O Arrebol Espírita

sábado, 22 de fevereiro de 2014

DIA A DIA


Nas curtas viagens do dia-a-dia, todos nós encontramos o próximo, para cuja dificuldade somos próximo mais próximo.

Imaginemo-nos, assim, numa excursão de cem passos que nos transporte do lar à rua. Não longe, passa um homem que não conseguimos, de imediato, reconhecer.

Quem será?” – perguntamos em pensamento.

E a Lei do Amor no-lo aponta como alguém que precisa de algo: se vive em penúria, espera socorro;

se abastado, solicita assistência moral, de maneira a empregar, com justiça, as sobras de que dispõe;

se aflito, pede consolo;

se alegre, reclama apreço fraterno, para manter-se ajustado à ponderação;

se é companheiro, aguarda concurso amigo;

sé é adversário, exige respeito;

se benfeitor requer cooperação;

se malfeitor demanda piedade;

se doente, requisita remédio;

se é dono de razoável saúde, precisa de apoio a fim de que a preserve;

se ignorante, roga amparo educativo;

se culto, reivindica estímulo ao trabalho, para desentranhar, a benefício dos semelhantes, os tesouros que acumula na inteligência;

se é bom, não prescinde de auxílio para fazer-se melhor;

se é menos bom, espera compaixão, que o integre na dignidade da vida.

Ante o ensino de Jesus, pelo samaritano da caridade, poderemos facilmente entender que os outros necessitam de nós, tanto quanto necessitamos dos outros. E, para atender às nossas obrigações, no socorro mútuo, comecemos, à frente de qualquer um, pelo exercício espontâneo da compreensão e da simpatia.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminho Espírita




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

TUA LÂMPADA




Tua fé viva! – tua lâmpada.

Zelarás por tua lâmpada para que as perturbações do caminho não te mergulhem nas trevas.

O serviço é a chama que lhe define a vida, a compaixão é o óleo que a sustenta.

Clareia a estrada para os que se acolhem na sombra e segue adiante!... Vê-los-ás tresmalhados no grande tumulto...Entre eles, encontramos os que se julgam em liberdade, quando não passam de cativos da ignorância e do ódio; os que deliram na ambição desregrada, pisando o cairel de pavorosas desilusões, os que estadeiam soberbia nas eminências do mundo, admitindo-se encouraçados de poder, sem perceberem o abismo que os espreita; os que fizeram da vida culto incessante a todos os excessos e para quem a morte breve surgirá por freio de contenção... E com eles se agitam aqueles outros que desprezaram as vantagens do sofrimento, transformando o benefício da dor em cárcere de revolta; os que descreram do trabalho e se enredaram no crime; os que desertaram da consciência atirando-se ao fogo do remorso e os que perderam a fé, incapazes de sentir a benção de Deus que lhes brilha no coração!...

Unge de amor o pensamento transviado de todos os que se demoram na retaguarda, enlouquecidos por sinistros enganos e derrama o bálsamo do conforto nas feridas abertas de quantos se afligem na estrada, sob a névoa do desespero!...

Para isso, não conte dificuldades, nem relaciones angústias. Auxilia e ama sempre.

Se garras de incompreensão ou de injúria te assaltaram na marcha, entrega os tesouros que carregas abençoando as mãos que te firam ou te despojem, mas alça a tua flama de confiança e caminha.

Cada golpe desferido na alma é renovação que aparece, cada espinho que se nos enterra na carne do sonho é flor de verdade a enriquecer-nos o futuro, cada lágrima, vertida nos alimpa a visão!...

Tua fé viva! – tua lâmpada!...

Faze-a fulgir, acima de tuas próprias fraquezas, para que um dia, possas transfigurá-la em estrela de eterna alegria, nos cimos da Grande Luz.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Caminho Espírita


SERVIR COM JESUS


Imaginemos larga região de trevas em que se arrojaram irmãos nossos imprevidentes e sofredores.

Nessa estranha paisagem repontam espinheiros agressivos e furnas inquietantes, nos quais companheiros nossos jazem agoniados, a esmorecerem de desalento e de fome.

Nada além da sombra, que lhes impede a tranqüilidade e cerceia a visão...

Mentalizemos alguém que possui humilde lanterna, capaz de fazer luz, a descer do próprio conforto para ajudar...

Aqui levanta os caídos, além soergue os que chafurdam em desespero...

Agora, mitiga a sede dos que perderam toda a esperança, depois improvisa remédio e pão, assistência e alegria aos que gemem, angustiados, sob as garras da prova...

Semelhante paisagem, meus filhos, é, sem dúvida, o retrato dos padecimentos humanos e esse alguém providencial, com bastante amor para esquecer-se e alumiar os que choram ensandecidos pela névoa da ignorância ou da enfermidade, da expiação e da dor, será sempre aquele coração que use dinheiro e consolo, possibilidade e cultura no auxilio ao próximo tombado em necessidade.


