O Arrebol Espírita

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

ALVÍSSARAS DE ALEGRIAS



Os costumes promíscuos, frutos das guerras e dos ódios incessantes, geraram o desvario das massas.

Sem qualquer apoio ou perspectiva de melhorias, o povo consumido pelo desespero estava mergulhado na treva e não mais vivia, apenas sobrevivendo cada dia, cada hora, sem projeto algum para o futuro.

De um lado, a falsa religiosidade, preocupada mais com a aparência do que com o profundo conteúdo espiritual, caracterizava-se pelo formalismo pusilânime, enquanto as necessidades asfixiantes do povo armavam-no de ódio e de ferocidade.

Os infelizes cansados das injustiças, que já haviam criado no passado o partido dos zelotes, daqueles que buscavam preservar os códigos ancestrais, violentados pelos romanos, agora abriam uma ala para os que desejavam desforço, cometendo hediondos crimes, mesmo à luz do dia, contra os seus contemporâneos infiéis...

Israel encontrava-se desestruturado, contorcendo-se entre as garras férreas da águia romana, da sordidez dos seus governantes ignóbeis e da indiferença dos poderosos que adquiriam direito à comodidade a peso de ouro.

As pessoas, antes sonhadoras e gentis, que aguardavam o Messias, transformaram-se na multidão aturdida e desenfreada nas suas paixões, que se atiravam sobre o espólio das gerações vencidas.

Apesar de tudo, pairava uma psicosfera de ternura como ligeira brisa que carreasse aromas suaves e leve expectativa de alegria no ar.

Sem saberem compreender o que sucedia, muitos infelizes ainda confiavam em Deus e humildes trabalhadores honravam os seus deveres.

Ocorre que a Terra estava sob tênues claridades do Céu que anunciavam a eliminação das sombras.

Sempre surgiam sonhadores que afirmavam a chegada do justiceiro e se armavam, sendo logo vencidos, dizimados, sem qualquer compaixão, pelos dominadores.

Naqueles dias, subitamente as aragens da esperança começaram a cantar nos corações expectantes.

Ninguém sabia exatamente o que estava acontecendo. No entanto, desde o momento quando o Batista anunciou que aquela era a hora do arrependimento e da renovação, algo realmente começou a suceder.

Desde as terras de Betfagé, às margens frescas do Jordão, e dali à aridez do deserto e ao mar Morto, visitando as pradarias e ultrapassando as montanhas, alguma ocorrência especial alterava a paisagem humana...

Roma estava acostumada àquele povo tumultuado e rebelde, teimoso e bulhento, silenciando as suas contínuas revoltas com banhos de sangue...

Na Galileia singela, as labutas do mar sofreram modificação desde quando Ele abriu a Sua boca e clareou a noite das almas com o verbo de luz.

Ele era simples e puro como o lírio do campo e despido de atavios como uma espada nua.

Quem O tivesse visto e ouvido não conseguiria ser mais o mesmo, nem olvidar aquele momento, aguardando os longes tempos para O entender e O seguir, caso não dispusesse de resistências morais para fazê-lo a partir daquele instante.

A Sua palavra penetrava o cerne do ser como o perfume do nardo que impregna a superfície que acaricia.

Era natural que, onde aparecesse, a patética do sofrimento também se apresentasse.

Sucediam-se como ondas eriçadas pelo vento, as multidões que desejavam o seu contato, o seu benefício, a dúlcida carícia do seu terno olhar, que diminuía o fogo das aflições.

Preocupados com o corpo, nem sempre O ouviam realmente, anelando apenas por escutar a interrogação: - Que queres que eu te faça?

Ele não viera exatamente para ser remendão de corpos despedaçados, mas fazia-se necessário que O vissem agir em nome de Deus, que recuperasse aquelas formas orgânicas que iriam perecer depois, a fim de que tivessem despertada a fé na imortalidade.

Bem poucos desejavam realmente receber o pão da vida e a água que dessedenta para sempre, embriagando-se na perene luz do conhecimento que é o suporte vigoroso para a fé inabalável.

Mas a Sua fama crescia na razão direta dos Seus feitos, da Sua incomparável bondade, da Sua compaixão.

Ninguém jamais amara daquela maneira, falara com aquele tom de voz, convivera com os deserdados do mundo com a mesma naturalidade...

