O Arrebol Espírita

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

BRINCAR COM OS FILHOS É COISA SÉRIA



UTILIDADE PÚBLICA


A participação dos pais nas brincadeiras é fundamental para o desenvolvimento das crianças. O intervalo de tempo entre a gestação e os três anos de vida é crucial para o desenvolvimento de um indivíduo. Além de ser período de produção de neurônios, as experiências vividas nessa fase ajudam a moldar os circuitos e a arquitetura do cérebro, estruturando formas de pensar, agir e sentir. É nesse contexto que as brincadeiras infantis assumem papel estratégico, mais ainda quando contam com a participação dos pais.

Brincadeiras são formas de as crianças conhecerem, experimentarem e entenderem o mundo. São estímulos que colocam o sistema nervoso para funcionar, contribuindo para o desenvolvimento das habilidades motoras, raciocínio lógico, linguagem, socialização, imaginação, emoções, autoestima e autonomia da criança. Ao participar desse processo lúdico, os pais assumem a função de moldadores desse desenvolvimento.

“O desenvolvimento de uma criança dependerá dos vínculos que os pais estabelecerem com ela. Uma criança precisa de estímulos. Se ficar o tempo todo em um berço, certamente suas aquisições motoras irão se atrasar. A mesma coisa acontece com a linguagem, se ela não for estimulada. Não existe desenvolvimento automático”, afirma o dr. Saul Cypel, neuropediatra do Einstein, especialista em neurodesenvolvimento infantil e consultor da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, organização que tem como foco principal gerar e disseminar conhecimentos sobre o desenvolvimento da primeira infância.

“Muitas vezes, dizemos aos pais coisas óbvias como: ‘é importante você brincar com o seu filho’. O mais importante, porém, é dizer para eles o que isso significa, isto é, evidenciar a responsabilidade deles nesse processo de estruturação psíquica que servirá de base para o desenvolvimento global de um indivíduo”, acrescenta o médico.

Ao brincar, pais e filhos fortalecem seus vínculos. Juntos, associam o processo de aprendizagem e amadurecimento do cérebro a uma trama interpessoal afetuosa, além de transformar o lúdico numa linguagem para a exploração e fortalecimento da função cognitiva. Por meio de jogos, por exemplo, as crianças são expostas às regras, seu raciocínio lógico é exigido e as questões emocionais são desenvolvidas.

Numa brincadeira na qual a criança aprende ao lado dos pais a desempenhar uma função, como encaixar pecinhas em um jogo, ela descobre também como lidar com emoções como a frustração e a satisfação, por exemplo. Assim, vai modelando a estrutura psíquica (criação de conexões cerebrais em função de determinadas experiências) que norteará seus comportamentos.
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As brincadeiras são também instrumentos para que os pais conheçam melhor seus filhos. “Os aspectos emocionais em desenvolvimento podem estar projetados nas brincadeiras. Num jogo, a criança vai atacar ou ficar na defensiva? Como ela vai lidar com as frustrações do próprio jogo? Isso fala muito de uma criança”, exemplifica Melina Blanco Amarins, psicóloga do Einstein.

Desse modo, fica evidente que a questão nunca é brincar por brincar. “O importante é a relação que se estabelece nas brincadeiras”, ressalta dr. Cypel. Quando o adulto brinca com a criança, ela vivencia a experiência amorosa com o outro. “Sendo um meio de comunicação, é nesse brincar que a criança experimenta o conforto e se sente acolhida. Esse processo de aprendizado é vital para desenvolvimento da confiança e autoestima, base para a construção de futuros relacionamentos positivos e afetuosos”, acrescenta Melina.

No universo das brincadeiras, a principal regra é o bom senso. Estímulo exagerado provoca estresse. Incentivo demais a tarefas para as quais não está preparada, expõe a criança desnecessariamente à situação de fracasso. Isso gera ansiedade e acentua ainda mais o estresse, agente pernicioso para o desenvolvimento neurológico. Pesquisas científicas demonstram que o estresse prolongado traz prejuízos funcionais.

Recomendam-se brincadeiras que estimulem o corpo, os sentidos e a imaginação. São recursos simples e baratos. Passeios em parques, livros de história, jogos e brinquedos com estímulos sonoros e que propiciem experiências táteis, por exemplo. Crianças na faixa dos 3 ou 4 anos já estão prontas para filmes e teatros infantis. Brinquedos e recursos tecnológicos mais sofisticados têm o seu valor, desde que empregados de maneira adequada em termos de tempo e daquilo que a criança possa realmente usufruir.

Os conhecimentos científicos acumulados sobre a importância do elo entre relacionamentos, brincadeiras e estruturação psíquica infantil já estão estimulando no Brasil uma série de políticas públicas nos níveis federal, estadual e municipal voltadas ao desenvolvimento integral das crianças. São iniciativas que desenham uma nova posição e significação social das brincadeiras e da interação entre pais e filhos. O objetivo é sensibilizar pais sobre a importância e necessidade do estabelecimento desses vínculos como promotores do desenvolvimento.

“Sem o desenvolvimento adequado da criança, não se promove a autonomia de que ela necessita e a sua capacidade de pensar. Às vezes temos crianças de 5 anos que, do ponto de vista emocional, têm metade dessa idade. Essa criança seguirá imatura e, se não ocorrerem transformações no processo de desenvolvimento, haverá alterações comportamentais”, diz o dr. Cypel.

As implicações negativas podem redundar em indivíduos egocêntricos, ansiosos, com déficit de atenção, hiperativos e/ou incapazes de lidar com regras ou hierarquias. “Também vemos crianças retraídas, tímidas e com dificuldades de relacionamento e aprendizado”, completa a psicóloga Melina. Se não forem enfrentados na infância, os indivíduos podem transportar esses problemas para a adolescência e vida adulta, exigindo, em alguns casos, futuros tratamentos psicoterápicos. “Os reflexos das condições de desenvolvimento na infância podem ser observados mais tarde em adultos com enorme dificuldade de perceber e ouvir o outro, incapazes de convivência social. Outros apresentarão incapacidade executiva, ou de organização e planejamento, entre outros problemas”, afirma o dr. Cypel.

Em resumo, brincar é fundamental. Mas, nos primeiros anos de vida, o mais importante é que essas brincadeiras sejam a expressão de bons vínculos entre pais e filhos. Essas relações são o celeiro para a geração de adultos psiquicamente saudáveis, menos ansiosos, capazes de agir com autonomia e segurança, de buscar seus objetivos, e também de lidar com as regras, os limites e as suas próprias emoções.

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Fonte:Dr. Saul Cypel, neuropediatra do Einstein - CRM:14360


(a)  RONALDO COSTA (O Arrebol Espírita)

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