O Arrebol Espírita

quinta-feira, 24 de abril de 2014

OS ESPÍRITOS E OS NOSSOS PENSAMENTOS


Os Espíritos podem ver tudo o que nós fazemos, visto que nos rodeiam incessantemente. Todavia, cada um não vê senão as coisas sobre as quais dirige sua atenção, porque com aqueles que lhes são indiferentes, eles não se preocupam.
Frequentemente, os Espíritos podem conhecer nossos mais secretos pensamentos, inclusive eles conhecem aquilo que queremos ocultar a nós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem lhe ser dissimulados.
É mais fácil esconder uma coisa de uma pessoa viva que fazê-lo a essa mesma pessoa depois de sua morte. E quando acreditamos estar bem ocultos, frequentemente, existe uma multidão de Espíritos, ao nosso lado, que nós vêem.
Depende muito da categoria dos Espíritos que estão ao nosso redor e, que nos observam, a análise que eles fazem de nós; por exemplo: Os Espíritos frívolos se riem dos pequenos aborrecimentos que nos suscitam e zombam das nossas impaciências. Os Espíritos sérios lastimam nossos defeitos e procuram nos ajudar.
RESUMO
Os Espíritos podem ver tudo o que fazemos, pois que constantemente nos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríamos ocultar até de nós mesmos. Nem atos nem pensamentos se lhes podem dissimular.
II - INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS SOBRE OS NOSSOS PENSAMENTOS E SOBRE AS NOSSAS AÇÕES
A influência dos Espíritos sobre os nossos pensamentos e as nossas ações, é maior do que podemos acreditar, frequentemente, são eles que nos dirigem.
Temos pensamentos que são nossos e outros que nos são sugeridos. Por exemplo: Somos Espíritos que pensamos, assim, não podemos ignorar que vários pensamentos nos alcançam, ao mesmo tempo, sobre o mesmo assunto e, frequentemente, bem contrários uns dos outros; então, há sempre de nós e outros que nos são sugeridos pelos Espíritos e, é isso que nos coloca na incerteza, posto que temos em nós duas ideias que se combatem.
Quando um pensamento é sugerido, é como uma voz que nos fala. Os pensamentos próprios são, em geral, aqueles do primeiro momento. De resto, não há um grande interesse para vós nessa distinção, e é frequentemente útil não sabermos. O homem age mais livremente e, se ele se decide pelo bem, o faz mais voluntariamente; se toma o mau caminho, não tem nisso senão mais responsabilidades.
Algumas vezes, os homens de inteligência e de gênio haurem ideias de sua própria natureza íntima, porém, frequentemente, elas lhes são sugeridas por outros Espíritos que os julgam capazes de as compreender e dignos de as transmitir. Quando eles não as encontram em si, apelam à inspiração; é uma evocação que fazem sem o suspeitar.
NOTA DE ALLAN KARDEC: Se fosse útil que pudéssemos distinguir claramente nossos próprios pensamentos daqueles que nos sugeridos, Deus nos teria dado o meio, como ele nos deu o de distinguir o dia da noite. Quando uma coisa é vaga, é que assim deve ser para o bem.
Não é exato dizer que o primeiro impulso é sempre bom; pode ser bom ou mau, segundo a natureza do Espírito encarnado. É sempre bom para aquele que ouve as boas inspirações.
Para distinguir se um pensamento sugerido vem de um bom ou de um mau Espírito, é necessário examinar o pensamento: os bons Espíritos só aconselham o bem; cabe a nós distinguir.
Os Espíritos imperfeitos nos induzem ao mal para nos fazer sofrer como eles. Eles fazem isso por inveja de verem criaturas mais felizes que eles. E normalmente a natureza dos sofrimentos que eles querem nos fazer experimentar e nos ver cair, para nos afastar de Deus.