Os fariseus souberam que Ele silenciara os saduceus e, tomados de cólera, que é o recurso dos pigmeus morais diante dos gigantes espirituais, buscaram-nO, e um sacerdote pusilânime, para O tentar, perguntou-lhe:

- Qual o mandamento maior, aquele que devemos seguir?

A luz penetrante dos Seus olhos desnudou o hipócrita, enquanto docemente respondeu:

- Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, acima de todas as coisas.

O atormentado fariseu de sentimentos corroídos pela inveja redarguiu:

-Isto sabemos nós. Como porém, amar ao que não se vê, não se compreende, não se sente?

Num relampaguear de emoção, Ele aduziu:

- Amando ao próximo como a si mesmo, assim sintetizando toda a Lei e todos os profetas.

O soez inquiridor, porém, não queria a verdade, mas a discussão inútil com o sarcasmo no qual era mestre.

Voltou, então, a interrogar:

- Que é amar ao próximo? Como fazê-lo, sendo ele um estranho?

Houve um silêncio profundo, prenunciador da sinfonia da gentileza:

- O próximo – esclareceu com ternura – são todos os seres humanos, filhos do Único Pai, sem distinção de classe ou de cor, de credo ou de raça.

- Ante a impossibilidade de amar-se ao Pai, que transcende a qualquer entendimento, respeitar-lhe os filhos que lhe conduzem a herança e caminham ao nosso lado.

Amá-lo, implica em considerá-lo irmão, compreendendo-lhe as necessidades e buscando supri-las, dispensando-lhe carinho e tolerância e fazendo-lhe tudo quanto gostaria de receber de outrem.

Quando o amor se exterioriza do coração, o Pai alberga ambos, aquele que ama e aqueloutro que lhe frui o afeto, na sua incomparável alegria.

O amor ergue, quando o outro tomba, compadece-se, quando defronta o erro, acompanha o solitário, ajudando-o, e enriquece de ternura todos aqueles que abraça, por maior que seja ao carência que os devasta.

No amor ao próximo, que é o eu no outro, a vida estua e a paz repousa no coração.

Não é necessário ver para amar, bastando compreender que ninguém jamais se realiza a sós, nem se completa se não der um sentido de solidariedade à existência...

Doces melodias e vozes inarticuladas cantavam na pauta grandiosa da Natureza.

Logo após, completou:

-Então, não existirão inimigos, porque todos aqueles que se comprazerem nessa infeliz condição serão também amados.

As alvíssaras de luz e alegrias do Reino dos Céus rompiam a noite dos tempos de então para todos os tempos do futuro.

***
Pelo Espírito Amélia Rodrigues - Psicografia de Divaldo Pereira Franco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, em 5 de agosto de 2013.




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A CASCA DE BANANA


Secundino renasceria entre os homens para socorrer crianças desamparadas, e, para isso, organizou-se-lhe grande missão no Plano Espiritual.

Deteria consigo determinada fortuna, a fortuna produziria trabalho, o trabalho renderia dinheiro e o dinheiro lhe forneceria recursos para alimentar, vestir e educar duas mil criaturinhas sem refúgio doméstico.

Atendendo à empreitada, Lizel, o instrutor desencarnado que o seguiria entre os homens, dar-lhe-ia, em tempo devido, o necessário suprimento de inspirações.

Estariam juntos, e Secundino, internado no corpo terrestre, assimilaria as idéias que o mentor lhe assoprasse.

A experiência começou, assim, promissora...

Da infância à mocidade, o tarefeiro parecia encouraçado contra a doença. Extravagante como ninguém, descia, suarento, de vigoroso cavalo do sítio paterno, mergulhando no sorvete, sem qualquer choque orgânico, e ingeria frutos deteriorados, como se possuísse estômago de resistência invencível.

Em todas as particularidades da luta, contava com a afeição de Lizel, e, muito cedo, viu-se em contacto com o amigo espiritual, que não só lhe aparecia em sonhos, como também através dos médiuns, com os quais entrasse em sintonia.

O benfeitor falava-lhe de crianças perdidas, pedia-lhe proteção para crianças sem rumo, rogava-lhe, indiretamente, a atenção para o noticiário sobre crianças ao desabrigo.

