O Arrebol Espírita

sábado, 7 de dezembro de 2013

OS MORTOS SE MANIFESTAM

As investigações atinentes à natureza e sobrevivência da alma devem ser feitas com o método idêntico ao das demais pesquisas científicas, livres de prejuízos e preconceitos e fora de toda e qualquer influência sentimental ou religiosa. Há, ou não há manifestação de mortos? Essa a questão. Ora, eu digo que há. O Jornal, no qual me orgulho de haver colaborado, ao tempo do seu fundador, meu espiritual amigo Xau, chamou a atenção para este problema secular, e assim venho oferecer aos seus leitores um fato dos que melhor me provaram a sobrevivência da alma. Ao mais céptico dos contraditores, desafio a sua explicação sem que admita a ação do defunto. Trata-se de um engenheiro e proprietário de duas fábricas, uma em Glasgow, outra em Londres. Na fábrica escocesa, tinha ele um empregado de nome Roberto Mackenzie, que lhe era profundamente reconhecido e devotado. O patrão residia em Londres. Uma sexta-feira, à noite, os operários de Glasgow davam o seu baile anual. Roberto Mackenzie, que não gostava de dançar, pediu licença para ficar no serviço do bufê. Tudo correu bem e a festa continuou no sábado. Na terça-feira seguinte, pouco antes de 8 horas, o engenheiro teve na sua casa de Campden-Hill a seguinte manifestação, que ele mesmo resumiu assim: “Sonhei que estava assentado junto de uma escrivaninha e conversava com um rapaz desconhecido. Roberto Mackenzie aproximou e eu, contrariado, perguntei-lhe um tanto áspero se me não via ocupado. Afastou-se contrariado, mas logo se aproximou novamente, como se precisasse de atenção imediata. Repreendi-o, então, com maior aspereza, exprobrando-lhe a impertinência. Nesse ínterim, a pessoa com quem antes conversava despediu-se e Mackenzie aproximando-se mais...
Que é isso Roberto? – disse-lhe irritado. – Não vês que estou ocupado?
Sim – respondeu –, mas é que eu preciso falar-lhe imediatamente...
Mas a que propósito? Que urgência é essa?
Quero dizer-lhe que estou sendo acusado por um feito que não pratiquei e necessito que o senhor o saiba e me exculpe do que me atribuem, porque estou inocente. – Depois, acrescentou: – não fiz o que eles dizem...
Mas, que foi? – repliquei ainda.
Repetiu a mesma coisa e então lhe perguntei naturalmente:
Mas, como te perdoar se não sei de que te acusam?
Jamais esquecerei o tom enfático da sua resposta em dialeto escocês: “Sabê-lo-eis em breve.” Minha pergunta foi feita, no mínimo, duas vezes e certo estou de que a resposta foi dada três vezes, da maneira mais expressiva. Nessa altura acordei, guardando certa inquietação do sonho tão singular. Não cogitava de qualquer significação, e eis que irrompe no quarto, minha mulher muito comovida, a agitar uma carta aberta e a exclamar:
Ah! James, que coisa horrível no baile dos operários... O Roberto suicidou!
Compreendendo o sentido da minha visão, repliquei-lhe tranquilizado e convicto:
Não, ele não se suicidou.
Como podes saber?
Porque ele me disse.
Quando ele apareceu – para não interromper a narrativa omiti este pormenor –, fiquei impressionado com o seu aspecto: o rosto azulado, de um azul desmaiado e a testa manchada como que de gotas de suor.
Eis o que ocorrera: Ao recolher-se, na noite de sábado, Mackenzie se enganara, tomando como de uísque uma garrafa de água-forte, e tendo de um trago ingerido um cálice, faleceu no domingo, em atrozes sofrimentos. Todos pensavam num suicídio e daí a sua manifestação, no intuito de desculpar-se. O mais curioso vem a ser que, procurando inteirar-me dos sintomas que produzem o envenenamento pela água-forte, verifiquei serem mais ou menos idênticos aos que apresentava a fisionomia de Roberto. A versão do suicídio não tardou a se desfazer, conforme carta do meu preposto na Escócia, recebida no dia imediato.
A meu ver, essa aparição pode ser atribuída ao profundo reconhecimento do rapaz, pelo fato de o haver tirado da miséria. Ele quereria conservar-se digno aos meus olhos.”
Eis a narrativa do industrial de Glasgow. Procurando revelar a verdade, a propósito de um pretenso suicídio, não prova esse operário a sobrevivência da alma? Convém assinalar, de passagem, que o suicídio é considerado crime, na Inglaterra.
Nós possuímos centenas de observações análogas, feitas por homens ponderados, que contam simplesmente o que se passou com eles. O único meio de fugir a explicações é negar os fatos, dizendo que são criações imaginárias, que as pretensas testemunhas mentiram. Ora, esse industrial de Glasgow era amigo de Gurney, um dos fundadores da Sociedade Inglesa de Investigações Psíquicas, que o conceituava e estimava como homem de bem a toda prova. Pois bem: a menos que acusemos de impostura todos os observadores, que os averbemos de visionários ou mais ou menos sandeus, havemos de admitir esses fatos, tal como admitimos a queda de um raio, caprichoso e inexplicado. Não se pode negar. Importa, antes, confessar francamente que há por aí toda uma ordem de coisas ainda desconhecidas às investigações cientificas. No caso particular que acabo de expor, esse rapaz, envenenado por equívoco, na noite de sábado para domingo, em Glasgow, apareceu na terça-feira seguinte, em Londres, ao seu patrão (que ignorava o fato) para lhe declarar que não se suicidara. Estava morto havia 48 horas. Ninguém poderá imaginar, nesse caso, a coincidência de um sonho tão exato e tão-pouco obra do acaso, ou o que quer que seja. Os que negam esses fatos são ignorantes, ilógicos, ou capciosos, de vez que, conhecendo-os, não atino como possam eliminar o ato do defunto.”
(Camille Flammarion)



(a) Ronaldo Costa (O ARREBOL ESPÍRITA)
https://www.facebook.com/durantdart

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