Os Espíritos imperfeitos são instrumentos destinados a experimentar a fé e a constância dos homens no bem. O Espírito deve progredir na ciência do infinito e é por isso que passa pelas provas do mal para alcançar o bem. A missão dos Bons Espíritos é de colocarem os homens no bom caminho, e quando as más influências agem sobre o homem, é que ele as atrai sobre si pelo desejo de fazer o mal, quando ele tem vontade de praticá-lo. Os maus Espíritos não tem condição de ajudar alguém de fazer o mal, senão quando esse alguém desejar praticar o mal. Se uma pessoa tiver propensão ao homicídio, terá uma multidão de Espíritos que procurarão manter esse pensamento nessa pessoa; mas, também, terão outros que se esforçarão em influenciar essa pessoa a ter bons pensamentos, o que faz restabelecer a balança, e fazer com que essa pessoa decida por si mesma, de praticar o homicídio ou não.
NOTA DE ALLAN KARDEC: É assim que Deus deixa à nossa consciência a escolha do caminho que devemos seguir, e a liberdade de ceder a uma ou outra das influências contrárias que exercem sobre nós.
Pode-se libertar da influência dos Espíritos que nos solicitam ao mal, porque eles não se ligam senão aos que os solicitam por seus desejos ou os atraem por seus pensamentos.
Os Espíritos cuja influência é repelida pela vontade, renunciam as suas tentativas. Quando não há nada a fazer, eles cedem o lugar; entretanto, aguardam o momento favorável, como o gato espreita o rato.
O único meio de neutralizar a influência dos maus Espíritos é fazendo o bem e colocando toda a confiança em Deus, assim, se repele a influência dos Espíritos inferiores, e se destrói o império que eles querem tomar sobre nós. Deve-se evitar de escutar suas sugestões, ou seja, aquelas que suscitam os maus pensamentos, as discórdias e aquelas que excitam as más paixões. Deve-se desconfiar sobretudo, daqueles que exaltam o orgulho porque as tomam por nossa fraqueza. Eis porque Jesus nos faz dizer na oração dominical: “Senhor! não nos deixeis sucumbir à tentação, mas livrai-nos do mal”.
Nunca um Espírito recebe a missão de fazer o mal. Quando ele o faz é por sua própria vontade e, por conseguinte, lhe suporta as consequências. Deus pode deixá-lo fazer para nos experimentar, mas não lhe ordena, e está em nós a decisão de repeli-lo ou não.
Quando experimentamos um sentimento de angústia, de ansiedade indefinível ou de satisfação interior sem causa conhecida, são quase sempre, comunicações que temos inconscientemente, com os Espíritos, ou que tivemos com eles durante o sono.
Os Espíritos que querem nos excitar ao mal, aproveitam a circunstância, mas, frequentemente, a provocam, compelindo-nos, inconscientemente, ao objeto da nossa cobiça. Assim, por exemplo, um homem encontra sobre seu caminho uma soma de dinheiro; não creiais que foram os Espíritos que levaram o dinheiro para esse lugar, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se apoderar dele, enquanto outros lhe sugerem o de entregar esse dinheiro aquele a quem pertence. Ocorre o mesmo em todas as outras tentações.
RESUMO
Os Espíritos influem a tal ponto, em nossos pensamentos e atos, que de ordinário são eles que nos dirigem. No conjunto de nossos pensamentos estão sempre de mistura os que são nossos e o que são dos Espíritos. Daí a incerteza em que nos vemos quando temos duas ideias a se combaterem em nossa mente. Mas o homem tem o direito de agir com liberdade; se si decide pelo bem, melhor para ele; se si decidir pelo mal, assumirá responsabilidade de seu ato. Pode o homem eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal, visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.