E tanto fez Lizel que Secundino planejou o grande cometimento.

Seria, sim, o protetor dos meninos desamparados... Entretanto, considerando as necessidades do serviço, pedia dinheiro em oração.

E o dinheiro chegou, abundante...

Ao influxo do amor providenciai de Lizel, sentia-se banhado em ondas de boa sorte... Explorou a venda de manganês e ganhou dinheiro, negociou imóveis e atraiu dinheiro, comprou uma fazenda e fez dinheiro, plantou café e ajustou dinheiro...

Começou, porém, a batalha moral.

Lizel falava em crianças e Secundino falava em ouro.

– “Protegeria a infância desditosa – meditava, convicto – ; contudo, antes, precisava escorar-se, garantir a família, assegurar a tranquilidade e arranjar cobertura.” Casado, organizou fortuna para a mulher para o pai, acumulou fortuna para os filhos e para o sogro, amontoou riquezas para noras e genros, e, avô, adquiriu bens para os netos...

Porque tardasse demais na execução dos compromissos, a Esfera Superior entregou-o à própria sorte.

Apenas Lizel o seguia, generoso. E seguia-o arrasado de sofrimento moral, assinalando-lhe frustração.

Secundino viciara-se nos grandes lances da vantagem imediata e algemara-se francamente idéia do lucro a qualquer preço.

Lembrava os antigos projetos como sonhos da mocidade...

Nada de assistência a menores abandonados, que isso era obra para governos... Queria dinheiro, respirava dinheiro, mentalizava novas rendas e trazia a cabeça repleta de cifras.

Lizel, apesar disso, acompanhava-o, ainda... Agoniava-se para que Secundino voltasse a pensar nos meninos sem ninguém... Ansiava por rever-lhe o ideal de outra época!... Tudo seria diferente se o pobre companheiro despertasse para as bênçãos do espírito!...

Aconteceu, no entanto, o inesperado.

Ao descer de luzido automóvel para estudar o monopólio do leite, Secundino não percebe pequena casca de banana estendida no chão.

Lizel assinala o perigo, mas suplica em vão o auxílio de outros amigos espirituais.

O negociante endinheirado pisa em cheio no improvisado patim, perdendo o equilíbrio em queda redonda.

Fratura-se a cabeça do fêmur e surge a internação no hospital; contudo, o coração cansado não corresponde aos imperativos do tratamento.

Aparece a cardiopatia, a flebite, a trombose e, por fim, a uremia...

No leito luxuoso, o missionário frustrado pensa agora nas criancinhas enjeitadas, experimentando o enternecimento do princípio... Chora. Quer viver mais tempo na Terra para realizar o grande plano. Apela para Deus e para Lizel, nas raias da morte...

Seu instrutor, ao notar-lhe o sentimento puro, chora também, tomado de alegria... No entanto, emocionado consegue dizer-lhe apenas:

- Meu amigo! Meu amigo!.... Agradeçamos ao Senhor e à casca de banana a felicidade do reequilíbrio!... Seu ideal voltou intacto, mas agora é tarde... Esperemos que o berço lhe seja propício...
  

***
Espírito: Irmão ‘X
Médium: Chico Xavier
Livro: Contos Desta e Doutra Vida




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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

NA CONDUTA DE CRISTO



Basta deseje e qualquer um pode comprovar nos versículos evangélicos, que nos três anos de vida messiânica, Jesus:

Em tempo algum duvidou do Pai;

Nenhuma vez operou em proveito próprio;

Não recusou a cooperação dos trabalhadores menos respeitáveis que as circunstâncias lhe ofereciam;

Jamais deixou de atender às solicitações produtivas e nem chegou a relacionar as requisições irrefletidas que lhe deram endereçadas;

Não discriminou pessoas ou recintos para prestação de auxílio;

Nada fez de inútil;

Nada fugiu de regular o ensinamento da verdade conforme a capacidade de assimilação dos ouvintes;

Nunca foi apressado;

Nada fez em troca de recompensa alguma, nem mesmo na expectativa de considerações quaisquer.

Realmente, se Jesus não fez isso, por que faremos?