Lembremo-nos disso e consoante as nossas obrigações, diante da caridade com o cristo, acendamos a nossa lanterna, qualquer que seja o tamanho e façamos luz.

***
Espírito: Bezerra
Médium: Chico Xavier
Livro: Busca e Acharás

COMPREENSÃO SEMPRE



Para superar aflições e constrangimentos em qualquer circunstância, é preciso, antes de tudo, compreender as pessoas e as situações difíceis que apareçam, capazes de inclinar-nos para a sombra da angústia alcançar o entendimento, no entanto, demanda o exercício da fraternidade constante.

Quando a prova surja à frente, asserena-te e reflete.

Se os empreiteiros da perturbação estivessem conscientizados, quanto às responsabilidades que assumem, fugiriam de qualquer indução ao desequilíbrio.

Se os perseguidores de qualquer procedência conseguissem perceber as dívidas a que se enredam, renunciariam a isso ou aquilo, em favor daqueles aos quais pretendam impor sofrimento ou dominação.

Quando o agressor lança a palavra de injúria, se fosse previamente informado sobre as consequências de semelhante resolução, decerto se recolheria ao silêncio.

Quando o delinquente se dispõe a desferir o golpe destruidor sobre alguém, se pudesse prever quanto lhe doerão os resultados da ação infeliz, preferiria haver nascido sem os braços que lhe correspondem à periculosidade e ao furor.

Em qualquer momento de crise, pensa nos irmãos outros que te cercamtão filhos de Deus quanto nós mesmose coopera na paz de todos.

Especialmente em auxílio daqueles que se façam instrumentos de inquietações e de lágrimas, ora sempre e ajusta, quanto possível, as ocorrências que os favoreçam para que não se lhes agrave o peso da culpa.

Diante de todos os episódios constrangedores, silencia, onde não possas auxiliar.

E, perante os problemas de julgamento, onde estejas, usa a compreensão antes de tudo, por presença da caridade, porque o entendimento te suscitará compaixão e compadecendo-te, acertarás.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Busca e Acharás

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

DEGRAUS DA VIDA


Comparamos o mundo a grande instituto de ensino.

Aceita a existência no Planeta, por estágio educativo de que necessitas, ainda mesmo quando te reconheças na condição de doente, sob regime de internação em alguma das enfermarias da escola.

Nasceste no lugar mais indicado aos ensinamentos de que precisas e no grupo familiar que mais se te aconselha ao currículo de lições.

O corpo físico é a carteira de recursos a que te prendes, para efeito de preparo e burilamento.

A religião do teu clima doméstico é a classe de iniciação na Espiritualidade Maior, da qual podes seguir indefinidamente para diante, no rumo dos mais elevados conhecimentos... Faze, pois, da ideia de Deus que já possuas, o caminho da própria ascensão.

Elege no trabalho a tua bênção de cada dia.

Compreendamos que o bem é a execução da Lei Divina, a estabelecer a felicidade dos outros, com a mesma justiça com que a estabelece para cada um de nós. E o mal é a tribulação que, porventura, estejamos impondo à existência do próximo.

Dever é rotina de instrução.

Disciplina é condição de êxito.

Dificuldade é exercício de aperfeiçoamento.

Conflito é aula de reequilíbrio.

Tentação é repetência de testes nos quais já falimos, em nos referindo às reencarnações passadas.

Obstáculo é desafio para a melhora de resistência.

Solidão é pausa de reajuste.

Menosprezo de pessoas queridas é convite ao aprendizado do amor genuíno.

Contratempos se definem por avisos salutares no serviço a fazer.

A não ser para auxiliar desinteressadamente, não procures tanto saber o que sucede no curso dos colegas e dos vizinhos, porque, de volta ao Lar Maior, responderás essencialmente por ti. A vista disso, não olvides que ninguém se eleva sem elevar-se na vida pelos degraus da lei de elevação.


****
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Busca e Acharás


ACEITAR E RENOVAR


Aceitarás a dificuldade, não por fardo de aflição que te arrase as energias, mas por ensinamento que te habilite a mais ampla aquisição de experiência.

Não te rebelarás contra a enfermidade...

Saberás, no entanto, afastá-la com os recursos curativos de que disponhas, imitando o devotamento do lavrador que protege a enxada em cuja cooperação encontra o pão de cada dia.

Entenderás os seres amados que te apresentem lamentáveis quadros de provação, tolerando-lhe, com serenidade, até mesmo as injúrias...

Ainda que seja à distância, porém, não só farás o possível para desculpá-los, como também te empenharás a auxiliá-los na melhoria do espírito.

Suportarás a preterição e o menosprezo nas áreas da atividade profissional...

Não renunciarás, contudo, ao dever de aprimorar-te, a fim de ser mais útil à comunidade à qual te vinculas.

