O Arrebol Espírita

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A NOSSA JUSTIÇA


Certo dia, o Homem de Nazaré nos alertou e o Evangelista Mateus registrou, com a certeza de que muito precisaríamos meditar a respeito: Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.

As anotações históricas nos dizem que aqueles homens citados por Jesus praticavam uma justiça exclusivamente a seu favor.

Para si mesmos, os seus familiares e amigos, tudo. Para os desafetos, os inimigos, nada.

Contudo, a justiça estabelece que a cada um deve ser dado conforme seu merecimento.

Quando analisamos os nossos próprios atos, logo constatamos que andamos distantes da verdadeira justiça. De um modo geral, nos dizemos indignados com a injustiça que vemos no mundo, diariamente. Alguns nos engajamos em movimentos de defesa dos direitos humanos e saímos às ruas, portando cartazes, exigindo que a justiça se faça.

Invocamos os direitos dos considerados minorias, escrevemos artigos a respeito, concedemos entrevistas, falamos no rol de amigos e conhecidos, no intuito de alerta e engajamento à nossa causa.

Entretanto, como vivemos em uma sociedade de homens imperfeitos, natural que o nosso sentido de justiça, por vezes, se apresente equivocado.

Nosso comportamento afirma que, embora clamemos por justiça, para nós e para os outros, nossos atos não são dignos dos homens justos.

É por isso que, quando batemos no carro do outro, se pudermos, fugiremos, na tentativa de escapar da responsabilidade.

Mas, quando alguém bate no nosso, exigimos nossos direitos. Procuramos cercar o causador do acidente, fotografamos, tomamos nota de todos os seus dados pessoais, contatos, pois desejamos o ressarcimento do dano que ele nos causou.

Outro exemplo que nos diz o quanto ainda estamos longe da verdadeira justiça é que, invocando nossos direitos, promovemos greves e passeatas por melhores salários.

Contudo, não lembramos de ajustar e melhorar o salário dos nossos servidores mais próximos, de forma espontânea.

Reclamamos que a cidade está suja, abandonada, que a autoridade competente se omite. Entretanto, mais de uma vez, atiramos papéis à rua, enquanto transitamos pelas avenidas que desejamos ver limpas.

Passeando por jardins públicos, quantas vezes arrancamos mudas de flores que queremos desabrochem em nosso próprio jardim?

E, quantas vezes, alegando necessidade imperiosa, estacionamos nosso carro sobre calçadas por onde as pessoas devem passar?

Sim, queremos justiça, porém, não vivenciamos o princípio básico: Fazer ao outro o que para nós desejamos.

Quando promovemos festas em nossa casa, quantas vezes exageramos o volume do som, não nos importando se a vizinhança deseja ouvir aquelas músicas, ou se crianças pequenas, idosos e doentes se encontram em repouso.

Nosso critério de democracia está equivocado porque temos um conceito que só serve para nós, que é contra os outros. No entanto, a democracia propõe o direito de todos, a justiça para todos.

Se não respeitamos os demais, como desejamos invocar justiça para nós?

Pensemos nisso e acolhamos a proposta de amor e justiça de Jesus. Então, a nossa avaliação de justiça será correta e precisa.

***
Redação do Momento Espírita, com ideias extraídas do programa televisivo Vida e Valores, gravado por Raul Teixeira, em abril de 2008, no Teatro da FEP; com citação do Evangelho de Mateus, cap. 5, versículo 20. 


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

COLHEITA


Se consegues guardar o coração
Sem queixumes em vão,
Além das nuvens densas,
Feitas em vibrações de sarcasmos e ofensas,
Sem que a força da fé se te degrade,
Quando rugem, lembrando tempestade...

Se olhas pare o mal que te rodeia,
Respeitando, em silêncio, a luta alheia,
Se não te fere ouvir
A expressão que te espanca ou te censura,
No verbo avinagrado da amargura,
Sem alterar teu sonho de servir...

Se Logras conservar a luz no pensamento,
Ante os assaltos do tufão violento,
Que se forme da injúria que atraiçoa,
E trabalhas sem mágoa e ajudas sem tristeza,
Plantando o reconforto, a bondade e a beleza,
Sem perder a esperança na alma boa...

Se já podes, enfim,
Converter toda lama em trato de jardim
E criar alegria em tua própria dor,
Para auxílio a quem chora ou socorro de alguém,
Então terás chegado à compreensão do bem,
Para viver em paz, na vitória do amor!...


***
Espírito: Maria Dolores
Médium: Chico Xavier
Livro: Antologia da Espiritualidade


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

sexta-feira, 24 de abril de 2015

ANTI-OBSESSÃO



Prejudicial qualquer atitude tendente a acirrar a intemperança ou o ódio de nossos adversários.
Forçoso transformá-los para o bem, a preço de humildade e de amor.

Não vale caminhar sob o lenho da mágoa.
Aconselhável dissolver o peso morto de quaisquer golpes na fonte do esquecimento.

Inútil gritar contra as próprias dívidas.
Imperioso examiná-las com serenidade para configurar com elas a maneira mais segura de pagamento.

Ruinosa qualquer irritação à frente do obstáculo.
Razoável estudá-lo para a devida superação.

Absolutamente negativa a decisão de agitar as próprias cadeias.
Justo analisar os motivos da prisão, a fim de saná-los.

Amigos, convençamo-nos de que aversões, animosidades, conflitos acalentados e ressentimentos, sejam quais forem, são pontos de contato para tomadas de obsessão e toda obsessão é entretecida de trevas.

Não adianta, dessa forma, esbravejar contra as sombras. Para arredá-las, é preciso acender uma luz.

***
Espírito: Albino Teixeira
Médium: Chico Xavier
Livro: Paz e Renovação


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

MUDANÇA DE PLANO



Não esperes pela morte do corpo físico para realizares o serviço da própria elevação.

Cada dia é oportunidade de ascensão ao melhor.