Aplicada a conduta de Cristo à mediunidade, compreenderemos facilmente que se possuímos a fé raciocinada é impossível vacilar em matéria de confiança no auxilio espiritual; que tarefeiro a deslocar-se para ações de benefício próprio figura-se lâmpada que enunciasse o despropósito de acreditar-se brilhante sem o suprimento da usina; que devemos atender às petições de concurso fraterno que nos sejam encaminhadas dentro dos nossos recursos, sem a presunção de tudo saber e fazer, quando o próprio sol não pode substituir o trabalho de uma vela, chamada a servir no recesso da furna; que o aprendiz da sabedoria interessado em carregar inutilidades e posses estéreis lembra um pássaro que ambicionasse planar nos céus, repletando a barriga com grãos de ouro.

Na mediunidade com Cristo, principalmente, faz-se preciso reconhecer que a pressa não ajuda a ninguém, que ele, o Mestre, nada exigiu e nada fez a toque de força, e nem transformou situações ou criaturas, através de empresas milagrosas, porque todo trabalhador sem paciência assemelha-se ao cultivador dementado que arrancasse, diariamente, do seio da terra, a semente viva, nela depositada, para verificar se já germinou
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Espírito: André Luiz
Médium: Chico Xavier
Livro: Opinião Espírita



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DESAJUSTE APARENTE



Há quem afirme que a Doutrina dos Espíritos é viveiro de crentes indisciplinados, pelo excesso das interpretações e pelo arraigado individualismo dos pontos de vista. Outros proclamam que a Nova Revelação desloca a vida mental daqueles que a esposam, compelindo-os à renunciação.

Tais enunciados, porém, não encontram guarida nos fundamentos da verdade.

O Espiritismo, naturalmente, amplia os horizontes do ser.

A visão mais clara do Universo e a mais alta concepção da justiça dilatam na mente a sede de libertação, para mais altos vôos do espírito, e a compreensão mais clara, aliando-se à mais viva noção de responsabilidade, estabelece sublimes sentimentos para a alma, renovando os centros de interesse para o campo íntimo, que se vê, de imediato, atraído para problemas que transcendem a experiência vulgar.

Realmente, para quem estima os padrões convencionalistas, com plena adaptação ao menor esforço, não será fácil manejar caracteres livres, nos domínios da fé, porque os desvairamentos da personalidade invariavelmente nos espreitam, tentando-nos a impor sobre outrem o tacão do nosso modo de ser.

Dentro da Nova Revelação, todavia, não há lugar para qualquer processo de cristalização dogmática ou de tirania intelectual.

A imortalidade desvendada convida o homem a afirmar-se e o centro espiritual do aprendiz desloca-se para interesses que transcendem a esfera comum.

As inteligências de todos os tipos, tanto quanto os mundos, gravitam em torno de núcleos de força, que as influenciam sustentam.

O panorama do infinito, descortinado ao homem pelo nossos ideal, atrai o cérebro e o coração para outros poderes, e a criatura encarnada, imperceptivelmente induzida a operar em serviços diferentes, parece desajustada e sedenta, à procura de valores efetivamente importantes para os seus destinos na vida eterna.

As escolas religiosas oficializadas ou organizadas, presas a imperativos de estabilidade econômicas, habitualmente gravitam em derredor da riqueza perecível ou da autoridade temporal da Terra e jazem magnetizadas pela idéia de domínio e influência que, no mundo, facilitam a solidariedade e a união, de vez que a maioria dos espíritos encarnados, ainda cegos para a divina luz, reúnem-se e obedecem alegremente, ao redor do ouro ou do comando sobre os mais fracos.

Mas no Espiritismo é difícil aglutinar caracteres libertados, sob o estandarte nivelador da convenção.

Assim como aconteceu nos trezentos anos que antecederam a escravização política do Evangelho redentor, o discípulo da nossa Doutrina Consoladora pretende encontrar um caminho de acesso à vida superior.

Aceita as facilidades humanas para dar com largueza e desprendimento da posse.

Disputa o contentamento de trabalhar para servir.

Busca a liberdade para submeter-se às obrigações que lhe cabem.

Adquire luz para ajudar na extinção das trevas.

“Está no mundo sem ser do mundo.”

É alguém que, em negando a si mesmo, busca o Mestre da Verdade, recebendo, de boa vontade, a cruz do próprio sacrifício para a jornada de ressurreição.