Estudo com base em
O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Obra codificada por Allan Kardec

terça-feira, 22 de abril de 2014

O AMOR PASSIONAL


Muito tem sido escrito e falado sobre o amor. Seu conceito, entretanto, tem sido frequentemente distorcido. Talvez o maior erro seja rotular a forma física do amor entre homem e mulher como pecaminosa. O amor, em sua natureza, é somente espiritual. O amor físico (erótico) é apenas seu reflexo no plano físico. O amor físico é natural e desejado por Deus. Como as pessoas podem aceitar a ideia de que a naturalidade dada pelo Criador, a qual dá lugar a toda vida biológica, é pecaminosa? Ninguém percebeu o quão enorme é a quantidade de energia que emana da força sexual? Ninguém ainda notou como brilham duas pessoas que são puras no amor?
Aí se segue outra distorção: declarar a mulher como um ser inferior. Durante séculos, mulheres foram usadas como moeda de troca por suas novilhas, territórios, e Reinos. Após a troca, onde não havia espaço para o amor, o ritual de um padre supostamente santificava o abuso sexual nestas mulheres pelos homens, para livrarem-se do pecado!
Já há muito tempo poderíamos ter deduzido que a qualidade do amor entre um homem e uma mulher é determinante na qualidade da próxima geração. Quão diferentes são as crianças concebidas a partir do amor daquelas que são geradas somente a partir do sexo!
A terceira perversidade e negação do amor é a fornicação. A fornicação é um ato sexual sem o amor mental e espiritual. Portanto, sexo em troca de dinheiro, de paz no casamento, sexo a partir de curiosidade erótica, da vaidade, do auto-abuso, sexo precoce, homossexualidade, sexo entre parentes, perversão, e especialmente sexo por prazer. Quando a relação sexual está baseada no amor espiritual, seu motivador é o desejo de proporcionar ao parceiro carinho, para equilibrar a energia sexual do espírito do parceiro. Então, é um ato de doação! Quando a relação sexual está baseada no egoísmo, sua motivação é de obter prazer somente para si. Como resultado destes motivos conflitantes: dar – receber, ações energéticas a partir de processos eróticos ocorrem completamente diferente. Se o motivo é dar, então o parceiro recebe energia e é grato ao amor, sentindo-se revigorado, equilibrado e feliz. Não se sente cansado! Entretanto, se o motivo é apenas receber, então o espírito do parceiro é privado de energia e o resultado é uma sensação de cansaço, de desgosto, de futilidade. Deus proibiu as pessoas do ato da fornicação para seu próprio bem! O resultado da fornicação é a perda do poder sexual e vital. Não importa se acontece dentro ou fora do casamento.
A quarta distorção é o fato de manter o processo do amor físico sob um véu de segredos.
A Luz não tem segredos. Os jovens deveriam ser plenamente informados a respeito. Entretanto, o papel de instrutor tem sido frequentemente exercido por pessoas para as quais nada importa, exceto a matéria física. São os conhecidos sexólogos. Como se o amor pudesse ser estudado! O que podem dizer sobre a espiritualidade e os sentimentos, que são pré-requisitos para o amor verdadeiro? Eles somente sabem ensinar como fornicar! Em sua opinião, a finalidade do ato sexual é descarregar a energia sexual, a assim chamada gratificação sexual, e não a de doar ao parceiro o poder sexual.
Outra manifestação de distorção e de ignorância é a de alegarem de que o único propósito da ligação sexual é o da reprodução. Estes têm como ideal uma família com doze filhos os quais os pais nem sequer podem sustentar, educar com responsabilidade ou dar a devida atenção. O resultado então não é o paraíso na terra, que deveríamos construir, mas sim o vale de lágrimas onde somente a esperança pelo “céu após a morte” é muito bem vendida. A sabedoria do amor também inclui a paternidade consciente e responsável!
A sexta manifestação de distorção é agir contra a criatividade, portanto, também contra a criatividade do amor. O entorpecimento e estereótipo resultam na perda da alegria do amor.