Cada tarefa edificante é degrau com que podemos subir às esferas superiores.

Todos respiramos em planos distintos e todos podemos alcançar horizontes mais altos.

Se te habituaste à irritação, cultiva o silêncio e a tolerância, com os quais te desvencilharás dos laços sombrios da cólera, penetrando os domínios da luz.

Se tens a infelicidade de comprar inimigos, através de atitudes impensadas, detém-te na serenidade e aprende a servir aos teus desafetos, alcançando, assim, o reino brilhante da simpatia.

Se ainda te debates nos desvãos da ignorância, não te esqueças do esforço na leitura sadia e edificante para a aquisição do conhecimento e da sabedoria.

Se respiras no resvaladouro da queixa, esquece a ociosidade e o desânimo, e, erguendo-te para o trabalho digno, consagra-te ao suor enobrecente, a fim de incorporares ao teu patrimônio espiritual o otimismo, a paz, o bom ânimo e a alegria.

Há milhões de "círculos de vida", dentro de nossa residência planetária.

O verme agarra-se à escuridão do subsolo.

O batráquio mora no charco.

A ave plana e canta na altura.

A chama envolve-se nas emanações da luz que irradia.

Assim, também, cada alma reside na esfera de ideal e pensamento que forma para si mesma.

Quem deseje, pois, um mundo melhor pode avançar, pelo trabalho e pela boa-vontade, no roteiro da ascensão, desde hoje.

***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Correio Fraterno


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

sábado, 11 de abril de 2015

É SEMPRE...


Meu amigo, em cada golpe
Da luta que nos reclama,
A divisa em toda parte
É sempre: "perdoa e ama".

Perante qualquer assunto
Do mundo que nos magoa,
A legenda, cada dia,
Será sempre: "ama e perdoa".

À frente de toda injúria,
Em forma de pedra e lama,
A fórmula do caminho
É sempre: "perdoa e ama".

Em toda dificuldade
Na fé que nos abençoa,
A senha, no amor de Cristo,
Será sempre: "perdoa e ama".

***
Espírito: Casimiro Cunha
Médium: Chico Xavier
Livro: Correio Fraterno


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)


NOTA DE PAZ


Ouviste oradores inflamados, advogando a causa da paz sobre toneladas de pólvora e anotaste a presença de supostos vanguardeiros do progresso, solicitando-a sobre montões de ruínas.

Esperam-na, fomentando a desordem e falam dela portando rifles.

No plano maior, os poderosos alinham bombas e os fracos acumulam desesperos.

Talvez, por isso, em plano menor, muitos adotaram fórmula idêntica. Em sociedade, acreditam que a astúcia vale mais que a honestidade e, no campo individual, aceitam o egoísmo à feição de senhor. Afirmam-se cultores da harmonia, concorrendo às maratonas da discórdia, refere-se à indulgência, disputando o campeonato da crítica, aconselham bondade, acentuando a técnica de ferir e reporta-se ao mundo, regurgitando pessimismo, como quem segue adiante a engulhos de enxurrada e veneno.

E a equação de todos esses desatinos será sempre a guerra... Guerra de princípios, guerra de interesses, guerra fria superlotando manicômios, guerra quente esparzindo a morte.

Sabes, porém, com a Doutrina Espírita, que a consciência carrega consigo, onde esteja, o fruto das próprias obras.

Não incensarás, desse modo, o delírio dos que apregoam a concórdia, incentivando o dissídio, a rebelião, a injúria e o desânimo.

Trabalharás, infatigavelmente, pelo bem de todos, aperfeiçoando a ti mesmo e sabendo que caminhas em penhor de tua própria imortalidade, para a exaltação da vida eterna, com a paz verdadeira começando de ti.

***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Ideal Espírita



(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

DEUS PRIMEIRO





Caminharás, muitas vezes, no mundo, à maneira de barco no oceano revolto, sob a ameaça de soçobro, a cada momento; entretanto, pensa em Deus primeiro e encontrarás o equilíbrio que reina, inviolável, no seio dos elementos.

Se a natureza parece descer à desordem, prenunciando catástrofe, não permitas que a tua palavra se converta em agente da morte. Fala em Deus primeiro.

Antes das destruições que hoje atribulam a Humanidade, outras destruições ocorreram ontem, mas Deus plantou, em silêncio, novas cidades e novos campos onde a ventania da transformação instalara o deserto.

Se os profetas da calamidade e da negação anunciarem o fim do mundo, traçando quadros de aflição e terror, crê em Deus primeiro. Recordando que ainda mesmo da cova pequenina, em que a semente minúscula é sepultada, o Senhor faz nascer a graja do perfume e a beleza da cor, a abastança da seiva e a alegria do pão.
Se a dor te constringe o peito, em forma de angústia ou abandono, tristeza ou enfermidade, recorre a Deus primeiro.

Ele será teu refúgio na tempestade, companheiro na solidão, esperança nas lágrimas, remédio no sofrimento.

Diante de toda provação e à frente dos próprios erros, busca Deus primeiro.

Ele, que mantém as estrelas no Espaço e alimenta os vermes no abismo, ser-nos-á sustento e consolo.

Nesse ou naquele problema, quanto nessa ou naquela dificuldade, confia em Deus primeiro e sentirás que a nossa própria vida é uma bênção de luz, para sempre guardada nos braços do Amor Eterno.

***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminho Espírita



(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

quinta-feira, 9 de abril de 2015

NA VINHA DO SENHOR



 Instalado na casa modesta que seria, mais tarde, em Jerusalém, o primeiro santuário dos apóstolos, Simão Pedro refletia...

Recordava Jesus, em torno de quem havia sempre abençoado trabalho a fazer.

Queria ação, suspirava por tarefas a realizar e, por isso, orava com fervor.