Até mesmo em nós próprios, admitiremos certas falhas de extinção difícil, chegando a medir com sinceridade, a extensão de nossas deficiências...

Mas prosseguiremos, fazendo o melhor de nós, até que nos sintamos curados das imperfeições que nos caracterizem, com o esmeril do trabalho, ao calor da responsabilidade constante.

Paciência é compreensão.

Compreensão é luz de amor.

Aceitemos os obstáculos por testes de resistência, e as provas por lições...

Entretanto, saibamos acolhê-los, agindo sempre por superá-los na expansão do bem, de vez que estamos todos na forja da luta evolutiva, com a certeza de que degraus para cima é que configuram a estrada de elevação.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Busca e Acharás



EM AULAS DIFÍCEIS


Todos nós, na Terra, encarnados e desencarnados, com vínculos no Planeta, estamos no educandário da evolução. De um modo ou de outro, todos somos discípulos na escola do progresso.

Se te vês ao lado de companheiros, em dificuldades maiores que as tuas, compadece-te deles e auxilia-os nas bases do entendimento e da abnegação. Quase sempre, no Plano Físico, semelhantes amigos se nos caracterizam na imagem de parentes ou de companheiros outros que as ligações do dia a dia nos jungiram ao carro da existência. Entretanto, diante da Espiritualidade Maior, são colegas de aprendizado, em aulas difíceis nas lições do tempo.

No passado próximo ou remoto, dilapidaram a própria forma, em atos conscientes de autodestruição e renasceram, mostrando no corpo que usufruem as marcas dos gestos lastimáveis, perpetrados por eles contra eles mesmos; entregaram-se em existências outras a traumas de ódio e delinquência, complicando o caminho dos semelhantes e retomaram o berço terrestre, assinalados por enfermidades de longo curso, em que se lhes sanam, gradativamente, as chagas mentais, adquiridas em processos culposos, nos quais se viram incursos; em estradas do pretérito, abusaram de corações sensíveis, arrastando-os a calamidades passionais e reaparecem no mundo, suportando conflitos psicológicos que exigem muito tempo para a eliminação necessária; em climas sociais, de há muito extintos, cultivaram hábitos perniciosos e ressurgem na arena terrestre, inclinados, desde a juventude, para costumes infelizes que os impulsionam a perigos constantes; renderam-se a tentações, em experiências que já se foram, instalados entre companhias lamentáveis, que os induziram à comprida vivência nas sombras da insanidade e reencarnam muitas vezes, seguidos por largo séquito de irmãos transviados na perturbação, que se lhes erigem, na estrada humana, em adversários persistentes.

Se contas com bastante discernimento para ajuizar, quanto à situação dos companheiros em problemas e obstáculos maiores que os teus, nos bancos escolares da vida, compadece-te deles, ofertando-lhes o amparo de que disponhas.

E se trazem ao mundo um fardo de provações tão grandes que não possam, com teu apoio, atenuar o rigor do currículo de provas em que se matricularam, auxilia-os como possas, e, longe de reprová-los ante o sofrimento ou a perturbação em que se mergulham, ora por eles e confia-os a Deus, na certeza de que Deus, velando por nós todos, saberá como, quando e onde fará por todos eles o mais e o melhor.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Busca e Acharás


UMA VIDA...DUAS VIDAS...UM SORRISO.


Foi durante a guerra civil na Espanha. Antoine de Saint-Exupéry, o autor de O pequeno príncipe, foi lutar ao lado dos espanhóis que preservavam a democracia.

Certa feita, caiu nas mãos dos adversários. Foi preso e condenado à morte.
Na noite que precedia a sua execução, conta ele que foi despido de todos os seus haveres e jogado em uma cela miserável.

O guarda era muito jovem. Mas era um jovem que, por certo, já assassinara a muitos. Parecia não ter sentimentos. O semblante era frio.

Vigilante, ali estava e tinha ordens para atirar para matar, em caso de fuga.
Exupéry tentou uma conversa com o guarda, altas horas da madrugada. Afinal, eram suas últimas horas na face da Terra. De início, foi inútil. Contudo, quando o guarda se voltou para ele, ele sorriu.
Era um sorriso que misturava pavor e ansiedade. Mas um sorriso. Sorriu e perguntou de forma tímida:

Você é pai? A resposta foi dada com um movimento de cabeça, afirmativo. Eu também, falou o prisioneiro. Só que há uma enorme diferença entre nós dois. Amanhã, a esta hora eu terei sido assassinado. Você voltará para casa e irá abraçar seu filho. Meus filhos não têm culpa da minha imprevidência. E, no entanto, não mais os abraçarei no corpo físico. Quando o dia amanhecer, eu morrerei.
Na hora em que você for abraçar o seu filho, fale-lhe de amor. Diga a ele: “Amo você. Você é a razão da minha vida.” Você é guarda. Você está ganhando dinheiro para manter a sua família, não é?
O guarda continuava parado, imóvel. Parecia um cadáver que respirava.
O prisioneiro concluiu: Então, leve a mensagem que eu não poderei dar ao meu filho.