Condições para atingir o verdadeiro amor:
A primeira condição é a dimensão espiritual desenvolvida do ser humano. Somente pessoas vivas em seu espírito são capazes de receber a radiação do amor do Criador, de serem afetadas por ela e de assim também poderem oferecê-la a seu parceiro. Neste caso, o amor espiritual e emocional controla a direção do instinto sexual. A condução espiritual destes seres humanos proporciona o encontro de seu parceiro ideal, no tempo certo. As pessoas que não desenvolveram sua dimensão espiritual são incapazes de amar verdadeiramente.
A segunda condição do verdadeiro amor é a igualdade. A igualdade não se trata somente de um estado legal. Para entendê-la, precisamos, primeiramente, perceber que o espírito feminino é diferente do masculino. Os homens são caracterizados por sua energia criativa ativa – por sua atividade, tenacidade, firmeza, racionalismo, e estão melhores instrumentados para a vida material. Por outro lado, as mulheres são caracterizadas por sua energia criativa passiva, pela capacidade de receptividade, intuição, adaptação, sensibilidade, e estão melhores aparelhadas para perceber o mundo espiritual. Os homens possuem uma predisposição maior para ter uma visão racional do mundo enquanto as mulheres enxergam o mundo mais emocionalmente. Suas conexões mentais interiores enriquece ambos, permitindo uma visão mais coerente do mundo e complementando um ao outro. Estar ciente das qualidades do sexo oposto é fundamental para a construção do amor. O que amamos na outra pessoa são as características de sua personalidade que tremulam sob a vontade de Deus, e as quais não possuímos. Então, na verdade, mesmo ao amar nosso parceiro, estamos amando a Deus, a fonte de toda bondade.
A terceira condição para o amor verdadeiro é a humildade – a percepção da própria imperfeição. A partir do amor ao parceiro, tenta-se, primeiramente, esconder os próprios traços ruins e assim eliminá-los. Este esforço é a concreta manifestação do amor; é o maior dom, pois exige o esforço máximo. Ninguém quer mudar a si mesmo! Somente a magia do amor é o gatilho que transforma a característica própria com a intenção de trazer alegria à pessoa amada. Assim, o amor é o maior estímulo para o crescimento espiritual.
A quarta condição para o verdadeiro amor é a completa transparência e sinceridade. É necessário que se conte tudo ao parceiro; é a única forma de tornar parte um do outro! Aqueles que não conseguem isso não são merecedores do amor verdadeiro. Os sexólogos, ao contrário, ensinam aos parceiros sobre os assim chamados jogos conjugais, cuja essência é a simulação do comportamento. Os parceiros têm que atuar como atores e não levam nada muito a sério; jogam o jogo da vida na vida real.
Assim, os chamados casamentos persistem; pois de outra forma seriam denominados polígamos (tendo mais que um parceiro). Mas aqueles que dizem tais coisas nunca experimentaram o estado do verdadeiro amor. O amor é perfeitamente monogâmico! Quando um homem e uma mulher estão internamente conectados, ambos ficam automaticamente “castrados” e fechados para outros. Isto significa que não conseguem ver outros como objetos sexuais. Devido ao fato de as relações verdadeiras haverem virtualmente desaparecido, o desejo pelo sexo oposto surge em nosso subconsciente; e todos, solteiros e casados, são constantemente atraídos eroticamente pelo sexo oposto. Seu subconsciente está continuamente procurando pelo amor verdadeiro, não sendo capaz de encontrá-lo.
A quinta condição para o amor verdadeiro é a completa desconsideração de posses materiais, e de relações social e familiar no relacionamento. Ai daqueles que tentam impedir o amor verdadeiro por tais motivos. O que Deus uniu que nenhum ser humano separe! O amor é a negação da influência do mal; portanto, por meio dos adversários do amor verdadeiro, o mal atribui tal importância aos motivos legais e racionais.
A sexta condição para o amor verdadeiro é estar preparado para ele e orar por ele. Para aqueles que batem, a porta será aberta. Entretanto, devem ser merecedores do amor verdadeiro e estarem preparados para ele. De acordo com a lei da uniformidade, o homem preparado encontra a mulher preparada e o homem despreparado encontra a mulher despreparada. No último caso, há somente uma solução: os esforços mútuos em direção ao aperfeiçoamento; afinal de contas, foi para tal fim que se encontraram. Assim, podem ambos se transformar em pessoas melhores.
O amor verdadeiro entre um homem e uma mulher é o doar recíproco – a doação incondicional e sem exigência de reconhecimento, pois esta é a natureza do mundo. Aqueles que param de doar, perdem a capacidade de amar. Portanto, caem no egoísmo, na solidão e no desespero. Não são punidos; punem-se a si mesmos pelo desrespeito à ordem espiritual da Criação.


Fonte:
 http://www.conhecimento-espiritual.net.br/artigos/o-amor-entre-homem-mulher.php

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O AMIGO LEAL



Falávamos de afeto e ligações humanas,
Destacando uniões formosas e ideais,
Tanto quanto anotando atitudes insanas
Que, muita vez, transpiram
De casos passionais,
Quando um amigo afável e sizudo,
Que nos seguia o estudo,
Exclamou para nós, de modo convincente:

- Tudo quanto dizes é verdade inconteste
Sobre os entes queridos que lembrais,
Entretanto, igualmente,
Se falamos de amor, é preciso se ateste
O amor dos animais.