Quando mais ardentes se lhe derramavam as lágrimas, com as quais suplicava do céu a graça de servir, eis que o Mestre lhe surge à frente, tão compassivo e sereno como nos dias inolvidáveis em que se banhavam juntos na mesma luz das margens do Tiberíades...

- Senhor! – implorou Simão – aspiro a estender-te as bênçãos gloriosas!... Deixei o lago para seguir-te! Disseste que nos farias pescadores de almas!... Quero testemunhar a divina missão do teu Evangelho de amor e luz!...

E porque o celeste visitante estivesse a fitá-lo em silêncio, Pedro acrescentou com a voz encharcada de pranto:

- Quando enviarás teu serviço às nossas mãos?

Entreabriram-se de manso os lábios divinos e o apóstolo escutou, enquanto Jesus se fazia novamente invisível:

- Amanhã...amanhã...

O antigo pescador, mais encorajado, esperou o dia seguinte.

Aguardando o mandato do Eterno Benfeitor, devotou-se à limpeza doméstica, desde o nascer do sol, enfeitando a sala singela com rosas orvalhadas do amanhecer.

Enlevado em doce expectativa, justamente quando se dispunha à refeição matutina, ensurdecedora algazarra atinge-lhe os ouvidos.

A porta singela, sob murros violentos, deixa passar um homem seminu, de angustiada expressão, enquanto lá fora bramem soldados e populares, sitiando o reduto.

O recém-chegado contempla Simão e roga-lhe socorro.

Tem lágrimas nos olhos e o coração lhe bate descompassado no peito.

O anfitrião reconhece-o.

É Joachaz, o malfeitor.

De longo tempo, vem sendo procurado pelos agentes da ordem.

Exasperado, Pedro responde, firme:

- Socorrer-te porquê? Não passas de ladrão contumaz...

E, de ouvidos moucos à rogativa, convoca os varapaus, entregando o infeliz, que, de imediato, foi posto a ferros, a caminho do cárcere.

Satisfeito consigo mesmo, o apóstolo colocava a esperança na obra que seria concedido fazer, quando, logo após, perfumada liteira lhe entregou à presença triste mulher de faces maceradas a contrastarem com a seda custosa em que buscava luzir.

Pedro identificou-a.

Era Júlia, linda grego-romana que em Jerusalém se fazia estranha flor de prazer.

Estava doente, cansada.

Implorava remédio e roteiro espiritual.

O dono da casa, porém, gritou resoluto:

- Aqui, não! O teu lugar é na praça pública, onde todos te possam lançar em rosto o desprezo e a ironia...

A infortunada criatura afastou-se, enxugando os olhos, e Pedro, contente de si próprio, Continuou esperando a missão do dia.

Algo aflito, ao entardecer, notou que alguém batia, insistente, à porta.

Abriu, pressuroso, caindo-lhe aos pés o corpo inchado de Jarim, o bêbado sistemático, semiinconsciente, pedia refúgio contra a malta de jovens cruéis que o apedrejavam.

Pedro não vacilou.

- Borracho! Infame! – vociferou, revoltado – não ofendas o recinto do Mestre com o teu vômito!...

E, quase a pontapés, expulsou-o sem piedade.

Caiu a noite imensa sobre a cidade em extrema secura. 

Desapontado, ao repetir as últimas preces, Simão meditava diante de tocha bruxuleante, quando o Mestre querido se destacou da névoa...

- Ah! Senhor! – clamou Pedro, chorando – aguardei todo o dia, sem que me enviasses a prometida tarefa!...

- Como não? – disse o Mestre, em tom de amargura. – Por três vezes roguei-te hoje cooperação sem que me ouvisses...

E ante a memória do companheiro que recordava e compreendia tardiamente, Jesus continuou:

- De manhã, enviei-te Joachaz, desventurado irmão nosso mergulhado no crime, que o ajudasses a renovar a própria existência, mas devolveste-o à prisão... Depois do meio-dia, entreguei-te Júnia, pobre irmã dementada e doente, para que a medicasses e esclarecesses, em meu nome: contudo, condenaste-a ao vilipêndio e ao sarcasmo... À noitinha, mandei-te Jarim, desditoso companheiro que o vício ensandece; no entanto, arremeteste contra ele os próprios pés...

-Senhor! – soluçou o apóstolo – grande é a minha ignorância e eu não sabia... Compadecete de mim e ajuda-me com a tua orientação!...

Jesus afagou-lhe a cabeça trêmula e falou, generoso:

- Pedro, quando quiseres ouvir-me, lembra-te de que o Evangelho tem a minha palavra...

Simão estendeu-lhe os braços, desejando retê-lo junto do coração, mas o Cristo Sublime como que se ocultava na sombra, escapando-lhe à afetuosa carícia...

Foi então que o ex-pescador de Cafarnaum, cambaleando, buscou os apontamentos que trazia consigo e, abrindo-os ao acaso, encontrou o Versículo 12, do Capítulo 9 das anotações de Mateus, em que o Mestre da Vida assevera, convincente: -“Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes.”


***
Espírito: Irmão ‘X
Médium: Chico Xavier
Livro: Contos Desta e Doutra Vida



(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)


REFLEXÕES OPORTUNAS



A sociedade terrestre alcançou, na atualidade, os mais altos níveis de ciência e tecnologia, decifrando inúmeros enigmas do macro ao microcosmo.

As doutrinas médicas vêm conseguindo debelar enfermidades pandêmicas destruidoras de milhões de vidas, enquanto a tecnologia de ponta elimina as distâncias, facilita as comunicações e a locomoção, ensejando melhor compreensão das culturas diversas e mais fácil aprendizagem sobre as avançadas aquisições da inteligência.

Pântanos e desertos têm sido transformados em jardim e pomares que embelezam a Terra e facilitam o convívio humano.

Nada obstante, o ser contemporâneo encontra-se faminto de luz espiritual, de amor fraternal e de paz interior.