As lágrimas jorraram dos olhos. Ele notou que o guarda também chorava. Parecia ter despertado do seu torpor. Não disse uma única palavra. Tomou da chave mestra e abriu o cadeado externo. Com uma outra chave abriu a lingueta. Fez correr o metal enferrujado, abriu a porta da cela, deu-lhe um sinal.

O condenado à morte saiu apressado, depois correu, saindo da fortaleza. O jovem soldado lhe apontou a direção das montanhas para que ele fugisse, deu-lhe as costas e voltou para dentro.
O carcereiro deu-lhe a vida e, com certeza, foi condenado por ter permitido que um prisioneiro fugisse.

Antoine de Saint-Exupéry retornou à França e escreveu uma página inesquecível: Uma vida, duas vidas, um sorriso. Tantas vezes podemos sorrir e apresentamos a face fechada, indiferente.
Entretanto, as vozes da Imortalidade cantam. Deus canta em todo o Universo a glória do amor.
Sejamos nós aqueles que cantemos a doce melodia do amor, em todo lugar, nos corações.
Hoje mais do que ontem, agora mais do que na véspera quebremos todos os impedimentos para amar.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

COMPADECE-TE DOS TEUS


A nossa petição pode parecer estranha: "compadece-te daqueles que mais amas".

Entretanto, o apelo não pode ser outro naquilo que pretendemos dizer, porquanto, no Plano Físico, não raro, externamos a capacidade afetiva com enorme peso de autoridade.
Compadece-te de teus pais no mundo.
Nem sempre pairam eles na altura espiritual que desejas. Doaram-te, no entanto, o corpo em que vives. Protegeram-te carinhosamente na infância. E se não puderam sustentar a harmonia recíproca ou se foram defrontados por lutas e conflitos que se viram incapazes de sobrestar, ama-os, mesmo assim, fora de exigências e críticas, porque também eles se acham a caminho do Entendimento Maior.
Compadece-te de teus filhos.
Se não conseguiram abraçar experiências semelhantes às tuas ou se não dispõem de recursos para te concretizarem os planos de família é que carregam no mundo encargos diferentes. Ama-os na estrutura espiritual com que te vieram aos braços, conforme as induções das Leis Divinas e liberta-os de qualquer cativeiro afetivo, conquanto auxiliando-os tanto quanto se te faça possível, para que se realizem nas tarefas que trouxeram de novo à existência.
Compadece-te dos familiares e dos amigos.
Embora te respeitem e te estimem, no curso de muitas ocasiões, encontram empeços e tribulações que desconheces. E, em muitos casos, precisam de tua paz a fim de que se entrosem no campo de determinadas obrigações.

Compadece-te dos corações queridos a que te vinculas.

Apesar do imenso afeto que te consagram, em certos lances da estrada humana, são eles chamados a resgates e provas, por vezes difíceis, e de que nem sempre se desvencilham senão com largas coberturas de trabalho e de tempo.

Amar é servir, compreender, auxiliar, abençoar, libertar...

Que o teu amor seja paz e vida, alegria e esperança naqueles a quem ofertas dedicação e carinho.

Não te permitas entravar os passos dos entes queridos com grilhões psicológicos, porque toda afeição possessiva é sinônimo de sofrimento.

Ama e obterás a bênção do amor.

Compreende e colherás compreensão.

E se em teu devotamento surgirem crises de apreensão e medo, perante as lutas dos seres amados, procura esquecer receios e inquietações, amparando a cada um, na fonte viva da prece, a recordar, antes de tudo, que eles e nós pertencemos a Deus.


