar uma família honrada. Quem ama a criatura, Carla, ama o seu Criador.
- Nossa Ronaldo, essa também sou eu! Nunca gostei de explorar os meus clientes, fazendo gastar o dinheiro deles comigo. Só quero o que é meu!
- É porque você é uma pessoa boa Carla, comprometida com o bem. E ainda pode fazer muito mais! Promova a paz nesse ambiente de conflitos. Desestimule as pretensões infelizes. Oriente os casados sobre os valores da família; os solteiros sobre as consequências do sexo irresponsável. Ainda que isso lhe custe o cliente, saiba que poderá ganhar um amigo ou um belo gesto de gratidão. E, pelos ingratos Deus compensa. É só confiar!


Profundamente emocionada brincou:

- Quanto te devo?
- Pelo quê?
- Você não sabe o bem que me fez, a paz que me trouxe. Estou me sentindo leve, muito leve agora; como se você tivesse tirado um grande peso de meus ombros.
- Esse é o evangelho de nosso senhor Jesus Cristo, minha irmã, cujo fardo é leve e suave e de quem sou um singelo aprendiz. Por isso que me encontro na mesa de um bar sem nenhuma culpa.
Agradeça a Deus, sempre a Deus, de onde emana todo o bem de nossas vidas. Mas, se acha que mereço algo, apenas me prometa uma coisa!
- O quê, pode falar?!
- Que não vai esquecer-se de mim quando chegar na vida maior, possa que venha me encontrar perdido nas zonas das trevas.
- Como assim, você está louco? Se uma pessoa do bem, que está me ensinando a ser boa, duvida que vá para o céu, como é que posso ter certeza que vou?
- É só confiar no amor que disse que “os últimos serão os primeiros”.  Porque “...aquém muito foi dado, muito será cobrado”. 
Portanto, Carla, de nós dois, O DEVEDOR MAIOR SOU EU!

***
(a) Ronaldo Costa (O Arrebol Espírita)

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