Em consequência, aumentam os índices de criminalidade, do abandono, do desrespeito aos direitos humanos, das massas em revoluções contínuas, inquietas e dominadas por sofrimentos inenarráveis punidas com severidade, assim como alarmantes desmandos morais, sociais, religiosos, políticos e administrativos...

Homens e mulheres que assumiram a responsabilidade pela condução dos povos, com exceções consideráveis, arruínam as nações que governam dominados pelo egoísmo, pelas ambições desmedidas que os induzem a condutas reprocháveis e criminosas, constituindo-se exemplos de malversação dos recursos públicos mediante comportamentos vergonhosos.

Os vícios campeiam ao lado da violência urbana, que culmina em revoluções coletivas, tentando desapear do poder governos arbitrários que os usurpam, e pretendem neles eternizar-se, inescrupulosos e servis às paixões subalternas que os dominam.

Isto, naturalmente, como resultado da perda da identidade moral em torno da responsabilidade pessoal, da desconsideração aos princípios ético-morais que devem viger no indivíduo, tanto quanto na sociedade. Falhando, no primeiro, inevitavelmente desaparece na segunda.

Vive-se o momento de inadiável necessidade de retornar-se aos valores estabelecidos pela cultura, pela civilização, pelo Evangelho de Jesus – o mais extraordinário código de ética da Humanidade em todos os tempos – a fim de construir-se um mundo melhor, iniciando-se no cidadão transformado pelo bem.

Nenhuma legislação terrestre pode alcançar esse mister, porque é da natureza íntima de cada um, intransferível, já que nada de fora pode alterar a consciência e o comportamento interior do ser humano.

Somente o esclarecimento em torno de suas responsabilidades morais e sociais, particularmente as que dizem respeito à sua realidade de Espírito Imortal, pode realizar o processo de transformação interior para melhor, como clara consciência do que lhe cabe realizar como dever, a fim de fruir dos decorrentes direitos que lhe dizem respeito.

O ser humano ainda permanece um enigma para ele próprio, mas somente através da introspecção orientada com segurança conseguirá decifrar-se por conhecer-se na intimidade, nas raízes existenciais do imenso caminho reencarnacionista, propondo-se à autoiluminação e ao serviço de solidariedade em relação ao seu próximo.

Um ser iluminado é um campeão de conquistas valiosas, que se transforma em farol humano apontando as penedias no oceano existencial.

Para lográ-lo, torna-se impostergável o dever de trabalhar-se intimamente, a fim de descobrir-se, identificando de onde vem, para onde vai e qual o sentido objetivo que lhe deve direcionar o comportamento, a fim de prosseguir no rumo da imortalidade vitoriosa.

O Espiritismo é a ciência ainda não conhecida quanto deveria, que dispõe dos mais seguros instrumentos que facultam a análise e o autoconhecimento humano, aliada a uma filosofia otimista, rica de elucidações profundas que deságuam nos luminosos conceitos de ordem moral de efeito religioso...

O seu estudo consciente e sério liberta o ser humano da ignorância em torno da existência, enquanto o enriquece de sabedoria, a fim de conduzir-se com segurança, experimentando a plenitude – meta de toda a existência.

Conhecê-lo profundamente é o grande desafio que a todos aguarda.

Desse modo, aos militares espíritas, que são educados na severa disciplina dos códigos legais, para servir à Pátria, cabe a grande tarefa de aliar os conhecimentos da estratégia bélica e daquela outra pacífica, às lições do Embaixador da Paz no mundo, que veio para servir e doou-se, tornando-se exemplo do mesmo, os inolvidáveis servidores Maurício e à sua legião tebana, que matar, mesmo quando legalmente, é um crime perante as Leis Cósmicas, sendo mais importante salvar e pacificar para melhor conquistar aquele que se lhe torna inimigo...

Todo inimigo é alguém que perdeu o endereço de si mesmo, e, por consequência, teme os outros, deles fugindo através do conflito da agressividade mental, emocional, política e social.

A compaixão para com ele e a educação para com todos são os recursos psicoterapêuticos mais valiosos, a fim de dar-lhes sentido e significado psicológico e espiritual à existência que atravessa a noite escura da alma, perdidos em si mesmos.

Congratulando-nos com os companheiros de lutas terrestres e servidores militares pelo transcurso do septuagésimo aniversário da Cruzada dos Militares Espíritas, exora o amparo e as bênçãos de Jesus para todos nós, de ambos os planos da vida, o companheiro e amigo de lides espíritas e militares.


***
Pelo Espírito Manuel Vianna de Carvalho - Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na tarde de 12 de maio de 2014, na cidade de Bruxelas, Bélgica.


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

quarta-feira, 8 de abril de 2015

INIMIGOS OCULTOS


Mencionamos, com muita freqüência, que os inimigos exteriores são os piores expoentes de perturbação que operam em nosso prejuízo. Urge, porém, olhar para dentro de nós, de modo a descobrir que os adversários mais difíceis são aqueles de que não nos podemos afastar facilmente, por se nos alojarem no cerne da própria alma.

Dentre eles, os mais implacáveis são:

- o egoísmo, que nos tolhe a visão espiritual, impedindo vejamos as necessidades daqueles que mais amamos;
- o orgulho, que não nos permite acolher a luz do entendimento, arrojando-nos a permanente desequilíbrio;
- a vaidade, que nos sugere a superestimação do próprio valor, induzindo-nos a desprezar o merecimento dos outros;
- o desânimo, que nos impele aos precipícios da inércia;
- a intemperança mental, que nos situa na indisciplina;
- o medo de sofrer, que nos subtrai as melhores oportunidades de progresso, e tantos outros agentes nocivos que se nos instalam no Espírito, corroendo-nos a energias e depredando-nos a estabilidade mental.

Para a transformação dos adversários exteriores contamos, geralmente, com o amparo de amigos que nos ajudam a revisar relações, colaborando conosco na constituição de novos caminhos; entretanto, para extirpar os que moram em nós, vale tão-somente o auxílio de DEUS, com o laborioso esforço de nós mesmos.