***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Buscas e Acharás


SUGESTÕES DE PAZ


Aceita, na Terra, a existência que a Divina Sabedoria te confiou, mantendo-te na atitude do cultivador que se consagra sinceramente ao trato de solo que lhe cabe lavrar.
*
Quando e quanto se te faça possível, auxilia aos companheiros de experiência, sem absorver-lhes as responsabilidades.
*
Se alguns daqueles que te compartilham a paisagem se mostrarem desinteressados, quanto as obrigações que lhes competem ou se desorganizarem as tarefas que lhes dizem respeito, ajuda-os no reajuste desejável, sem tisnar-lhes o livre arbítrio, mas não te lamentes se não conseguires fazer isso, de vez que todos responderemos pelos nossos próprios encargos.
*
Ama aos familiares e aos entes queridos sem vinculá-los a qualquer exigência e sejamos agradecidos aos que nos estendam compreensão e bondade.
*
Não aspires a retificar apressadamente os outros, quando os consideres errados, segundo os teus pontos de vista, porque também nós, quando em erro, nem sempre admitimos corrigendas imediatas.
*
Quando ofensas te espancarem o coração, esquece todo mal, recordando quantas vezes teremos ferido impensadamente aos outros e não conserves mágoas que te envenenariam a vida.
*
Não imponhas o teu ideal de felicidade àqueles que estimas, de vez que a felicidade das criaturas varia sempre conforme o degrau evolutivo em que se encontrem.
*
Diante de opiniões alheias, respeita no próximo o direito de emiti-las conquanto nem sempre te sintas no dever de adotá-las, reconhecendo que os pensamentos de nossos vizinhos podem ser diferentes dos nossos.
*
Em matéria de fé, procura acatar o modo pelo qual esse ou aquele irmão se coloca à busca de Deus, porque, se para cada cidade terrestre dispomos de trilhas numerosas, imagina quantas vias de acesso existirão para o acesso aos Lugares Divinos.
*
Administra com equilíbrio e abnegação os bens materiais e espirituais que a Eterna Bondade te situou nas mãos, entretanto, não olvides que a tua permanência na Terra guarda por objetivo essencial, acima de tudo, ensinar-te a ser um Espírito Sublimado para a Verdadeira Vida, além da morte, e que, um dia, partirás do mundo, carregando contigo unicamente os valores que houverdes entesourado dentro de ti.
*
Quanto puderes, como puderes e onde puderes, guardando a consciência tranqüila, trabalha servindo sempre. Assim agindo, ainda que não percebas, desde agora, estarás, imperturbavelmente, nos domínios da paz.

***
Espírito: Emmanuel
Médium: Chico Xavier
Livro: Buscas e Acharás


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A PÁTRIA DO EVANGELHO


D. Henrique de Sagres abandonou as suas atividades na Terra em 1460.

Estava realizado, em linhas gerais, o seu grande destino. Da sua casa modesta da Vila-Nova do Infante, onde se encontra ainda hoje uma placa comemorativa, como perene homenagem ao grande navegador, desenvolvera ele, no mundo inteiro, um sentimento novo de amor ao desconhecido. Desde a expedição de Ceuta, o Infante deixou transparecer, em vários documentos que se perderam nos arquivos da Casa de Avis, que tinha a certeza da existência das terras maravilhosas, cuja beleza haviam contemplado os seus olhos espirituais, no passado longínquo. Toda a sua existência de abnegação e ascetismo constituíra uma série de relâmpagos luminosos no mundo de suas recordações. A prova de que os seus estudos particulares falavam da terra desconhecida é que o mapa de André Bianco, datado de 1448, mencionava uma região fronteira à África. Para os navegadores portugueses, portanto, a existência da grande ilha austral já não era assunto ignorado.

Novamente no Além, o antigo mensageiro do Mestre não descansou, chamando a colaborar com ele numerosas falanges de trabalhadores devotados à causa do Evangelho do Senhor. Procura influenciar sobre o curto reinado de D. Duarte estendendo, com os seus cooperadores, essa mesma atuação ao tempo de D. Afonso V, sem lograr uma ação decisiva a favor das empresas esperadas. Aproveitando o sonho geral dos tesouros das índias, a personalidade do Infante se desdobra, com o objetivo de descortinar o continente novo ao mundo político do Ocidente. Enquanto a sua atuação encontra fraco eco junto às administrações de sua terra, o povo de Castela começa a preocupar-se seriamente com as idéias novas, lançando-se à disputa das riquezas entrevistas. Eleva-se então ao poder D. João H, cujo remado se caracterizou pela previdência e pela energia realizadora. Junto do seu coração, o emissário invisível encontra grandes aspirações, irmãs das suas. O Príncipe Perfeito torna-se o dócil instrumento do mensageiro abnegado. A mesma sede de além lhe devora o pensamento. Expedições diversas se organizam. O castelo de São Jorge é fundado por Diogo de Azambuja, na Costa da Mina;

Diogo Cão descobre toda a costa de Angola; por toda parte, sob o olhar protetor do grande rei, aventuram-se os expedicionários. Mas o espírito, em todos os planos e circunstâncias da vida, tem de sustentar as maiores lutas pela sua purificação suprema. Entidades atrasadas na sua carreira evolutiva se unem contra as realizações do príncipe ilustre. Depois do desastre no Campo de Santarém, no qual o filho perde a vida em condições trágicas, surgem outras complicações entre a sua direção justiceira e os nobres da época, e D. João II morre envenenado em Alvor, no ano de 1495.

Todavia, os planos da Escola de Sagres estavam consolidados. Com a ascensão de D. Manuel I ao poder, nada mais se fez que atingir o fim de longa e laboriosa preparação.

Em 1498, Vasco da Gama descobre o caminho marítimo das índias e, um pouco mais tarde, Gaspar de Corte Real descobre o Canadá. Todos os navegadores saem de Lisboa com instruções secretas quanto à terra desconhecida, que se localizava fronteira à África e que já havia sido objeto de protesto de D. João II contra a bula de Alexandre VI, que pretendia lhe impor restrições ao longo do Atlântico, por sugestão dos reis católicos da Espanha.