E demorando-se cada discípulo, em esfera variada de trabalho, observamos que eles todos, à maneira de viajores, peregrinando escada acima, cada qual contemplando a vida e a paisagem do degrau em que se encontra, oferecem o espetáculo de almas em desajuste e extremamente separadas entre si, porquanto os habitantes do vale ou da planície, acostumados aos mesmos quadros de cada dia, com a repetição das mesmas nuances de claridade solar, não conseguem esquecer, de improviso, as velhas atitudes de muito tempo em nem podem entender o roteiro dos que se desinteressam da ilusão, caminhando, em sentido contrário ao deles, ao encontro de outra luz.


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Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Roteiro



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NÃO TEMAS



Somente com Jesus a alma cansada
Volve à praia do amor no mar da vida,
O viajor errante encontra a estrada,
Que o reconduz à terra estremecida.

A esperança, adiada e emurchecida,
Refloresce ao clarão de outra alvorada;
Todo o trabalho e dor da humana lida
São luzes da vitória desejada.

Sem Jesus, cresce a treva entre os escombros;
Ama a cruz que te pesa sobre os ombros,
Vence o deserto áspero e inclemente.

A aflição inda é grande em cada dia?
Não desprezes a Doce Companhia,
Vai com Jesus! não temas! crê somente!




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Espírito: Cornélio Bastos
Médium: Chico Xavier
Livro: Parnáso de Além-Túmulo



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A ÚLTIMA TENTAÇÃO


Dizem que Jesus, na hora extrema, começou a procurar os discípulos, no seio da agitada multidão que lhe cercava o madeiro, em busca de algum olhar amigo em que pudesse reconfortar o espírito atribulado...

Contemplou, em silêncio, a turba enfurecida.

Fustigado pelas vibrações de ódio e crueldade, qual se devera morrer, sedento e em chagas, sob um montão de espinhos, começou a lembrar os afeiçoados e seguidores da véspera...

Onde estariam seus laços amorosos da Galiléia?...

Recordou o primeiro contacto com os pescadores do lago e chorou.

A saudade amargurava-lhe o coração.

Por que motivo Simão Pedro fora tão frágil? Que fizera ele, Jesus, para merecer a negação do companheiro a quem mais se confiara?

Que razões teriam levado Judas a esquecê-lo? Como entregara, assim, ao preço de míseras moedas, o coração que o amava tanto?

Onde se refugiara Tiago, em cuja presença tanto se comprazia?

Sentiu profunda saudade de Filipe e Bartolomeu, e desejou escutá-los.

Rememorou suas conversações com Mateus e refletiu quão doce lhe seria poder abraçar o inteligente funcionário de Cafarnaum, de encontro ao peito...

De reminiscência a reminiscência, teve fome da ternura e da confiança das criancinhas galiléias que lhe ouviam a palavra, deslumbradas e felizes, mas os meninos simples e humildes que o amavam perdiam-se, agora, à distância...

Recordou Zebedeu e suspirou por acolher-se-lhe à casa singela.

João, o amigo abnegado, achava-se ali mesmo, em terrível desapontamento, mas precisava socorro para sustentar Maria, a angustiada Mãe, ao pé da cruz.

O Mestre desejava alguém que o ajudasse, de perto, em cujo carinho conseguisse encontrar um apoio e uma esperança...

Foi quando viu levantar-se, dentre a multidão desvairada e cega, alguém que ele, de pronto, reconheceu.

Era a mesmo Espírito perverso que o tentara no deserto, no pináculo do templo e no cimo do monte.

O Gênio da Sombra, de rosto enigmático, abeirou-se dele e murmurou:

– Amaldiçoa, os teus amigos ingratos e dar-te-ei o reino do mundo! Proclama a fraqueza dos teus irmãos de ideal, a fim de que a justiça te reconheça a grandeza angélica e descerás, triunfante, da cruz!... Dize que os teus amigos são covardes e duros, impassíveis e traidores e unir-te-ei aos poderosos da Terra para que domines todas as consciências. Tu sabes que, diante de Deus, eles não passara de míseros desertores...

Jesus escutou, com expressiva mudez, mas o pranto manou-lhe mais intensamente da olhar translúcido.