Reportando-nos aos inimigos externos, advertiu-nos JESUS que é preciso perdoar as ofensas setenta vezes sete vezes, e decerto que para nos descartarmos dos inimigos internos – todos eles nascidos na trevas da ignorância – prometeu-nos o Senhor: “conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres”, o que equivale dizer que só estaremos a salvo de nossas calamidades interiores, através de árduo trabalho na oficina da educação.

***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Alma e Coração



(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

MUITAS FORMAS DE LOUVAR AO SENHOR


Louvar a Deus pode significar o ato de glorificar, adorar ao Criador. Também a demonstração de reverência e amor ao Todo Poderoso.

De um modo geral, quando se menciona louvor a Deus, a mente nos remete a religiosos enclausurados em conventos e mosteiros, que dedicam sua vida a cantar hinos, à meditação e preces.

Entretanto, ao nos reportarmos à prece, verificamos que é louvor, pedido e agradecimento.

Será possível ao homem comum, com família, profissão, tantos deveres a atender, externalizar louvor ao seu Criador?

Recordamos de um criado que vivia na abadia de Whitby, na Inglaterra, no século VII.

Era um homem dócil, silencioso e desajeitado. De canto, por exemplo, não tinha a menor noção. Quando chegava a hora de cantar, nos dias de festa, temeroso de que o convidassem, deixava o recinto e ia se trancar no seu quartinho.

Certo dia em que a abadessa convidou as freiras para os cânticos sagrados, o humilde servidor se afastou, tímido, do refeitório e se dirigiu ao estábulo da abadia...

Sentou-se em um monte de feno, pensando na sua incapacidade para cantar os hinos sacros. Entristecido com a própria insignificância, adormeceu e sonhou.

Sonhou que um homem, formoso e imponente, lhe aparecia no estábulo. Olhava-o com ternura, e, sorrindo, insistia para que ele cantasse.

Tu podes, Cedmon! – Dizia o homem. Canta a obra da Criação!

Cedmon começou a cantar, como jamais fizera. Quando estava para terminar, acordou. Impressionado com o que sonhara, lembrando-se de todos os detalhes, terminou o hino.

Com toda a simplicidade, procurou a abadessa e lhe contou o ocorrido, repetindo-lhe a composição.

Ao ouvi-lo, a abadessa lhe disse que ele recebera de Deus um dom especial para a poesia.

E lhe deu algumas passagens da Bíblia para que ele compusesse versos. Tão bem ele se desincumbiu da tarefa, ao fim do dia, que ela o colocou num mosteiro, como monge, para que se desse ao estudo das escrituras.

Cedmon se tornou o autor das mais antigas poesias escritas em língua inglesa. Seus versos eram de uma força desconhecida. A doçura, mais o poder de expressão, davam-lhe um toque celestial.

Ele encontrara uma forma diferente de louvar ao Senhor.

Há muitas formas de louvar ao Criador de todas as coisas. Pode-se orar, enaltecendo as tantas bênçãos ofertadas, diariamente, pelo Pai de bondade.

Pode-se compor versos expondo a beleza da natureza; ou peças musicais, que embevecerão corações, unindo-os ao louvor.

Pode-se gravar em uma tela, com a maestria de quem domina a arte da pintura, o encanto de uma paisagem, um pôr de sol em cores laranja, vermelho e ouro.

Pode-se utilizar a arte da fotografia para deter digitalmente o alvorecer de um dia de luz, um pinheiro solitário à beira do caminho, distribuindo pinhas a aves e homens.

Pode-se servir da cinematografia e oferecer ao mundo êxtases de beleza, unindo fotografia, animação, música.

Sim, há muitas formas de louvar ao Criador incriado, ao Pai de todos nós.

Louvar é divulgar, mostrar, anunciar, propagar, publicar o que é belo, grandioso no mundo: plantas, árvores, animais, seres humanos. A grandiosidade da vida.

Pensemos nisso e optemos pela melhor forma de louvarmos a Deus, nosso Pai, gratos pela vida que nos foi dada a viver.


***
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 11, do livro Mediunidade dos santos, de Clóvis Tavares.


(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

terça-feira, 7 de abril de 2015

ORAÇÃO DE MÃE



Deus de Infinita Bondade!

Puseste astros no céu e colocaste flores na haste agressiva... A mim deste os filhos e, com os filhos, me deste o amor diferente, que me rasga as entranhas, como se eu fosse roseira espinhosa, que mandasse carregar uma estrela!...

Aceitaste minha fragilidade a teu serviço, determinando que eu sustente com a maternidade o mandato da vida; entretanto, não me deixes transportar, sozinha, um tesouro assim tão grande! Dá-me forças, para que te compreenda os desígnios; guia-me o entendimento, para que a minha dedicação não se faça egoísmo; guarda-me em teus braços eternos, para que o meu sofrimento não se transforme em cegueira.

Ensina-me a abraçar os filhos das outras mães, com o carinho que me insuflas no trato daqueles de que enriqueceste minhalma!

Faze-me reconhecer que os rebentos de minha ternura são depósitos de tua bondade, consciências livres, que devo encaminhar para a tua vontade e não para os meus caprichos.

Inspira-me humildade para que não se tresmalhem no orgulho por minha causa. Concede-me a honra do trabalho constante, a fim de que eu não venha precipitá-los na indolência. Auxilia-me a querê-los sem paixão e a servi-los sem apego. Esclarece-me para que eu ame a todos eles com devotamento igual.

No entanto, Senhor, permite-me inclinar o coração, em teu nome, por sentinela de tua bênção, junto daqueles que se mostrarem menos felizes!... Que eu me veja contente e grata se me puderem oferecer mínima parcela de ventura, e que me sinta igualmente reconhecida se, para afagá-los, for impelida a seguir nos caminhos do tempo, sobre longos calvários de aflição!...

