O príncipe Sidartha Gautama, já na fase de sua vida em que vivia numa humilde cabana e era conhecido como O Iluminado (O Buda), ouviu uma voz cheia de aflição que o chamava, de fora. Ao sair, o Buda se deparou com uma senhora relativamente jovem que, abraçada a uma criança que carregava, aparentava uma fisionomia de grande desespero. Logo, o Mestre percebeu que a crinça que a mulher abraçava estava morta.
Disse-lhe então a humilde senhora:
-Ó Iluminado! Sou uma mulher do povo, uma mulher simples que não teve muitas alegrias e bens na vida. A única riqueza que os céus me concederam foi este filho, que agora trago morto em meus braços. Mestre, acabo de perder a razão que tinha de viver, a luz que me conduzia pelos caminhos difíceis da vida.
O Buda olhava para aquele quadro, tomado de profunda compaixão e, com certeza, pensando no despreparo com que a maioria das gentes faz a travessia desta vida.
-Trago-lhe minha criança, Mestre, porque preciso que o senhor a ressuscite; necessito que a faça reviver e falar comigo, pois do contrário não terei forças para continuar viva eu própria.
A mulher, estendendo a criança morta para entregá-la ao Buda, fazia brilhar nos olhos lacrimosos a sua última e mais angustiosa esperança. O Mestre tomou aquele corpinho frio em seus braços, com cuidado e suavidade. Olhando bem para aquela mulher desfeita, disse-lhe serenamente:
-Deixe a sua criança nos meus braços, irmanzinha. Vamos, porém, precisar de “oferenda” para devolvê-la à vida; então, pegue dentro de minha casa uma vasilha, uma cuia que ali está, e saia de casa em casa por esses povoados pedindo, de cada um, um pouco de arroz para a “oferenda”. Volte, então, aqui onde estou quando a cuia estiver cheia de arroz. Isto feito, poderei ajudá-la a ter sua criança de volta à vida e ao calor de seus carinhos.
Entraram ambos no casebre, a mulher pegou a vasilha indicada e se foi pelo caminho. Ao longo de dois dias andou pelas aldeias, batendo em portas até então desconhecidas e suplicando arroz. Como as famílias eram comedidas para comer, na região, ofereciam pequenos punhados de arroz, mas ofereciam-nos com grande sentimento de solidariedade.
Ao cair do sol do segundo dia, a mulher retornou à morada do Iluminado; estava visivelmente cansada e tinha uma expressão diferente no semblante. O Buda e ela se olharam longamente e a mulher disse:
-Mestre, eis aqui a “oferenda. A vasilha está cheia de arroz, todo ele dado de bom coração. Mas agora, ó Iluminado, eu lhe venho pedir outra coisa: peço-lhe que providencie a cremação do corpo de meu filho. É que percorri aldeias, andei por tantas casas e encontrei tanto sofrimento em minha peregrinação, que descobri que não sou a única pessoa que sofre neste mundo, nem sou tampouco a única que perdeu um filho amado. Então, compreendi tudo, senhor.
O Buda juntou as mãos espalmadas como em prece, curvou sua venerada cabeça, dedicando aquele momento à humanidade inteira.
(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)
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