E como se tivesse ali, de lado,
O passado recente,
Contou, emocionado:
- Em minhas lides de engenheiro,
Fui, certa vez, designado
Para serviços na fronteira;
Levei comigo a companheira,
O pequeno filhinho, -
- um garoto de aninho, -
E o nosso velho cão policial
Que recebera, em nossa companhia,
O nome de Leal.
No trabalho incessante em que me via,
Fosse qual fosse o ambiente,
Possuía em Leal o cão valente
Que nos guardava a casa, dia-a-dia;
Ensinei-o a velar por nosso pequenino
E dedicou-se o cão, de tal maneira,
Que mantinha atenção, semana inteira,
Entre a porta do quarto e o berço do menino.
Morávamos, então, no agreste bravo...
Achavam-se, não longe, algumas feras;
Era o lobo e, além dele, era o jaguar,
A rondarem malocas e taperas...
Necessário, porém, agir e trabalhar,
Orientando a agrimensura.
Tinha sempre dois homens, de vigia,
Na defesa do lar,
Junto de atenciosa governanta.
Minha esposa saía
Algumas vezes para compras justas,
Usando o nosso jipe reforçado
Para atingir pequeno povoado...

O narrador fez pausa e tornou, em seguida,
Expressando-se em voz mais comovida:
- Certo dia de ação com mais ampla demora
Voltei ao lar, mais tarde... Noite escura...
Ausentara-se a esposa e a governanta
Atendia, em conversa, um tanto lá por fora,
A diversos parentes
Que, por certo, lhe vinham à procura...
Os vigias andavam pela brenha
Buscando para nós
Alguns feixes de lenha...
Acompanhado de um amigo,
Ansioso, ouvi a voz
De meu filhinho em algazarra...
Naquele choro de pavor,
Pressentia perigo
Francamente, a gelar-me...
Em vão, tentei fazer qualquer alarme;
O companheiro me seguia,
Enquanto, em minha inquietação,
Só escutava a gritaria
Do filhinho a cortar-me o coração...
Varei a porta aberta
Da habitação que vi claramente deserta...
Foi, então, que a tremer, desorientado,
Vi o cão a correr para junto de nós;
Leal se nos mostrava, ensanguentado...
Mancando, ele gania,
Não sei se de loucura ou de agonia...

O companheiro disse a mim:
- O cão está zangado, dê-lhe o fim,
É preciso afastá-lo, sem tardança,
Deve ter atacado a indefesa criança.

Tomado de terror, atirei sobre o cão,
E, ganhando os recessos do aposento,
Vi meu filhinho salvo, aconchegado ao leito,
Sem qualquer sofrimento,
Mas um jaguar jazia, ali no chão,
Certamente abatido por Leal.
O cão, com segurança e eficiência,
Liquidara, afinal,
A fera perigosa
Que penetrara em nossa residência.

Com meu filho nos braços
Retornei à presença de meu cão;
Ansiava mostrar-lhe a nossa gratidão,
Mas Leal enviou-me um derradeiro olhar...
Sufocado pela dor, nada pude falar.
No instante de morrer, no terrível revés,
Leal ainda arrastou-se com cuidado
Para beijar-me os pés!...

Calou-se o narrador,
Sob o peso cruel da própria dor.
Depois, disse a chorar:
- Neste Infinito Espaço em que habitamos,
Deve haver um lugar
Que acolha os animais,
Amigos quase humanos,
Em plena evolução, à busca de outros planos...
Sempre aceitei os cães por nossos cireneus,
Os animais também são criaturas de Deus...

Aquela história viva,
Que ouvíramos, ali, de ânimo atento,
Fez o ponto final de nosso entendimento.

No entanto, o companheiro,
Que nos falava de Leal,
Fitava o Azul Imenso, a Pátria Universal,
E, qual se transmitisse um sublime recado
Ao próprio coração,
Clamava, consternado:
- Deus não me negará resposta à constante oração...
Hei de achar o meu cão!... Hei de achar o meu cão!...

***
Espírito: Maria Dolores
Médiuns: Chico Xavier
Livro: Caminhos do Amor

Compilado por: r.s.durant dart

MISSÃO DE MULHER


 
Missão de Mulher

Jovem prendada e linda, era a própria beleza,
Rosa de inteligência e natureza,
Viera de remoto povoado,
Com tarefas de estudo e sonhos de noivado,
E conquistara enorme simpatia...
Fizera-se modelo e se reconhecia
O ponto alto das exibições,
Favorita do brilho em passarela,
Pisando corações...

Ela encontra, por fim, num jovem rico e nobre
A cortina de ouro em que se encobre.