E, no dia em que me caiba entregá-los aos compromissos que lhes reservaste, ou a restituí-los às tuas mãos, dá que, ainda mesmo por entre lágrimas, possa eu dizer-te, em oração, com a obediência da excelsa Mãe de Jesus: "Senhor, eis aqui tua serva! Cumpra-se em mim, segundo a tua palavra!..."

***
Espírito: Agar
Médium: Chico Xavier
Livro: Mãe



(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

AÇÃO DA PRECE




Você é o lavrador.
O outro é o campo.

Você planta.
O outro produz.

Você é o celeiro.
O outro é o cliente.

Você fornece.
O outro adquire.

Você é o ator.
O outro é o público.

Você representa.
O outro observa.

Você é a palavra.
O outro é o microfone.

Você fala.
O outro transmite.

Você é o artista.
O outro é o instrumento.

Você toca.
O outro responde.

Você é a paisagem,
O outro é a objetiva.

Você surge.
O outro fotografa.

Você é o acontecimento.
O outro é a notícia.

Você age.
O outro conta.

Auxilie quanto puder.
Faça o bem sem olhar a quem.

Você é o desejo de seguir para Deus.
Mas, entre Deus e você, o próximo é a ponte.

O criador atende às criaturas, através das criaturas.
É por isso que a oração é você, mas o seu merecimento está nos outros.

***
Psicografia: Chico Xavier e Waldo Vieira
Espírito: André Luiz
Livro: O Espírito da Verdade




KARDEC ERA RACISTA? - Carta aos Irmãos Negros.



Queridos irmãos,

Cordiais Saudações,

Como cristão espírita, eu, Ronaldo Costa, venho, por meio deste instrumento virtual, trazer-lhes as seguintes informações relacionadas ao senhor Hyppolyte Leon Denizard Rivail, também conhecido como Allan Kardec; para explicar supostas afirmações, de caráter racista, feita pelo mesmo em determinado período de sua vida; na seguinte forma:

O senhor Allan Kardec, como vocês talvez devam saber, era francês, portanto ariano (O nome ariano vem do sânscrito arya, que significa nobre). O fato de ser ariano, fez com que fosse educado como tal, com a crença de pertencer a uma casta superior - crença ainda comum, mesmo que de forma modesta, em grande parte do continente europeu, e que foi usada fortemente pelo chanceler Adolf Hitler para agregar apoio popular em torno de seus projetos pessoais de governo, levando o mundo a segunda guerra, onde milhões de judeus foram mortos, como é sabido. Assim sendo, seria natural que Kardec tivesse uma tendência voltada para o racismo. 

Porém, aos 50 anos de idade, já como grande conhecedor de Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada, entre outras, teve sua primeira experiência com as chamadas “Mesas Girantes”, foi quando passou a ter contato com os Espíritos, que lhe usaram para trazer novas revelações do plano superior para a humanidade. Revelações estas que ensinam sobre as leis da Igualdade; da Liberdade; da Justiça, do Amor e da Caridade; como tantas outras leis (vide O Livro dos Espíritos) que nos ensinam que somos todos irmãos, criados por Deus em igual forma, simples e ignorantes. E que a raça; a família; o sexo; a condição social; entre outros fatores, são apenas instrumentos, usados por Deus, para formação e construção moral do espírito, que é o verdadeiro ser. Assim sendo, diante de verdades tão claras e inquestionáveis, toda sua visão de mundo muda, como muda também sua conduta. Ora, o Paulo que fez a maior definição sobre o amor em uma de suas cartas aos coríntios não foi o mesmo que matou Estevão? O Paulo que perseguia e assassinava os cristãos não foi o mesmo que entrou para o rol dos que foram perseguidos e mortos pelo nome Jesus? Cipriano, o bruxo dos sacrifícios satânicos, não abdicou dos cultos aos demônios para se deixar degolar em sacrifício ao Cristo?

Meus queridos, também nem sempre fui espírita! Eu mesmo, em tempos idos, fiz coro às vozes que amaldiçoam e apedrejam a Doutrina Espírita; mas dou graças a Deus por nunca me permitir agir como um fariseu, que rejeita buscar a verdade por crer tê-la consigo, e nem me conformo com o disse me disse. 
Se alguém me disser que viu um elefante voar, certamente não acreditarei, mas jamais direi com toda segurança que não é uma verdade; antes, buscarei as explicações para isso, e há pelo menos três: ou  é mentira; ou é loucura; ou de fato um elefante voou.

Portanto meus irmãos, para ser sincero, eu nunca procurei saber se de fato Kardec fez as declarações de caráter racista que se vê na imagem que ilustra esta postagem; e nem duvido disso por ter ele nascido num ambiente propenso a tal coisa, mas de uma coisa posso garanti-los, de que tanto a ele, como ao Cristo, devo tudo que aprendi sobre respeito, aceitação, integração, igualdade, e tolerância, para com o próximo. E também, a exemplo de Paulo e Cipriano, que não nasceram cristãos, Kardec, também não nasceu espírita!

“Conheceres a verdade e a verdade vos libertará.” – Jesus

“Ninguém pode voltar a trás e fazer um novo começo, mas todos podemos começar agora a fazer um novo fim.” – Chico Xavier

Abraços Fraternos!


segunda-feira, 6 de abril de 2015

IDEIAS


Otávio Pereira, antigo orientador da sementeira evangélica, presidia simpática associação espiritista. Certa feita, violenta reação lhe assaltou a direção pacífica e produtiva.

– Aquelas diretrizes “carro de boi” – criticavam alguns – não serviam.

– Era necessário criar vida nova, dentro da Instituição, projetando-a além das quatro paredes – pontificavam outros.

– Otávio é orientador antiquado – asseveravam muitos – e vive circunscrito a preces, passes, comentários religiosos e sessões invariáveis.