No dia 7 de março de 1500, preparada a grande expedição de Cabral ao novo roteiro das índias, todos os elementos da expedição, encabeçados pelo capitão-mor, visitaram o Paço de Alcáçova, e na véspera do dia 9, dia este em que se fizeram ao mar, imploraram os navegadores a bênção de Deus, na ermida do Restelo, pouso de meditação que a fé sincera de D. Henrique havia edificado. O Tejo estava coberto de embarcações engalanadas e, entre manifestações de alegria e de esperança, exaltava-se o pendão glorioso das quinas.

No oceano largo, o capitão-mor considera a possibilidade de levar a sua bandeira à terra desconhecida do hemisfério sul. O seu desejo cria a necessária ambientação ao grande plano do mundo invisível. Henrique de Sagres aproveita esta maravilhosa possibilidade.

Suas falanges de navegadores do Infinito se desdobram nas caravelas embandeiradas e alegres. Aproveitam-se todos os ascendentes mediúnicos. As noites de Cabral são povoadas de sonhos sobrenaturais e, insensivelmente, as caravelas inquietas cedem ao impulso de uma orientação imperceptível. Os caminhos das índias são abandonados. Em todos os corações há uma angustiosa expectativa. O pavor do desconhecido empolga a alma daqueles homens rudes, que se viam perdidos entre o céu e o mar, nas imensidades do Infinito. Mas, a assistência espiritual do mensageiro invisível, que, de fato, era ali o divino expedicionário, derrama um claror de esperança em todos os ânimos. As primeiras mensagens da terra próxima recebem-nas com alegria indizível. As ondas se mostram agora, amiúde, qual colcha caprichosa de folhas, de flores e de perfumes. Avistam-se os píncaros elegantes da plaga do Cruzeiro e, em breves horas, Cabral e sua gente se reconfortam na praia extensa e acolhedora. Os naturais os recebem como irmãos muito amados. A palavra religiosa de Henrique Soares, de Coimbra, eles a ouvem com veneração e humildade. Colocam suas habitações rústicas e primitivas à disposição do estrangeiro e reza a crônica de Caminha que Diogo Dias dançou com eles nas areias de Porto Seguro, celebrando na praia o primeiro banquete de fraternidade na Terra de Vera Cruz.

A bandeira das quinas desfralda-se então gloriosamente nas plagas da terra abençoada, para onde transplantara Jesus a árvore do seu amor e da sua piedade, e, no céu, celebra-se o acontecimento com grande júbilo. Assembléias espirituais, sob as vistas amorosas do Senhor, abençoam as praias extensas e claras e as florestas cerradas e bravias. Há um contentamento intraduzível em todos os corações, como se um pombo simbólico trouxesse as novidades de um mundo mais firme, após novo dilúvio.

Henrique de Sagres, o antigo mensageiro do Divino Mestre, rejubila-se com as bênçãos recebidas do céu. Mas, de alma alarmada pelas emoções mais carinhosas e mais doces, confia ao Senhor as suas vacilações e os seus receios:

Mestre — diz ele — graças ao vosso coração misericordioso, a terra do Evangelho florescerá agora para o mundo inteiro. Dai-nos a vossa bênção para que possamos velar pela sua tranqüilidade, no seio da pirataria de todos os séculos. Temo, Senhor, que as nações ambiciosas matem as nossas esperanças, invalidando as suas possibilidades e destruindo os seus tesouros...

Jesus, porém, confiante, por sua vez, na proteção de seu Pai, não hesita em dizer com a certeza e a alegria que traz em si:

Helil, afasta essas preocupações e receios inúteis. A região do Cruzeiro, onde se realizará a epopeia do meu Evangelho, estará, antes de tudo, ligada eternamente ao meu coração. As injunções políticas terão nela atividades secundárias, porque, acima de todas as coisas, em seu solo santificado e exuberante estará o sinal da fraternidade universal, unindo todos os espíritos. Sobre a sua volumosa extensão pairará constantemente o signo da minha assistência compassiva e a mão prestigiosa e potentíssima de Deus pousará sobre a terra de minha cruz, com infinita misericórdia. As potências imperialistas da Terra esbarrarão sempre nas suas claridades divinas e nas suas ciclópicas realizações.

Antes de o estar ao dos homens, é ao meu coração que ela se encontra ligada para sempre.

Nos céus imensos, havia clarões estranhos de uma bênção divina. No seu sólio de estrelas e de flores, o Supremo Senhor sancionara, por certo, as bondosas promessas de seu Filho.