– Sim – pensava –, Pedro negara-o, mas não por maldade. A fragilidade do apóstolo podia ser comparada à ternura de uma oliveira nascente que, com os dias, se transforma no tronco robusto e nobre, a desafiar a implacável visita dos anos. Judas entregara-o, mas não por má-fé. Iludira-se com a política farisaica e julgara poder substituí-lo com vantagem nos negócios do povo.

Encontrou, no imo dalma, a necessária justificação para todos e parecia esforçar-se por dizer o que lhe subia do coração.

Ansioso, o Espírito das Trevas aguardava-lhe a pronúncia, mas o Cordeiro de Deus, fixando os olhos no céu inflamado de luz, rogou em tom inesquecível:

– Perdoa-lhes, Pai! Eles não sabem o que fazem!...

O Príncipe das Sombras retirou-se apressado.

Nesse instante, porém, ao invés de deter-se na contemplação de Jerusalém dominada de impiedade e loucura, o Senhor notou que o firmamento rasgara-se, de alto a baixo, e viu que os anjos iam e vinham, tecendo de estrelas e flores o caminho que o conduziria ao Trono Celeste.

Uma paz indefinível e soberana estampara-se-lhe no semblante.

O Mestre vencera a última tentação e seguiria, agora, radiante e vitorioso, para a claridade sublime da ressurreição eterna.



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Espírito: Irmão `X
Médium: Chico Xavier
Livro: Contos e Apólogos



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CONTRATEMPOS



Diante de quaisquer contratempos, pensa no bem.

O Trabalho estafante...
Será ele a providência que te habilita à vitória contra o assédio de perturbações que te espreitam a estrada.

O encontro perdido...
Semelhante contrariedade de certo apareceu, em tua defesa própria.

A realização adiada...
A procrastinação de teus desejos estará funcionando, em teu benefício, para que não entres em determinados compromissos fora de tempo.

A viagem desfeita...
O plano frustrado, provavelmente, é o recurso com que se te garante o equilíbrio.

O carro enguiçado...
O incidente desagradável é o processo de forrar-te contra acidentes possíveis.

O mal estar orgânico...
A enfermidade menor haverá surgido, a fim de induzir-te a tratamento inadiável.

A afeição que se afasta...
A separação vale por cirurgia no campo da alma, muita vez, resguardando-te a paz e a segurança.

A morte no lar...
A despedida de um ente querido, quase sempre, procede da Misericórdia do Senhor, no sentido de evitar sofrimentos maiores para aquele que parte, tanto quanto para aqueles que ficam.

Diante de qualquer obstáculo, reflete no bem, porque no curso de todas as circunstâncias, por trás dos contratempos da vida, a Bondade de Deus jaz oculta.




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Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Coragem



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MEDIUNIDADE E INTERCÂMBIO


Alguns símiles da vida para considerarmos a importância do serviço mediúnico no serviço espiritual:

Um aviador em ação, precisando de urgente aterrisagem, descerá em qualquer parte, conquanto sujeito a acidentes de conseqüências imprevisíveis.

Para que o pouso se verifique nas condições desejáveis, é forçoso disponha ele de aeroporto seguro.

Um motorista precisando alcançar apressadamente o destino, conduzirá o carro, através de qualquer matagal, conquanto sujeito a perdas e consequências imprevisíveis. Para que a viagem se verifique nas condições desejáveis, é forçoso disponha ele de rodovia correta.

Um fornecedor de maquinaria pesada precisando transpor sem delonga um grande rio para entregar tratores a clientes necessitados, utilizará o auxílio de embarcação ligeira, conquanto sujeito a desastres de conseqüências imprevisíveis. Para que a carga transite nas condições desejáveis, é forçoso disponha ele de ponte firme.

Assim também, na mediunidade.

Um benfeitor desencarnado precisando expressar-se, sem demora, no plano físico, aceitará o concurso de qualquer pessoa que lhe empreste apoio medianímico para isso, conquanto sujeito a incompreensões de conseqüências imprevisíveis. Para que o intercâmbio espiritual se verifique nas condições desejáveis, é forçoso disponha ele de médium preparado e lúcido, com noção de responsabilidade e reta noção do dever a cumprir
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Espírito: Albino Teixeira
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminho Espírita



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