“ Quem me conhece sabe que não sou do tipo de ficar
jogando pedras em ninguém, pois não me sinto com capacidade de julgar quem quer
que seja, sou, ainda, muito falho. Porém tenho o dever de zelar pela
preciosidade que Deus me ofereceu: o Espiritismo.
Como todos os divulgadores da doutrina, procuro
acompanhar o nosso movimento através de jornais, revistas e, sobretudo, da
internet. Confesso que, em observando algumas iniciativas atuais de alguns
dirigentes, mesmo entendendo “suas razões”, tenho ficado um tanto preocupado
com aquilo que o Chico Xavier mais temia: ver o movimento espírita se tornar
elitista.
Sei
que o movimento espírita é constituído em boa parte por pessoas mais
intelectualizadas, mas isso não impede de nos voltarmos para o caminho da
humildade e da caridade que somos convidados, doutrinariamente, a vivenciar.
Estou
observando, por exemplo, que eventos pomposos estão sendo realizados em nome de
uma doutrina que nos chama para uma vivência puramente cristã, como acontecia
na época de Jesus, onde todo espírito vibrava fraternidade e estava voltado
para o bem coletivo. Afinal, o Espiritismo é ou não é a
revivescência do Cristianismo? Precisamos aprender a conviver nos momentos
corriqueiros, nas dificuldades e desfrutar dos banquetes espirituais em
conjunto, apesar das diferenças que nos assinalam, pois só assim vamos viver
harmoniosamente.
E o que estamos fazendo? Parece-me que estamos, atualmente,
caminhando no sentido contrário. Programando atividades onde somente os mais
endinheirados podem participar. E os nossos irmãos mais pobres em moedas, onde
ficam? Somente nas cadeiras dos centros ouvindo os intelectuais e na hora de um
evento maior não podem participar? Ou então, no fundo das cozinhas dando duro e
longe dos ensinamentos ministrados no recinto luxuoso? E aqueles que só podem
ir para ficar guardando os carros dos chefões doutrinários?
Ah!... Mas estamos num mundo material e, aqui, tudo custa
dinheiro: alguns argumentam. Sim. Correto. Mas se desejarmos fazer um evento
grandioso, deveríamos então nos programar melhor e, o grupo interessado na sua
realização, buscar outras fontes de rendas para o custeio, seja com trabalho
próprio, patrocínios e outras iniciativas justas e coerentes, sem prejudicar,
com isso, a participação daqueles que não podem pagar e/ou comprar obras dos
oradores famosos.
Muitos companheiros, felizmente, já fazem isso. Temos bons exemplos de
excelentes eventos, com a participação dos mais renomados oradores, cantores
que são realizados graciosamente e alguns, inclusive, são feitos até em lugares
públicos, onde toda e qualquer pessoa pode participar sem nenhum
constrangimento e taxa.
Esse deve ser o movimento espírita como idealizou Allan Kardec e depois
os seus mais legítimos seguidores.
Fico imaginando Cairbar Schutel, Eurípedes Barsanulfo,
Batuira, Dr. Bezerra e tantos outros exemplos de vivência cristã e dedicação
que tivemos no movimento espírita, se hoje estivessem reencarnados, realizariam
ou participariam de alguma atividade espírita cobrando taxa dos interessados?
Evidentemente que não, pois testemunharam a grandeza espiritual de que são
portadores, exatamente pelo amor a doutrina, desprendimento e devotamente ao
espírito coletivo.
Será que Allan Kardec aceitaria realizar uma
palestra ou algum seminário, onde a compra de suas obras seria obrigatória para
se participar?
Com certeza, jamais ele aceitaria participar de algo tão materialista e
tão contrário aos seus ideais. Sua meta era e é, tão
somente, corroborar para a espiritualização de todos,
indistintamente.
O endeusamento de palestrantes e médiuns está, cada vez mais, tomando
conta do movimento espírita. Sabemos que isso é, por demais, prejudicial à
evolução dos mesmos, mas continuamos a endeusa-los. Triste engano e mais triste
ainda é ver que muitos deles aceitam, até com alegria, serem tratados como
celebridades ou Pop Star.
Alguns se esquecem de que mais será cobrado daquele que mais recebeu. Que
outros trouxeram o trabalho por misericórdia divina, pois pediram clemência
para não terem que suportar tantas dores no mundo, se colocando para resgatarem
seus débitos, levando mensagens espiritualizadas que eles próprios são os
primeiros que precisam conscientizá-las.
Dias atrás vi uma propaganda de um evento espírita que acontecerá no
nordeste que me deixou de queixo caído. Para participar do referido trabalho, o
interessado deverá pagar R$ 100.00 por palestra, recebendo duas obras do
palestrante do dia, podendo pagar até em três vezes no cartão de crédito. Pense
bem: Por esse valor de entrada pode-se assistir os megas shows envolvendo os
melhores artistas brasileiros.
Onde estamos? O que é isso? Será que o Cristo, sobretudo num momento em que a
Terra está passando por duros abalos materialistas, precisando de Sua mensagem
com urgência, apoiará um evento como esse? Será que os Benfeitores estarão,
mesmo, dando cobertura a essa gente? Só mesmo se for pela misericórdia divina,
pois pela razão ficariam todos ao bel prazer de seus atos materialistas.
Vamos fazer eventos onde todos podem participar sem constrangimento e sem o
espírito separatista. Se não puder fazer suntuoso, que seja simples e rico de
alegria cristã. Se for cobrar algo, que seja simbólico para
alimentação, mas de preferência que seja aberto a toda gente.
Vamos exaltar a espiritualidade, a fraternidade que
estamos sendo convidados a desenvolver em nossa humanidade e não a nossa
materialidade orgulhosa! Pense nisso.
***

É autor de dois livros: Vencendo
Dificuldades de Relacionamento e Um Perfume Inesquecível (romance
do Espírito Otília). Está lançando Coração Mineiro – Uma Reencarnação
em Busca da Humildade (também um romance do Espírito Otília).
*
(a) RONALDO COSTA (O Arrebol Espírta)
Nenhum comentário:
Postar um comentário