E foi assim que o minúsculo Portugal, através de três longos séculos, embora preocupado com as fabulosas riquezas das índias, pôde conservar, contra flamengos e ingleses, franceses e espanhóis, a unidade territorial de uma pátria com oito milhões e meio de quilômetros quadrados e com oito mil quilômetros de costa marítima. Nunca houve exemplo como esse em toda a história do mundo. As possessões espanholas se fragmentaram, formando cerca de vinte repúblicas diversas. Os Estados americanos do norte devem sua posição territorial às anexações e às lutas de conquista. A Louisiana, o Novo México, o Alasca, a Califórnia, o Texas, o Oregon, surgiram depois da emancipação das colônias inglesas. Só o Brasil conseguiu manter-se uno e indivisível na América, entre os embates políticos de todos os tempos. É que a mão do Senhor se alça sobre a sua longa extensão e sobre as suas prodigiosas riquezas. O coração geográfico do orbe não se podia fracionar.


***
Espírito: Humberto de Campos
Médium: Chico Xavier
Livro: Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

JOANA DE CUZA e JESUS


Entre a multidão que invariavelmente acompanhava a Jesus nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de Joana, consorte de Cuza, intendente de Antipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores.

Joana possuía verdadeira fé; entretanto, não conseguiu se forrar às amarguras domésticas, porque seu companheiro de lutas não aceitava as claridades do Evangelho.

Considerando seus dissabores íntimos, a nobre dama procurou o Messias, numa ocasião em que ele descansava em casa de Simão e lhe expôs a longa série de suas contrariedades e padecimentos. O esposo não tolerava a doutrina do Mestre. Alto funcionário de Herodes, em perene contato com os representantes do Império, repartia as suas preferências religiosas, ora com os interesses da comunidade judaica, ora com os deuses romanos, o que lhe permitia viver em tranquilidade fácil e rendosa. Joana confessou ao Mestre os seus temores, suas lutas e desgostos no ambiente doméstico, expondo suas amarguras em face das divergências religiosas existentes entre ela e o companheiro.

Após ouvir-lhe a longa exposição, Jesus lhe ponderou:

 Joana, só há um Deus, que é o Nosso Pai, e só existe uma fé para as nossas relações com o seu amor. Certas manifestações religiosas, no mundo, muitas vezes não passam de vícios populares nos hábitos exteriores. Todos os templos da Terra são de pedra; eu venho, em nome de Deus, abrir o templo da fé viva no coração dos homens. Entre o sincero discípulo do Evangelho e os erros milenários do mundo, começa a travar-se o combate sem sangue da redenção espiritual. Agradece ao Pai o haver-te julgado digna do bom trabalho, desde agora. Teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligada a ele se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação, estarás cumprindo a vontade de Deus.

Falas-me de teus receios e de tuas dúvidas. Deves, pelo Evangelho, amá-la ainda mais. Os sãos não precisam de médico. Além disso, não poderemos colher uvas nos abrolhos, mas podemos amanhar o solo que produziu cardos envenenados, a fim de cultivarmos nele mesmo a videira maravilhosa do amor e da vida.

Joana deixava entrever no brilho suave dos olhos a íntima satisfação que aqueles esclarecimentos lhe causavam; mas, patenteando todo o seu estado da alma, interrogou:

 Mestre, vossa palavra me alivia o espírito atormentado; entretanto, sinto dificuldade extrema para um entendimento recíproco no ambiente do meu lar. Não julgais acertado que lute por impor os vossos princípios? Agindo assim, não reformarei o meu esposo para o céu e para o vosso reino?

O Cristo sorriu serenamente e retrucou:

 Quem sentirá mais dificuldade em estender as mãos fraternas, será o que atingiu as margens seguras do conhecimento com o Pai, ou aquele que ainda se debate entre as ondas da ignorância ou da desolação, da inconstância ou da indolência do espírito? Quanto à imposição das idéias – continuou Jesus, acentuando a importância de suas palavras – por que motivo Deus não impõe a sua verdade e o seu amor aos tiranos da Terra? Por que não fulmina com um raio o conquistador desalmado que espalha a miséria e a destruição, com as forças sinistras da guerra? A sabedoria celeste não extermina as paixões: transforma-as. Aquele que semeou o mundo de cadáveres desperta, às vezes, para Deus, apenas com uma lágrima. O Pai não impõe a reforma a seus filhos : esclarece-os no momento oportuno. Joana, o apostolado do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção. Sê fiel a Deus, amando ao teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!... Esforça-te também no silêncio e, quando convocada ao esclarecimento, fala o verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias! Volta ao lar e ama ao teu companheiro como o material divino que o céu colocou em tuas mãos para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!...

Joana do Cuza experimentava um brando alívio no coração. Enviando a Jesus um olhar de carinhoso agradecimento, ainda lhe ouviu as últimas palavras: – Vai, filha!... Sê fiel!