Quatro anos de luxo nos salões
Tornaram-na famosa e cada vez mais bela.

Certo dia, no entanto, inesperadamente,
Uma carta lhe chega... Vem da vila
Em que passara a infância humílima e tranquila,
É da mãezinha que se diz doente...
Falecera-lhe o irmão, seu único parente,
Declarava-se triste e desolada,
Incapaz de ganhar o próprio pão...
Rogava à filha proteção,
Sentia-se sozinha e fatigada
E, sobretudo, estava em luta insana,
Pois era agora triste hanseniana.

A moça treme revoltada
E, às súbitas, planeia
O que admite por melhor medida;
Não quer aquela mãe que a desnorteia;
Detestaria ver-se diminuída
Perante o homem que ama.
Age arbitrariamente,
Adita ao próprio nome um nome diferente
Na rude inquietação que ela própria extravasa...
E, mudando de casa,
Permaneceu na expectativa...

Realmente, depois de algum tempo passado,
Senhora hanseniana morta-viva
Bate-lhe à porta, em tom desesperado;
Servidores atendem, entretanto
Ela quer ver a filha que ama tanto,
Colhendo reiterada negativa.
Mas sabendo-a sentada sobre o piso
Que dava acesso ao grande apartamento,
A própria moça surge, de improviso,
A gritar-lhe, de ânimo violento:
- Saia daqui, depressa! Vá-se embora!...
Não conheço a senhora
E caso aqui persista,
Tenho a polícia à vista!...

- Filha, dize por que... -
Exclamou a mulher agoniada, -
Estarei eu assim tão deformada
Que o seu olhar já não me vê?
Não ficarei aqui, não lhe trarei perigo,
Mas não vês que a mãezinha está contigo?

- A senhora não passa de embusteira, -
Falou a moça, a gestos desumanos.
- Minha mãe já morreu, há muitos anos...
Velha tonta,
Não sei como se fez aventureira,
Mas a polícia vai tomar-lhe a conta...

Minutos decorridos,
Enquanto a pobre mãe chorava, angustiada,
Uma ambulância veio em disparada
E conduziu-a para um sanatório.

Trinta anos passaram sobre a cena,
A filha desposara o jovem que a queria.
O casal conjugava a fortuna e a alegria,
Ele, o industrial, ela, a nobre senhora,
E um filho nobre e forte
Surgiu-lhes a brilhar
Por tesouro do lar.
Quanto à pobre mulher deixara a enfermaria,
Conseguira curar-se,
Mas não mostrava mais a face antiga,
Era triste velhinha sem disfarce,
Desditosa mendiga...
Conhecida por velha hanseniana,
Já sofrera de sobra a zombaria humana...
Morava numa furna abandonada,
Não distante da fábrica de tubos
E outros artigos de eletricidade
De que o neto distinto era dono e gerente...

Sabendo-se que fora humilhada e doente,
Cobria-se com capa esburacada
E, lembrando uma sombra a pervagar na estrada,
Pedia aqui e ali, um socorro qualquer...
Mas em torno da fábrica era o ponto
Em que a infeliz mulher
Parecia um rondante, atento e pronto,
A observar o que passasse...
Se encontrava o gerente, face à face,
Dizia, constrangida: - Uma esmola, doutor!...
Intrigado o rapaz notava aqueles olhos
Que o miravam, mostrando imenso amor...
Dava-lhe algum dinheiro, atento a isso,
Depois seguia adiante
Mergulhando a atenção em seu próprio serviço...

Seguia o tempo em marcha regular,
Quando veio a estourar
Na fábrica tranquila
Um grande movimento
De protesto violento,
Que englobava, por si, todo o operariado...
A gerência estudava ação conciliadora
E os conflitos surgiam, lado a lado.

No ápice da luta,
A velhinha cansada, dia-a-dia,
Observa o extensão da rebeldia,
Mantendo-se, de guarda, ao pé das oficinas,
Qual um posto de escuta.

Certa noite, enxergou dois delinquentes
Quando os vigias cochilavam fora,
Agiam, sem que a vissem trêmula e calada...
Uma porta se arromba
E os dois, dentro da fábrica isolada
Colocam grande bomba,
No intuito de gerar perturbação,
E fogem, assustados, do recinto...