Surpreendido, mas sereno, Pereira assentou medidas para a realização de uma assembléia, onde os companheiros pudessem opinar livremente.

Concordava com os méritos do movimento e ele mesmo – repetia bondoso e humilde – seria o primeiro a colaborar na renovação imprescindível.

Constituída a grande reunião, o velho condutor assumiu a presidência dos trabalhos e abriu o debate franco, rogando aos amigos expusessem as idéias de que se faziam portadores.

O primeiro a falar foi o Senhor Fonseca que, enxugando frequentemente o suor da larga testa, expôs o plano de um orfanato modelar, através do qual a agremiação pudesse influenciar o ânimo do povo.

Finda a explanação veemente e florida, Pereira indagou, sem afetação, se o autor da idéia estava disposto a dirigir-lhe a realização, mas Fonseca afirmou, sem preâmbulos, que não contava com tempo para isso. Era empregado de uma companhia de seguros, e oito bocas, em casa, aguardavam dele o pão de cada dia.

Em seguida, levantou-se Dona Malvina e falou largamente sobre a conveniência de fundarem uma escola, à altura moral da casa, com setores de alfabetização e ensino profissional.

Interpelada, porém, pelo orientador, quanto ao empenho de sua responsabilidade feminina no empreendimento, exclamou, célere:

– Oh! eu? que graça! Tenho idéias, mas não tenho forças... Sou uma pecadora, um Espírito delinquente! Não tenho capacidade para ajudar ninguém.

Logo após, toma a palavra o Senhor Fernandes, que encareceu a edificação de um departamento para a cura de obsidiados; contudo, quando Pereira lhe pediu aceitasse a incumbência da orientação, Fernandes explicou, desapontado:

– A idéia é minha, mas eu não disse que posso executá-la. Estou excessivamente fraco e, além disso, sinto-me inapto. Sou um doente, e há muito tempo estou de pé, em razão do socorro da Misericórdia Divina.

Mal havia terminado, ergueu-se o irmão Ferreira, que lembrou a organização de um trabalho metódico de assistência aos enfermos e necessitados, com uma pessoa responsável e abnegada à frente da iniciativa.

Quando pelo mentor da instituição foi consultado sobre as probabilidades de sua atuação pessoal no feito em perspectiva, Ferreira informou, sem detença:

– Minha idéia resultou de inspiração do Alto, entretanto, sou portador de um carma pesado. Tenho a resgatar muitos crimes de outras encarnações. Não posso, não tenho merecimento...

E, de cérebro a cérebro, as idéias pululavam, sublimes e coloridas, entusiásticas e fascinantes, mas, de boca em boca, as confissões de ineficiência se sucediam, multiformes.

Alguns se revelavam doentes, outros cansados, muitos se declaravam absorvidos de inquietações domésticas e não poucos se diziam dominados por monstruosas imperfeições.

A assembléia parecia trazer fogo no raciocínio e gelo no sentimento.

Quando os trabalhos atingiram a fase final, depois de compridas conversações, sem proveito, Pereira, sorrindo, comentou breve :

– Meus irmãos, nossa casa, sem dúvida, precisa movimentar-se, avançar e progredir; entretanto, como poderá o corpo adiantar-se, quando as mãos e os pés se mostram inertes? Todos possuímos idéias fulgurantes e providenciais, todavia, onde está a nossa coragem de materializá-las? Quando os membros se demoram paralíticos, o pensamento não faz outra coisa senão imaginar, orar, vigiar e esperar... Sou o primeiro a reconhecer o imperativo de nossa expansão, lá fora, no grande mundo das consciências, no entanto, até que sejamos o conjunto harmonioso de peças vivas, na máquina da caridade e da educação, como veículos irrepreensíveis do bem, não disponho de outro remédio senão aguardar o futuro, no Espiritismo das quatro paredes...

E, diante da estranha melancolia que dominou a sala, apagou-se o brilho faiscante das idéias, sob o orvalho das lágrimas com que Pereira encerrou a sessão.

***
Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Espírito: Irmão ‘X
Livro: Contos e Apólogos



NO RUMO DO PORVIR


Reúne os grilhões que te encadeiam à tristeza ou ao pessimismo e arroja-os ao braseiro do amor.

Deixa que o lume da fraternidade extermine em teu mundo íntimo as recordações em torno dos golpe a que te feriram, das palavras que te laceram o coração...

Lembra-te das flores que desabrocham sobre as ruínas.

Recorda as árvores que se erguem vitoriosas sobre o espinheiro.

Elas perfumam o pântano e procuram o céu.

Há pessoas que conservam da vida somente as reminiscências amargas, solidificando as cadeias da aflição nos próprios pulsos, como se devêssemos transportar conosco o cesto de lixo que a higiene pública determina seja lançado ao esquecimento.

Quem acredita no bem e confia-se ao mal é semelhante ao pássaro que, conscientemente, mutilasse as próprias asas.

Acende a lâmpada de teu coração e segue em frente...

Os que caíram nas sombras reerguer-se-ão aos teus sinais.

Os que tombaram fatigados ressuscitarão, à claridade de tua, esperança.

Não receies.

Não te perturbes.

Não desanimes.

É doce marchar no clima abençoado de companheiros que nos entendam, mas, se estiveres sozinho, avança mesmo assim.

Quem segue com Jesus, pode conhecer a soledade, jamais o abandono.

O ideal do bem é a tua força.

Serve a todos e a vitória começará em ti mesmo.

Para que a incompreensão se entrincheire em forma de mentiroso poder, quase sempre, é necessário que milhões de homens se aniquilem uns ao outros, mas que o amor fosse trazido ao trono dos corações humanos, bastou o sacrifício de Um Só. Sigamos com Ele, nosso Mestre e Senhor, e alcançaremos a Alvorada Divina da Eterna Sublimação.