***

Desde esse dia, memorável para a sua existência, a mulher de Cuza experimentou na alma a claridade constante de uma resignação sempre pronta ao bom trabalho e sempre ativa para a compreensão de Deus, como se o ensinamento do Mestre estivesse agora gravado indelevelmente em sua alma, considerou que, antes de ser esposa na Terra, já era filha daquele Pai que, do Céu, lhe conhecia a generosidade e os sacrifícios. Seu espírito divisou em todos os labores uma luz sagrada e oculta.

Procurou esquecer todas as características inferiores do companheiro, para observar somente o que possuía ele de bom, desenvolvendo, nas menores oportunidades, o embrião vacilante de suas virtudes eternas. Mais tarde, o céu lhe enviou um filhinho, que veio duplicar os seus trabalhos; ela, porém, sem olvidar as recomendações de fidelidade que Jesus lhe havia feito, transformava suas dores num hino de triunfo silencioso em cada dia.

Os anos passaram e o esforço perseverante lhe multiplicou os bens da fé, na marcha laboriosa do conhecimento e da vida. As perseguições políticas desabaram sobre a existência do seu companheiro. Joana, contudo, se mantinha firme. Torturado pelas ideias odiosas de vingança, pelas dívidas insolváveis, pelas vaidades feridas, pelas moléstias que lhe verminaram o corpo, o ex-intendente de Antipas voltou ao plano espiritual, numa noite de sombras tempestuosas. Sua esposa, todavia, suportou os dissabores mais amargos, fiel aos seus ideais divinos edificados na confiança sincera. Premida pelas necessidades mais duras, a nobre dama de Cafarnaum procurou trabalho para se manter com o filhinho, que Deus lhe confiara! Algumas amigas lhe chamaram a atenção, tomadas de respeito humano. Joana, no entanto, buscou e esclarecê-las, alegando que Jesus, igualmente, havia trabalhado, calejando as mãos nos serrotes de uma carpintaria singela e que, submetendo-se ela a uma situação de subalternidade no mundo, se dedicara primeiramente ao Cristo, de quem se havia feito escrava devotada.

Cheia de alegria sincera, a viúva de Cuza esqueceu o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão. Mais tarde, quando a neve das experiências do mundo lhe alvejou os primeiros anéis da fronte, uma galera romana a conduzia em seu bojo, na qualidade de serva humilde.

***

No ano 68, quando as perseguições ao Cristianismo iam intensas, vamos encontrar, num dos espetáculos sucessivos do circo, uma velha discípula do Senhor amarrada ao poste do martírio, ao lado de um homem novo, que era seu filho.

Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações.

 Abjura!... – Exclama um executar das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio.

Mas, a antiga discípula ao Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas: – “Repudia a Jesus, minha mãe!...

Não vês que nos perdemos?! Abjura!... Por mim que sou teu filho!...”

Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angústia que lhe retalham o coração.

 Abjura!... Abjura!

Joana ouve aqueles gritos, recordando a existência inteira. O lar risonho e festivo, as horas de ventura, os desgostos domésticos, as emoções maternais, os fracassos do esposo, sua desesperação e sua morte, a viuvez, a desolação e as necessidades mais duras... Em seguida, ante os apelos desesperados do filhinho, recordou que Maria também fora mãe e, vendo o seu Jesus crucificado no madeiro da infâmia, soubera conformar-se com os desígnios divinos. Acima de todas as recordações, como alegria suprema de sua vida, pareceu-lhe ouvir ainda o Mestre, em casa de Pedro, a lhe dizer: – “Vai filha! Sê fiel!” Então, possuída de força sobre humana, a viúva de Cuza contemplou a primeira vítima ensanguentada e, fixando no jovem um olhar profundo e inexprimível, na sua dor e na sua ternura, exclamou firmemente:

 Cala-te, meu filho! Jesus era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mando, é preciso ser fiel a Deus!

A esse tempo, com os aplausos delirantes do povo, os verdugos incendiavam, em derredor, achas de lenha embebidas em resina inflamável.Em poucos instantes, as labaredas lamberam-lhe o corpo envelhecido. João de Cuza contemplou, com serenidade, a massa de povo que lhe não entendia o sacrifício. Os gemidos de dor lhe morriam abafados no peito opresso. Os algozes da mártir cercaram-lhe de impropérios a fogueira:

 O teu Cristo soube apenas ensinar-te a morrer? – Perguntou um dos verdugos.

A velha discípula, concentrando a sua capacidade de resistência, teve ainda forças para murmurar:

 Não apenas a morrer, mas também a vos amar!...

Nesse instante, sentiu que a mão consoladora do Mestre lhe tocava suavemente os ombros, e lhe escutou a voz carinhosa e inesquecível:

 Joana, tem bom ânimo!... Eu aqui estou! …


***
Espíritos: Irmão 'X' e Humberto de Campos
Do livro: Boa Nova.
Psicografia de: Francisco Cândido Xavier.