Ela entra em ação,
Obedecendo ao próprio instinto...

O estopim fumegava... Ela, porém,
Sem o concurso de ninguém,
Toma nas mãos o engenho destruidor,
Avança sem temor,
Sai pela porta afora,
Correndo sem a mínima demora,
Mas, antes que atirasse a bomba ao chão,
Dá-se a grande explosão.

A fábrica salvara-se.
Ela, porém, tombara
Mortalmente ferida...

Faz-se tumulto, em torno... Eis o chefe a chegar...
Reconhece a velhinha e determina
Que ela seja tratada
Por valente heroína...

Foi no hospital a derradeira cena.
Finava-se a velhinha devagar,
Mostrando no semblante a beleza serena
De quem transmite paz no próprio olhar...

Eis que, em dado momento,
Ela percebe vozes e alarido;
Ao formoso aposento
O gerente trouxera os pais com garbosa alegria;
Deviam ver a pobre que morria
E que o amara tanto...

O casal aproxima-se... A senhora
Treme ao reconhecer a mãe que rejeitara outrora...
Enquanto filho e pai conversam à distância,
Ajoelha-se a filha, ante a mulher que morre...
Ela perde perdão no pranto que lhe escorre
Dos olhos espantados...
Contudo, a agonizante ao percebê-la,
Ciciou as palavras: - Minha estrela!...
Ouvindo-a soluçar,
Consegue novamente sussurar:
- Filha do coração, Jesus a trouxe aqui...
Depois disse ao cair, em profundo torpor:
- Não chores, meu amor,
Eu nunca te esqueci...

Lá fora, o Sol, em tudo, era vida e esplendor,
Parecendo dizer na própria chama
Que, desde a luz dos Céus aos abismos da lama,
Deus, em todo o Universo, é a Presença do Amor.

***
Espírito: Maria Dolores
Médiuns: Chico Xavier
Livro: Caminhos do Amor


MANCHETE



E, atravessando a rua, amedrontada, ouvia
As manchetes do dia.

Alguém comunicava: os assaltantes
Depredaram a casa,
Em rápidos instantes;
Depois, deixaram tudo em brasa.
Os moradores de regresso
Revoltaram-se, em vão...

Mais adiante, um amigo,
Sem disfarçar a própria irritação,
Dizia para outro: O meu bairro é um perigo...
Ontem, presenciamos três assassinatos,
Com agressões, injúrias, desacatos...

Um passo acima, e uma senhora ao lado,
Informava num grupo: O horrível acidente
Que arrasou e feriu a tanta gente
Foi simplesmente provocado.
A polícia está certa...
A pesquisa mais ampla foi aberta
Para que se conheça os responsáveis.

Além, um moço, por sinal,
Exibia uma folha de jornal
A expressar-se com voz cansada e constrangida:
- Minha noiva foi morta
Pelas balas de alguém que a deixaram sem vida!...
O meu sonho ruiu, falta-me a confiança,
Não sei se penso em ódio ou se penso em vingança...

Mais adiante ainda, um jovem comentava:
- É um destino cruel que se grava na Terra,
Tudo indica no mundo o início de outra guerra,
Tão destrutiva quanto as que tivemos...
Duras tribulações nos últimos extremos,
Dolorosas visões, de batalha em batalha,
Orfandade e viuvez, ao fragor da metralha!...
Logo após, concluía em alta voz:
- Que informações terríveis sobre nós!...


Dominada de estranha sensação,
Busquei, num parque amigo, a bênção da oração...
Depois, fitei o sol do entardecer
E o pranto de emoção
Jorrou-me do mais íntimo do ser...

Em meio de sublime encantamento,
Notei num quadro magistral
Que os pintores do Além
Haviam desenhado em Plano Azul
A face do Senhor no firmamento...
E sob aquele olhar magnânimo e profundo,
Detido a contemplar os conflitos do mundo,
Escreveram, em luz de etérea purpurina,
A palavra do Cristo, em manchete divina:
- Amados meus, por quê?
Por que tanta discórdia e tanto sofrimento?
Eu apenas voz disse:
Eis que vos dou um novo mandamento,
No resumo integral de toda a Lei:
- “Amai-vos uns aos outros,
Tal qual eu vos amei”.
***
Espírito: Maria Dolores
Médiuns: Chico Xavier
Livro: Caminhos do Amor