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Psicografia: Francisco Cândido Xavier
Espírito: Nina Arueira
Livro: Mãos Marcadas



sexta-feira, 3 de abril de 2015

OS OLHOS DO AMOR


O domingo era de sol e muitas crianças estavam no zoológico, trazidas pelas mãos dos pais.

Um artista armou sua pequena tenda e logo uma fila enorme de crianças se formou, aguardando que ele pintasse nos seus rostos patinhas de tigre.

Uma avó se aproximou com a netinha, cujo rosto era todo salpicado de sardas vermelhas e brilhantes. Um menino olhou para ela e gritou:

Você tem tantas sardas que ele não vai ter onde pintar! – Amenina abaixou a cabeça.

A avó se ajoelhou para ficar à altura da garota e disse:

Adoro suas sardas.

Mas eu detesto, falou a pequena, com os olhos quase a derramar lágrimas e os lábios querendo fazer beicinho de choro.

A senhora passou o dedo pela face da neta e continuou:

Quando eu era menina, sempre quis ter sardas. Sardas são tão bonitas!

De verdade? Perguntou a menina, levantando o rosto.

Claro. Confirmou a avó. Quer ver? Diga-me uma coisa mais bonita que sarda.

A garotinha, olhando para o rosto sorridente da avó, respondeu suavemente: Rugas.

O singelo diálogo, na tarde ensolarada, foi uma declaração de amor entre duas gerações. Avós são criaturas especiais. Repassemos juntos o que as crianças pensam a respeito:

Avós ajudam você a lavar a louça, quando é sua vez de fazer a tarefa. E fazem com tanta alegria e espontaneidade, que você passa a aguardar, ansioso, a sua vez, no rodízio familiar, de realizar a tarefa novamente, para gozar daquela presença tão especial.

Avós são as únicas babás que não cobram extra depois da meia-noite. Ou melhor, nunca cobram nada, nem antes, nem depois da meia-noite. E ainda se oferecem para ficar com os netos no feriado, no final de semana, na noite de estréia de um filme, uma peça de teatro.

Avós são criaturas que chegam três horas mais cedo na sua apresentação de dança, na sua formatura, no seu casamento, porque querem se sentar num lugar de onde possam ver tudo, sem perder nada.

Eles têm a capacidade de fingir que não o reconhecem quando está fantasiado para a peça da escola, só para você achar graça da ingenuidade deles.

Avó é uma pessoa especial que coloca suéter em você quando ela mesma está com frio, vai alimentá-lo quando ela estiver com fome e procurará colocá-lo na cama quando ela estiver cansada.

Avós vão emoldurar o desenho que você fez e colocá-lo num lugar de destaque na sua sala de visitas.

Avós são pessoas que ajudam você com seus botões, laços de sapatos e zíperes, e não têm nenhuma pressa em ver você crescer.

Quando você é um bebê, os avós vão ver se você está chorando quando está no maior sono.

E quando um netinho diz: Vovó, como é que pode você ser tão bacana e não ter nenhum filho? - ela disfarça e segura a vontade de chorar.

Avós são pais e mães que se reprisam. Só que com mais doçura, que o tempo, a maturidade e o conforto da idade lhes conferem.

Se você goza da ventura de ter avós ao seu lado, ame-os.

E se não os possui, ame os avós de quaisquer netos, essas criaturas serenas que Deus mantém no mundo para testificar que amor com açúcar faz muito bem para a alma de quem está reiniciando a vida, neste imenso planeta de tantas lutas e dificuldades.


***
Por Redação do Momento Espírita, com base no cap. Mais bonitas do que sardas, de Sue Monk Kidd e no cap. O amor são as avós, de Erma Bombeck,  do livro Histórias para aquecer o coração das mulheres, de Jack Canfield,  Mark Victor Hansen, Jennifer Read Hawthorne e Marci Shimoff.


(a)   RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

MANSOS DE CORAÇÃO


Quando Jesus proclamou a felicidade nos mansos de coração, não se propunha, de certo, exaltar a ociosidade, a hesitação e a fraqueza.

Muita gente, a pretexto de merecer o elogio evangélico, foge aos mais altos deveres da vida e abandona-se à preguiça e à fé inoperante, acreditando cultivar a humildade.

O Mestre desejava destacar as almas equilibradas, os homens compreensivos e as criaturas de boa vontade que, alcançando o valor do tempo, sabem plantar o bem e esperar-lhe a colheita, sem desespero e sem violência.

A cortesia é o primeiro passo da caridade.

A gentileza é o princípio do amor.

Ninguém precisa, pois, aguardar o futuro, a fim de possuir a Terra. É possível orientá-la hoje mesmo, detendo-lhe os favores e talentos, entre os nossos semelhantes, cultuando a bondade fraternal.

As melhores oportunidades de cada dia no mundo pertencem àqueles que melhores se fazem para quantos lhes rodeiam os passos. E ninguém se faz melhor, arremessando pedras de irritação ou espinhos de amargura na senda dos companheiros.

A sabedoria é calma e operosa, humilde e confiante.

O espírito de quem ara a Terra com Jesus compreende que o pântano pede socorro, que a planta frágil espera defesa, que o mato inculto reclama cuidado e que os detritos do temporal podem ser convertidos em valioso adubo, no silêncio do chão.

Se pretendes, pois, a subida evangélica, aprende a auxiliar sem distinção.

A pretexto de venerar a verdade, não aniquiles as promessas do amor. Abraça o teu roteiro, com a alegria de quem trabalha por fidelidade ao Sumo Bem, estendendo a graça da esperança, a benefício de todos, e, um dia, todos os que te cercam e te acompanham entoarão o cântico de bem-aventurança que o teu coração escreveu e compôs nos teus atos, aparentemente pequeninos de fraternidade e sacrifício, em favor dos outros, em tua jornada de ascensão à Divina Luz.


***
Espírito: Emmanuel
 
Médium: Chico Xavier
Livro: Escrínio de Luz


(a)   RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)